Artigo

A democracia na era das campanhas massivas de desinformação

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22

A terminologia Fake News ficou amplamente difundida e pode ser voluvelmente utilizada para se referir aos rumores insensatos ou aos que parecem verdadeiros, mas são inconsistentes. Coincidindo com sensos comuns ou com opiniões mais apaixonadas, são recebidas por aplicativos de conversa ou compartilhadas nas atualizações de milhões de pessoas em redes sociais e, mesmo depois de desmentidas por fontes confiáveis, continuam ressoando.

Especialistas que se debruçam sobre a questão, no entanto, defendem que a designação é imprópria, por já estar imbuída de uma conotação pejorativa, em parte decorrente de seu uso por políticos para criticar o jornalismo ou veículos de mídia, atividades essenciais a um regime democrático. Por isso, esses estudiosos sustentam que sua ocorrência no seio social seja denominada de forma mais genérica: desinformação.

E para quem imagina que a questão é nova, tais cientistas fazem logo questão de desfazer a imprecisão, pois se trata de um fenômeno existente antes de Cristo, desde que o verbo ganhou a boca de homens e mulheres.

No império Romano, por exemplo, Otávio propagou que Marco Antônio seria um sedutor ébrio. Já no império Bizantino, o historiador Procópio escreveu “História Secreta” com informações imprecisas sobre Teodora, esposa do imperador Constantino. Nestes dois casos da Antiguidade já é possível observar a conhecida estratégia de falsear informações de modo a tirar benefícios políticos.

Quem navegava na internet quando ela ainda era discada deve se lembrar que circulavam mensagens convidando seus destinatários a divulgá-las a fim de garantir doações a uma pessoa doente ou questionando a eficácia das vacinas. A novidade desse fenômeno de desinformação está na exponencial abrangência que os rumores podem ganhar, em diferentes âmbitos da sociedade, na exata medida em que se disseminam e se desenvolvem tecnologias da informação com amplo acesso à internet.

Tomando a questão do ponto de vista econômico, trata-se de um tipo de falha capaz de dificultar a tomada de decisões, já que a veracidade e exatidão das informações são ofuscadas. Existe, portanto, um sobressalto com os efeitos que podem sofrer diferentes domínios sociais face às campanhas de desinformação. Isso sem falar nos ataques odiosos à credibilidade de instituições políticas e públicas, à honra e privacidade de famosos ou anônimos e aos direitos humanos.

As circunstâncias que envolvem rumores falsos e informações imprecisas em torno da política ganharam, inclusive, uma preocupação que reuniu diferentes setores da sociedade, nas últimas eleições gerais brasileiras, com o intuito de evitar ofensa à escolha dos cidadãos, dissipando as discrepâncias e coibindo abusos.

Contudo, o impacto que a desinformação pode ter dificilmente é revertido, como veio a demonstrar um estudo divulgado por investigadores do MIT (Massachussets Institute of Tecnology) em 2018. Segundo concluíram, as notícias com conteúdo enganoso ou incorreto foram difundidas “de forma mais longínqua, rápida, profunda e ampla do que as verdadeiras”. A explicação para esse comportamento estava relacionada ao fato de que os falsos conteúdos pareciam mais atualizados e conferiam status de “quem está por dentro das novidades”.

Com as eleições municipais se descortinando, já se pode imaginar a quantidade de dados insubsistentes que circularão nas mídias digitais com plena capacidade de impactar a livre escolha do cidadão. Há uma novidade que, provavelmente, tornará o cenário ainda mais complexo: o uso de inteligências artificiais arrojadas, tema do meu artigo seguinte, que será aqui veiculado no próximo final de semana.

Bruno Duailibe

Juiz do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão, Graduado pela Universidade Federal do Maranhão, pós-graduado em Direito Processual Civil pelo ICAT-UNIDF. pós-graduado em Direito Eleitoral pelo IDP - Instituto Brasiliense de Direito Público, membro da Comissão Especial de Direito Eleitoral do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, sócio do escritório Kleber Moreira Advogados

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.