Passeata

Drogas: famílias fazem marcha contra descriminalização, na Av. Litorânea

Exibindo cartazes e faixas, o grupo percorreu a Avenida Litorânea, até o Círculo Militar

Nelson Melo / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Marcha aconteceu no prolongamento da Avenida Litorânea
Marcha aconteceu no prolongamento da Avenida Litorânea (Marcha)

Famílias, igrejas e associações fizeram uma passeata, na manhã deste domingo, 3, na Avenida Litorânea, contra uma possível declaração de inconstitucionalidade do artigo 28 da Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas). O processo será julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A “Marcha das Famílias contra as Drogas”, como foi denominado o movimento, reuniu crianças, adolescentes e adultos. Participaram pessoas da região metropolitana e também do interior maranhense.

A marcha começou por volta das 9h, na parte do prolongamento da Avenida Litorânea, tendo sido encerrada no Círculo Militar. À frente, seguiu uma viatura do Batalhão de Polícia Militar Rodoviária (BPRv). O movimento foi organizado pelas igrejas Católica e Evangélica, bem como por entidades, como a Federação das Comunidades Terapêuticas Evangélicas do Brasil (Feteb). Antes do início da cruzada contra as drogas, o grupo fez um momento de orações, com a leitura do Evangelho e preces. A pequena Júlia, de 3 anos, abriu a passeata ao cantar o Hino Nacional Brasileiro.

Segundo o diácono Rogério Napoleão, um dos coordenadores da marcha, as famílias não podem permitir que o STF descriminalize o uso pessoal das drogas, pois isso acarretaria uma degradação moral, que vai repercutir, negativamente, em todas as camadas da sociedade. “Esse nosso movimento é legítimo. O Supremo Tribunal Federal está querendo abolir o uso das drogas. Isso é um perigo para todos nós. Já sofremos com muitas violências sociais, a pobreza, muita corrupção. O povo do Brasil resolveu ocupar as ruas para sensibilizar e conscientizar o Judiciário”, declarou ele.

“Isso pode favorecer a bandidagem. Enquanto pais, avós, tios, professores, enfim, precisamos alertar as próximas gerações sobre isso. Esse é o nosso papel enquanto Igreja. Estamos reivindicando um direito, que é justo e necessário”, prosseguiu o diácono. Para o pastor Anderson, do Grupo Resgate, a passeata teve como principal objetivo essa “luta contra o mal”, como se expressou. “Não podemos aceitar isso, que já causa um grande estrago na sociedade sem ser liberado o uso das drogas. Imagine, então, como será se for descriminalizado esse uso”, analisou o evangélico.

Liderança da Igreja Batista Maanaim, Ministério Valentes de Davi, o evangélico disse que, no Maranhão, além da marcha – que aconteceu nacionalmente -, o combate à descriminalização das drogas ocorre, ainda, em outras “frentes”, como o resgate de dependentes químicos das famosas “cracolândias”, não apenas da Grande Ilha, como, também, do interior do Maranhão. “Nós damos esse apoio junto aos Centros Terapêuticos, no sentido de acolhimento”, afirmou o pastor.

Atuação dos jovens
O movimento contou com a participação de outras entidades, como a Brigada Mirim Instituto Soldado Fernandes Pantera, cuja fundadora, Tatiane Fernandes, enalteceu a passeata, sobretudo porque, no meio da multidão, havia crianças e adolescentes já preocupados com o futuro do Brasil. “A juventude tem um papel decisivo na construção de qualquer nação. Sabemos que o uso de drogas causa um mal terrível. Quando crescemos com essa consciência, o mundo se torna melhor para o convívio. A disciplina é um fator fundamental nessa prevenção e combate”, ressaltou ela.

Ações nas “cracolândias”
Na marcha, também participou o delegado Joviano Furtado, titular da Delegacia de Costumes. De acordo com ele, somente neste ano, foram realizadas 14 ações de sua equipe da Polícia Civil para resgatar dependentes químicos das conhecidas “cracolândias” da região metropolitana de São Luís. Essas intervenções aconteceram no João Paulo, Mercado Central, Cohab, Complexo Deodoro e na Praça Nauro Machado.

“Nós montamos tendas, para acolher essas pessoas, que sofrem pelo uso das drogas, e não conseguem se libertar. É um serviço feito em conjunto com a Prefeitura de São Luís e outros órgãos. É uma equipe multiprofissional, com atuação de psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, enfermeiros e psiquiatras. Somente no Mercado Central, retiramos 40 dependentes dessa situação”, pontuou o delegado. Joviano disse que há três opções para que esses resgatados sejam encaminhados: Centro de Atenção Psicossocial (CAPs), casa de acolhimento na Cohab-Anil e comunidades terapêuticas.

Furtado enfatizou que as estatísticas não deixam dúvidas de que o uso de drogas causam diversos malefícios à sociedade. “Somente em 2017, ocorreram 23 homicídios na área do Centro de São Luís. Verificamos que, desses crimes, 17 estavam relacionados ao consumo de entorpecentes”, declarou o delegado da Costumes.

Outros grupos
Pela Litorânea, caminharam integrantes de vários grupos, como a Missão Nova Jerusalém, Bombeiros Mirim da Cidade Olímpica e Pastoral da Sobriedade. Este último engloba 14 paróquias em São Luís e demais municípios da região metropolitana. Na “Marcha das Famílias contra as Drogas”, estiveram presentes membros de comunidades católicas como Filipinho, Cohatrac, Bequimão e São Raimundo.

Do interior, vieram pessoas de Matinha, Bacabal, Viana e Imperatriz. “Todas as igrejas se uniram nessa grande cruzada contra esse mal, contra esse ‘câncer’, contra as drogas. Está mais do que confirmado que o consumo de entorpecentes está associado a homicídios e suicídios no mundo todo, e interfere na ordem social”, comentou o missionário Erisson Lindoso, coordenador geral da passeata e membro da Feteb.

Julgamento da descriminalização
O Supremo Tribunal Federal já se prepara para avaliar outras matérias que prometem gerar forte polêmica na sociedade. A próxima pauta controversa na agenda do tribunal é a descriminalização de uso pessoal de todos os tipos de drogas. A audiência estava marcada 6 de novembro, mas a Corte anunciou para o dia 7 deste mês a retomada do julgamento sobre a validade ou não da execução antecipada da pena. Faltam os votos de quatro ministros. Ainda não há data marcada para o julgamento sobre o porte de drogas.

A descriminalização das drogas começou a ser abordada pelo STF em 2015, quando três dos 11 ministros se manifestaram sobre o tema. O relator do caso, ministro Gilmar Mendes, votou a favor da descriminalização de todos os tipos de entorpecentes para uso pessoal. Em seu voto, o magistrado foi favorável à declaração de inconstitucionalidade do artigo 128 da Lei de Drogas. Em seguida, votaram Luís Roberto Barroso e Edson Fachin, que também se manifestaram a favor da descriminalização, mas apenas para a maconha. Durante o julgamento, o então ministro Teori Zavascki, já falecido, pediu mais tempo para avaliar o assunto.

Zavascki foi substituído por Alexandre de Moraes, que precisou ler o processo e devolveu os autos para julgamento no fim do ano passado. O encarceramento por porte de drogas é criticado por juristas e especialistas, por ser um dos grandes motivos da superlotação das prisões em todo o país.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.