Califado

O que se sabe sobre o misterioso novo líder do Estado Islâmico

Grupo extremista descreveu novo líder como um ''erudito'', um conhecido ''combatente'' e ''emir da guerra'', que lutou contra as forças americanas e sabe como combatê-las

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
A morte do líder do Estado Islâmico não implica o fim do grupo, alertam especialistas
A morte do líder do Estado Islâmico não implica o fim do grupo, alertam especialistas (Reuters)

SÍRIA - Um novo "califa" e uma nova ameaça.

O grupo extremista autodenominado Estado Islâmico anunciou seu novo líder depois que Abu Bakr al-Baghdadi, mentor da organização nos últimos cinco anos, foi morto em uma operação das forças americanas, no sábado,26, na Síria.

Em comunicado divulgado pelo aplicativo de mensagens Telegram, o grupo confirmou a morte do líder, ao mesmo tempo em que pediu aos muçulmanos que jurassem lealdade ao seu sucessor.

O sucessor anunciado foi Abu Ibrahim al-Hashimi al-Quraishi — mas ainda não se sabe seu nome real, uma vez que esse é um dos nomes de guerra que a organização costuma usar.

"O Conselho Shura se reuniu imediatamente após confirmar o martírio do xeque Abu Bakr al-Baghdadi. Os líderes dos mujahidin (combatentes), após consultar seus irmãos e agir de acordo com a vontade (de al-Baghdadi), juraram lealdade a Abu Ibrahim al-Hashimi al-Quraishi como novo líder", dizia o comunicado.

Conselho Shura

O Estado Islâmico também confirmou a morte de seu porta-voz, Abu al-Hasan al-Muhajir, cotado como potencial sucessor de Baghdadi, que os EUA anunciaram ter matado em outra operação, horas após a ofensiva contra o líder da organização.

O novo porta-voz, chamado Abu Hamza al-Quraishi, exortou os seguidores do Estado Islâmico a honrar o novo "califado" e lançou uma ameaça aos americanos.

"Os Estados Unidos não podem se regozijar com a morte do xeque Baghdadi. Os Estados Unidos não sabem que o Estado Islâmico está hoje às portas da Europa e da África Central?"

Quem é Abu Ibrahim al-Hashimi al-Quraishi?

O grupo não forneceu muitos detalhes sobre seu novo líder, tampouco publicou uma foto, mas o descreveu como uma "figura proeminente na jihad".

"Ninguém, quero dizer, ninguém fora de um círculo muito pequeno dentro do Estado Islâmico, tem ideia de quem é o novo líder 'Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurayshi'", escreveu no Twitter Paul Cruickshank, analista do Centro de Combate ao Terrorismo, da Academia Militar americana de West Point.

O nome anunciado não é conhecido pelas forças de inteligência ou por analistas que investigam o grupo, embora o uso do sobrenome al-Quraishi esteja associado ao de famílias que se declaram descendentes de Maomé (o que é essencial para ser considerado "califa").

Segundo Mina al-Lami, especialista em jihadismo da BBC, o uso desse sobrenome é muito relevante e mantém os especialistas apreensivos, porque se o Estado Islâmico escolhesse nomear alguém que não era "al-Quraishi", teria sido um reconhecimento implícito de que o "califado" não existe mais.

O grupo também descreveu seu novo líder como um "erudito", um conhecido "combatente" e "emir da guerra", que lutou contra as forças americanas e sabe como combatê-las.

Qual é o contexto?

O Estado Islâmico declarou em 2014 a criação de um "califado", um estado governado de acordo com a Sharia (lei islâmica), após assumir o controle de grandes áreas no Iraque e na Síria e impor seu regime violento a milhões de civis.

Al-Baghdadi se autoproclamou "califa Ibrahim" e exigiu lealdade dos muçulmanos em todo o mundo.

O grupo chegou a controlar em seus anos de apogeu cerca de 88 mil quilômetros quadrados de território, do oeste da Síria ao leste do Iraque, e impôs seu regime a quase oito milhões de pessoas, gerando bilhões de dólares em receitas de petróleo, extorsões e sequestros.

O avanço dos militantes do Estado Islâmico em áreas controladas pela minoria étnica curda no Iraque, junto ao assassinato e escravidão de milhares de membros da minoria religiosa yazidis, levaram uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos a lançar uma ofensiva contra os jihadistas no Iraque.

Depois que o Estado Islâmico decapitou vários reféns ocidentais, as forças internacionais também começaram a realizar ataques aéreos na Síria.

Mas o grupo extremista recebeu bem a possibilidade de um confronto direto com a coalizão liderada pelos EUA — como presságio da "batalha do fim dos tempos" entre os muçulmanos e seus inimigos, descrita nas profecias apocalípticas islâmicas.

A guerra que se seguiu deixou milhares de mortos, desalojando milhões de pessoas e devastando grandes territórios.

O começo do fim

Ao longo dos cinco anos seguintes, o grupo jihadista foi lentamente expulso dos territórios que controlava.

Em março de 2019, as forças de coalizão internacional recuperaram a última parte do território controlado pelo Estado Islâmico na Síria, perto da aldeia de Baghuz, o que o presidente americano, Donald Trump, anunciou como a "derrota oficial" do Estado Islâmico.

Mas, apesar do desaparecimento do califado físico e da morte de seu líder na semana passada, o Estado Islâmico continua sendo uma força endurecida pela batalha e bastante disciplinada, cuja derrota perene não está garantida.

O grupo ainda tem entre 14 mil e 18 mil integrantes no Iraque e na Síria, incluindo cerca de 3 mil estrangeiros, de acordo com um relatório recente dos EUA.

Mais que a morte de Baghdadi ou a escolha de um novo líder, o que é mais decisivo agora para o Estado Islâmico é sua situação na Síria, conforme explica à BBC Lina Khatib, diretora do programa do Oriente Médio da Chatham House, organização britânica especializada em relações internacionais.

"A situação no nordeste da Síria sinaliza que, mesmo que a coalizão internacional anti-Estado Islâmico considere a morte de al-Baghdadi uma vitória simbólica, as tensões locais são o principal combustível para o ressurgimento do grupo, enquanto a presença terrestre das forças de coalizão continue sendo o principal impedimento ", acrescenta.

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