Transcrição oficial

Omitidos trechos de conversa entre Donald Trump e ucraniano

Alexander Vindman foi a primeira pessoa a testemunhar que de fato ouviu o telefonema entre os presidentes dos EUA e da Ucrânia; investigação poderá levar à abertura de um processo de impeachment contra Donald Trump

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
O tenente-coronel Alexander Vindman chegando para depor no Capitólio
O tenente-coronel Alexander Vindman chegando para depor no Capitólio (Reuters)

WASHINGTON — Às vésperas de uma importante votação que nesta quinta-feira,31, deverá tornar públicas as audiências da investigação que poderá levar à abertura de um processo de impeachment contra Donald Trump, o principal especialista em Ucrânia do Conselho de Segurança Nacional disse em seu depoimento fechado na Câmara, na terça-feira, 29, que a Casa Branca omitiu palavras e frases cruciais da transcrição do telefonema entre o presidente americano e seu colega ucraniano, Volodymyr Zelensky.

O telefonema, que veio à tona em setembro depois de uma denúncia anônima feita por um agente da Inteligência americana, pode levar Trump a ser acusado de tentar alistar um país estrangeiro contra um adversário político interno. Na conversa, Trump pressionou Zelensky a investigar o ex-vice-presidente americano Joe Biden, pré-candidato à Presidência pelo Partido Democrata, e um filho dele, Hunter Biden, que trabalhou até o início deste ano para uma empresa de gás ucraniana.

Os detalhes do depoimento de Alexander Vindman, tenente-coronel condecorado e primeiro funcionário da Casa Branca a testemunhar na Comissão de Inteligência da Câmara , vieram à tona na noite de terça-feira. Vindman, que ouviu a conversa entre Trump e Zelensky, ocorrida no dia 25 de julho, disse aos deputados que tentou incluir os termos omitidos na transcrição oficial, divulgada pela Casa Branca pouco depois de o telefonema vir à tona, mas que não conseguiu fazê-lo em alguns casos.

Gravações

Entre as frases omitidas, segundo disserem ao New York Times fontes do Congresso, estavam uma afirmação do presidente americano de que existiriam gravações de Biden discutindo corrupção na Ucrânia e uma menção explícita de Zelensky à Burisma Holdings, a companhia em que Hunter Biden atuou como como conselheiro.

Desde a abertura da investigação na Câmara, que está sendo conduzida pela Comissão de Inteligência, prestaram depoimentos 10 funcionários, a maioria diplomatas, envolvidos na relação entre EUA e Ucrânia. Os testemunhos indicam que o presidente teria vinculado a liberação de US$ 391 milhões em ajuda a Kiev às investigações contra seu opositor. O presidente também teria imposto a mesma condição para receber Zelensky, eleito em abril deste ano, na Casa Branca. Além de Biden, Trump teria pressionado o colega ucraniano a investigar relatos de que a Ucrânia, e não a Rússia, comandou a operação para influenciar externamente a campanha americana de 2016.

Ontem, 30, ao prestar depoimento, Catherine Croft, especialista em Ucrânia do Departamento de Estado, disse que a ordem de congelar a ajuda partiu do presidente — Trump negou uma vinculação entre a suspensão e a investigação sobre Biden.

Além de autorizar que as audiências da investigação sejam abertas ao público, a resolução que será votada nesta quinta-feira na Câmara dará a Trump meios para participar do processo, com a condição de que esteja disposto a cooperar. O presidente tem se queixado das audiências a portas fechadas, que segundo ele violam seu direito de defesa. A oposição democrata tem maioria na Casa, o que facilita o processo, mas, se chegar a ser formalmente processado, Trump será julgado pelo Senado, onde atualmente tem maioria.

Alvo da direita

Na terça-feira, 29, em seu depoimento a portas fechadas, o tenente-coronel Vindman, condecorado com um Coração Púrpura após se ferir na Guerra do Iraque, disse que externou suas preocupações com os rumos das conversas referentes à Ucrânia em duas ocasiões.

“Não considerei apropriado pedir a um governo estrangeiro para investigar um cidadão americano, estava preocupado com as implicações no apoio dos EUA à Ucrânia”, disse, segundo um rascunho de sua declaração inicial obtido pelo New York Times. “Percebi que se a Ucrânia iniciasse uma investigação contra Biden e a Burisma isso seria interpretado como uma jogada partidária, que resultaria na perda do apoio bipartidário ao país.”

Nascido na Ucrânia, Vindman e seu irmão gêmeo tinham três anos quando fugiram para os EUA com seu pai e sua avó, refugiados judeus. Desde então, ele se naturalizou cidadão americano, estudou em Harvard, tornou-se acadêmico, diplomata, membro condecorado do Exército americano e funcionário da Casa Branca.

Ainda assim, parte da direita americana, defensora de Trump, passou a questionar seu patriotismo. Um comentarista da Fox News chegou a sugerir que Vindman teria cometido um ato de “espionagem” contra os Estados Unidos — algo que gerou críticas imediatas. A noção de que Vindman estaria defendendo interesses estrangeiros rapidamente se disseminou por círculos conservadores, que buscam desacreditar os depoimentos que comprometem o presidente. Este movimento, em parte, é fomentado por Trump e por seu círculo mais próximo.

Defesa

O ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani, advogado pessoal de Trump que está envolvido no caso por ter atuado como um canal paralelo entre o ocupante da Casa Branca e o governo ucraniano, também tuitou afirmando que o militar “está supostamente aconselhando dois governos”. “Não surpreende que ele esteja confuso e sinta pressão”, disse Giuliani.

Nesta terça, quando foi sabatinado no Senado por ter sido nomeado embaixador na Rússia, o susecretário de Estado John Sullivan confirmou que Giuliani fez campanha contra a atual embaixadora dos EUA na Ucrânia, Marie Yovanovitch, que aparentemente tentou se interpor aos planos do presidente.

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