Em meio a protestos

Governo boliviano convida opositor a participar de auditoria eleitoral

Carlos Mesa, no entanto, diz que só aceitará convite se Morales desconhecer resultado oficial que lhe deu a reeleição

- Atualizada em 11/10/2022 às 12h22

LA PAZ — Um dia depois de um discurso agressivo do presidente Evo Morales , e em meio aos protestos que deixaram ao menos 30 feridos nas cidades mais populosas da Bolívia , o governo convidou Carlos Mesa , principal candidato opositor, a participar de uma auditoria dos votos junto com a Organização dos Estados Americanos (OEA) . Mesa e a oposição convocaram uma série de manifestações e greves em todo país, alegando que houve fraude no pleito de 20 de outubro, no qual Morales foi declarado reeleito no primeiro turno. Nesta terça-feira, novos protestos voltaram a convulsionar La Paz.

"Nós, da maneira mais transparente e segura, confiantes na soberania do povo, convidamos uma auditoria internacional", disse o vice-presidente Álvaro García Linera em entrevista coletiva, chamando o opositor de “mau perdedor” e “candidato violento”. "Convidamos a OEA e os países irmãos a esclarecerem qualquer dúvida sobre a campanha maliciosa do candidato derrotado, que se recusa a aceitar a decisão do povo boliviano. Queremos pedir a Carlos Mesa, o candidato derrotado, para participar da auditoria. Aguardamos uma resposta rápida e afirmativa".

Na entrevista, García Linera exibiu vídeos que mostravam grupos de opositores espancando imigrantes de origem indígena em Santa Cruz de la Sierra, reduto da oposição e que está completamente paralisada pela greve convocada por Mesa. No sábado, respondendo às acusações de fraude, Morales havia convocado seus apoiadores a “cercar” as cidades com bloqueios camponeses “para ver se eles” resistem "sem comida".

Pouco antes da entrevista do vice-presidente, Mesa publicou um vídeo alertando sobre uma estratégia do governo para estimular grupos violentos e responsabilizá-lo por suas ações. O opositor negou uma intenção violenta ou golpista e pediu a continuação de protestos pacíficos em “defesa do voto e da democracia”. Após o convite para participar da auditoria, ele novamente reagiu, impondo uma condição ao governo:

"O governo está disposto a não aceitar os resultados do Supremo Tribunal Eleitoral enquanto a auditoria está sendo realizada? Só assim, concordarei em participar da auditoria. Todos os caminhos estão abertos, mas não temos dúvidas de que uma nova eleição seria o ideal".

Escalada da violência

A troca de acusações entre governo e a oposição, representada por Mesa, têm levado a uma escalada de violência. Nas ruas de La Paz, manifestantes montaram barricadas com tábuas de madeira e chapas de metal, enquanto policiais de choque se alinharam em algumas ruas separando apoiadores de Morales dos de Mesa. Gás lacrimogêneo foi usado em pelo menos dois locais para dispersar manifestantes.

O governo e a OEA concordaram em realizar uma auditoria, que não se sabe ainda quando irá começar. Enquanto isso, uma missão de observadores da OEA, a União Europeia e governos dos Estados Unidos e de países vizinhos, como o Brasil, apoiam um segundo turno, dado o grau de dúvida gerado pelos resultados das eleições.

As dúvidas surgiram no dia da votação, quando o TSE interrompeu uma contagem rápida de votos, não vinculante, que apontava para um segundo turno entre Morales e Mesa, com 85% dos votos apurados. Quando a contagem rápida voltou a funcionar, 24 horas depois, Morales aparecia com mais de 10 pontos percentuais à frente do opositor, o que lhe garantiria uma vitória no primeiro turno.

A oposição acusa o partido do presidente de fraude planejada com a participação do Supremo Tribunal Eleitoral (TSE). Na segunda-feira, 28, Morales voltou a alegar que Mesa não reconhece o voto rural, de origem indígena - geralmente os últimos a serem computados, e que lhe garantiram os votos necessários para a reeleição.

"Precisamos defender a votação, não é possível que o direito boliviano ignore as áreas rurais, nossos triunfos sempre foram com o voto das áreas rurais", disse Morales em discurso em El Alto, cidade vizinha a La Paz que é reduto do seu Movimento ao Socialismo (MAS).

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