Memória

Uma vida dedicada à poesia

Nascido em 29 de outubro de 1924, o poeta José Chagas deixou grande legado cultural em mais de 20 livros publicados, a maioria deles dedicados à São Luís

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
O poeta José Chagas se considerava maranhense de coração
O poeta José Chagas se considerava maranhense de coração (José chagas)

São Luís - Paraibano de nascimento, mas maranhense de alma e coração, José Francisco das Chagas, o José Chagas, soube como poucos cantar as belezas e as mazelas de São Luís em verso e prosa. Nascido no sítio Aroeiras, município de Piancó, na Paraíba (atual Santana dos Garrotes), a 29 de outubro de 1924, o poeta, se vivo, celebraria 95 anos hoje. Uma missa em memória do poeta será celebrada hoje, às 18h, na Igreja dos Remédios.

Falecido em 13 de maio de 2014, o poeta deixou uma enorme contribuição à cultura do Maranhão por meio de obras como "Canhões do Silêncio", "Os Telhados", "Azulejos do Tempo", "Apanhados do Chão" e "Maré/Memória", entre outros.

Por ocasião do recebimento do título de Cidadão Maranhense, oficializado no dia 27 de outubro de 2004 pela Assembleia Legislativa como parte das comemorações pela passagem dos seus 80 anos, o poeta disse: "Vejo este momento de forma emocionante, um presente dos mais inesquecíveis. Este título vem complementar o envolvimento que já tenho com a cidade, desde o início, pois fui integrado por São Luís e São Luís integrada por mim".

Radicado no Maranhão desde 1948, onde fez toda a sua vida literária, José Chagas foi funcionário aposentado da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi vereador da Câmara Municipal de São Luís por um mandato, onde também serviu como diretor da Secretaria-Geral. Jornalista profissional, exerceu as funções de técnico em Comunicação Social na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) até aposentar-se. Foi cronista no jornal O Estado do Maranhão, no qual mantinha coluna semanal.

Apaixonado pela terra de Gonçalves Dias, o poeta é autor de mais de 20 livros, a maioria deles dedicada à cidade. O poeta estreou em 1955 com o livro “Canção da Expectativa”. José Chagas assumiu a Cadeira nº 28 da Academia Maranhense de Letras (AML) no dia 3 de abril de 1975. Ele foi de patrono da 5ª edição da Feira do Livro de São Luís, promovida em 2011 pela Prefeitura.

Poema - Maré Memória

Olhe aí a palafita
crescendo sobre a maré.
O homem que nela habita
caranguejo ou peixe é.

Caranguejo que se irmana
com os bichos dos lamaçais,
na condição desumana
de caminhar para trás,

de voltar à pré-história,
– vergonhosa marcha à ré –
e afogar sua memória
no ir e vir da maré.

Peixe caído na rede
que a vida lançou ao mangue,
para matar fome e sede
de um mundo nutrido em sangue.

Caranguejo ou peixe, o fato
é que o homem posto na lama
não sabe o seu nome exato
e também ninguém o chama,

nem o batiza de novo
com esse sal de maré.
Não se sabe de que povo
nem de que raça ele é,

ali entre vida e morte,
caranguejo ou peixe ou nada
do que seja fraco ou forte
na maré, sua enteada,

mãe segunda que o cativa,
que como filho o adota,
para a solidão nativa
mar sem porto e sem rota.

(Maré Memória, 1973)

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