Editorial

Mancha de um desastre ambiental sem precedentes

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22

O óleo que está presente no litoral dos nove estados do Nordeste representa a mancha de um desastre ambiental sem precedentes no país, no qual o Governo Federal preocupa-se muito mais em dizer que a origem é da Venezuela, do que efetivamente em buscar solução para o problema.

E esse direcionamento de culpabilizar os outros, no afã de tirar sua responsabilidade é típico do governo Bolsonaro, e a todo tempo replicado pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Enquanto o governo perdia tempo com esse discurso, o óleo se espalhou rapidamente pelas praias do Nordeste.

Pior é que o governo conjectura que o vazamento de óleo pode ser um crime premeditado para prejudicar o leilão da cessão onerosa do pré-sal, previsto para 6 de novembro.

Incomodado e alarmado com o “lavar de mãos” por parte do Governo Federal, o Ministério Público Federal (MPF), com o aval dos procuradores dos noves estados nordestinos, entrou com uma ação contra a União alegando omissão no caso das manchas de óleo, cobrando que fosse colocado em prática o Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo em Água (PNC), criado em 2013. A multa diária prevista é de R$ 1 milhão em caso de descumprimento.

Após a cobrança, o Governo Federal finalmente se mexeu e acionou, 41 dias depois do relato de manchas de óleo no litoral nordestino, em 2 de setembro, o Plano Nacional de Contingência. Mas se não fosse o esforço de entidades voltadas para a preservação do meio ambiente, órgãos estaduais e municipais, universidades e voluntários, a situação estaria muito pior.

Centenas de pessoas estão todos os dias nas praias do Nordeste ajudando na limpeza, retirando mais de 900 toneladas de óleo em 201 praias da região. A origem do material contaminante é desconhecida, pois as investigações não conseguiram ainda definir se o desastre ambiental é proveniente de naufrágios de navios ou de derramamentos acidentais de óleo no mar.

Segundo a Marinha, as investigações sobre a origem do óleo que atingiu praias do Nordeste se concentram em 30 embarcações regulares, com bandeiras de 10 países diferentes.

E o cenário é preocupante, conforme avaliação da oceanógrafa Mariana Thevenin, uma das articuladoras do grupo de voluntários Guardiões do Litoral, que está atuando em praias da Bahia. Segundo ela, o derivado de petróleo deveria ter sido barrado antes de chegar à areia e entrar pelos rios. Mas como o óleo já chegou à costa, a limpeza deve ser feita na maior velocidade possível, na tentativa de evitar que ele volte para o mar com o movimento das marés ou que as substâncias tóxicas ali contidas se entranhem nos variados sedimentos costeiros.

Esse alerta da especialista não é à toa, pois no petróleo estão contidos compostos orgânicos voláteis (COVs) e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs), ambos altamente tóxicos e cancerígenos. Desse modo, além do risco na cadeia alimentar, as pessoas também estão sujeitas a entrar em contato direto com os contaminantes que permanecerem no ambiente. E isso pode acontecer em uma simples caminhada pela areia da praia ou no banho de mar, tocando involuntariamente em resíduos de óleo ou inalando os gases liberados por eles.

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