Amor pela 'tela grande'

La Belle Époque, as matinês, os vesperais: auge do cinema em SL

Antes instalados em prédios e distribuídos em vários pontos da capital, a partir das décadas de 1970 e 1980 locais foram entrando no ostracismo

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Cine Éden em imagem datada da década de 1930
Cine Éden em imagem datada da década de 1930 (Cine éden)

A conhecida Sétima Arte em São Luís ostentou, ao longo do século passado, vários empreendimentos ligados à divulgação de peças audiovisuais e apoio a outras atividades que marcaram época na cidade. Distribuídos em vários pontos da capital maranhense, os ci­nemas notadamente construídos ou mantidos por famílias abastadas, entraram em uma era de ostracismo nas décadas de 1970 e 1980, 1990 e 2000. Muitos deles seguem somente nas lembranças de quem já registra, pelo menos, 60 anos ou mais de vida.

Os primeiros registros de exibições cinematográficas na capital maranhense foram catalogados após o advento da arte na Europa. De acordo com estudos do professor Euclides Moreira Neto, autor de “Reminiscências do cinema maranhense”, aproximadamente oito meses após o início da atividade do cinema, a possibilidade de ver imagens através de projeções chegou à cidade.

No começo, eram iniciativas isoladas. Exibições sem compromisso aparentemente financeiro, eram feitas em locais públicos. No fim do século XIX, uma das empresas projetou imagens em um prédio situado em frente ao Theatro São Luís (atualmente Teatro Arthur Azevedo).

No entanto, de acordo com o pesquisador, a empresa a que pertencia o aparelho de projeção “não pretendia demorar muito tempo na capital”. Durante a estadia na cidade, os equipamentos apresentaram defeitos, cabendo a Paschoal Carneiro a promoção dos devidos consertos. Ele se tornou o primeiro mecânico cinematográfico de São Luís.

Em 1901, o Cynematographo – equipamento usado para registrar imagens sobre tela e criado no fim da segunda metade do século XIX – fez parte do linguajar da escrita jornalística dos veículos à época, como demonstra artigo publicado no jornal “A Pacotilha”.

“Primeiro”: o Arthur Azevedo
No início do século XIX, já eram registradas algumas salas de cinema de menor porte. Mas, a mais popular no período foi no Teatro Arthur Azevedo, que recebeu a referência de cineteatro.

A escolha, de acordo com Euclides Moreira Neto, se deu pois a construção oferecia maior comodidade às famílias e espectadores. Nesta época, o cinema era explorado comercialmente, a ponto de os responsáveis pelas exibições – como modo de serem gratos pela acolhida da plateia maranhense – revertiam “certa quantidade de renda de uma ou mais funções para obras filantrópicas”.

O advento para valer
Até o fim do primeiro trimestre de 1909, o cinema era apenas um divertimento no Maranhão. O “po­vão” somente se deparava com as imagens quando alguma companhia ou empresa cinematográfica estava por aqui. Foi quando surgiu um aparelho, chamado Pathé, pertencente a uma família maranhense.

A estreia do equipamento se deu em 24 de abril de 1909, quando o aparelho fora instalado em um dos departamentos da extinta agremiação “Fabril Athetic”, na Rua Grande. Três filmes de produção nacional foram escolhidos: “O lançamento do Minas Gerais”, “Um Brasileiro em Paris” e a “Festa Gaúcha no Leme”.


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Em outubro do mesmo ano, a empresa Pathé comunicou que foram mantidos contatos para instalação definitiva do Cynematographo, o que ocorreu em 1910, conforme exemplifica divulgação em “A Pacotilha”, no dia 6 de abril do referido ano, quan­do foram anunciadas sessões de 7h30 em diante.

Além do Pathé, ainda em 1910, surgiu o então Ideal Cinema, no canto com a Praça João Lisboa. Começava a concorrência entre os empreendimentos do setor.

Em 1912, foi inaugurado o cinema “Palace”, que viria a ser um dos melhores cinemas de época. Pertencia à empresa Teixeira Moreira & C.

Palácio secular: o Cine Éden
Localizado na Rua Grande, com janelas laterais na Rua Godofredo Viana e com fundos na Rua de Santana, o cine Éden - de propriedade da Empresa Teatral Cinematográfica e aos cuidados de Moyses Aziz Tájra, foi inaugurado em 19 de abril de 1919. Com sua arquitetura peculiar, com estilo neoclássico, sua suntuosidade e localização cativaram o público ludovicense que, por anos, frequentou o local.

Atualmente, no prédio do Éden, funciona uma loja revendedora de roupas. O projetor do Cine Éden era compatível com filmes de 35 milímetros. A luz era produzida pelo contado de duas palhetas de carvão, que ao manterem contato, queimavam e geravam luz que era refletiva no espelho.

O primeiro filme exibido foi “Chispa de Fogo” (“The Flame of the Yukon”, o nome em inglês), uma produção da empresa cinematográfica Triangle Film Corporation, de 1917. O filme é um drama do cinema mudo, dirigido por Charles Miller, com a participação da atriz Dorothy Dalton.

Proprietário de um restaurante na Rua de Nazaré, Celso Aquino dos Santos Filho trabalhou no Cine Éden por vários anos como projetista. “Aprendi com meu pai, seu Celso, o ofício, e a partir daí comecei a trabalhar pois ele conhecia o dono do cinema. Era um local belíssimo, grandes obras foram exibidas no local”, disse a O Estado.

Segundo Euclides Neto, era o cinema mais suntuoso do período. “Ele [Cine Éden] chamava a atenção pelo luxo e elegância. O empreendimento chamava a atenção e, atualmente, preserva várias características arquitetônicas do período”, afirmou o especialista.

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