Disputa eleitoral

Morales diz ter confiança em vitória no primeiro turno

Ele acusa direita de tentativa de golpe de Estado; observadores da Organização dos Estados Americanos recomendam realização de segundo turno, citando problemas no processo eleitoral

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Evo Morales durante declaração realizada em La Paz
Evo Morales durante declaração realizada em La Paz (Reuters)

LA PAZ - O presidente da Bolívia, Evo Morales , fez na manhã desta quarta-feira seu primeiro pronunciamento público desde a eleição presidencial de domingo, 20, na qual disputou um quarto mandato. Dois dias depois de o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) do país anunciar números de uma controvertida contagem rápida que apontariam para sua vitória no primeiro turno, e em meio a protestos convocados pela oposição desde segunda-feira, 21, Morales disse estar confiante de que ganhará sem necessidade de segundo turno e acusou a direita do país, com apoio internacional, de liderar um golpe de Estado contra seu governo.

"Convocamos esta coletiva para denunciar ao povo boliviano e ao mundo inteiro que está em curso um golpe de Estado preparado pela direita e com apoio internacional", disse o presidente. "Quero que o povo boliviano saiba que até agora, humildemente, aguentamos e suportamos com paciência para evitar a violência. Não entramos em confronto e nunca vamos entrar em confronto. Quero dizer, no entanto, ao povo boliviano: primeiro, estado de emergência, mobilização pacífica e constitucional para defender a democracia".

Horas depois, em um evento militar em Cochabamba, Morales pediu o apoio das forças militares. "As Forças Armadas unem todos os bolivianos. As Forças Armadas têm a obrigação de garantir (unidade) o território nacional", disse.

No pronunciamento, o presidente voltou a afirmar o triunfo de seu partido, o Movimento ao Socialismo (MAS), e destacou que os bolivianos o escolheram pela quarta vez para governar. De acordo com o presidente, ele será vitorioso com uma diferença de meio milhões de votos sobre o segundo colocado, o ex-presidente Carlos Mesa, em "um grande triunfo".

Relatório

Ontem, 23, a missão de observadores da Organização dos Estados Americanos ( OEA ) disse em um relatório preliminar sobre o pleito que "devido ao contexto e aos problemas evidenciados no processo eleitoral, continuaria sendo a melhor opção convocar um segundo turno", mesmo que Morales vença.

O resultado final do pleito, no entanto, ainda não é conhecido. Segundo a contagem manual dos votos, a que vale oficialmente, com 96,78% das urnas apuradas, Morales lidera na manhã de ontem com 46,49% dos votos, contra 37,01% do ex-presidente Carlos Mesa (2003-2005), da Comunidade Cidadã, partido de centro — uma diferença de 9,48 pontos percentuais, o que no momento indicaria um segundo turno.

Na Bolívia, para evitar um segundo turno é necessário que o candidato vitorioso tenha 50% mais um dos votos ou mais de 40% e uma diferença de dez pontos sobre o segundo colocado. Segundo o presidente, sua vitória já na primeira rodada estaria garantida, pois os últimos votos a serem apurados no país vêm de zonas rurais, áreas que costumam a apoiar o governo.

"Estou quase certo de que, com os votos nas áreas rurais, venceremos no primeiro turno", disse o presidente, afirmando também que "desconhecer o voto indígena é voltar ao racismo".

Apuração confusa

A confusão que cerca a apuração da eleição presidencial boliviana é agravada pelo fato de haver duas contagens. A manual voto a voto — na Bolívia não há urna eletrônica — é a que vale oficialmente, mas o TSE usa também um modelo de contagem rápida, baseado em fotografias das cédulas, enviadas eletronicamente ao TSE pelas mesas eleitorais.

No domingo, o sistema de contagem rápida parou de funcionar com 85% dos votos apurados. Havia então uma diferença de oito pontos percentuais entre os dois candidatos, o que levaria a disputa para o segundo turno. Na segunda-feira, o site do TSE voltou a atualizar os números da contagem rápida, com 95,63% das atas apuradas. Morales aparecia então com uma diferença de 10,1 pontos percentuais, que seria suficiente para uma vitória no primeiro turno.

Diante das denúncias de fraude da oposição, o governo boliviano anunciou na noite de terça-feira que propôs à OEA auditar "uma a uma as atas" das eleições. A proposta foi aceita pelo organismo desde tenha caráter vinculante — ou seja, desde que o governo e a oposição aceitem suas conclusões.

No informe divulgado nesta quarta-feira, a missão da OEA também destaca a renúncia "particularmente alarmante" do vice-presidente do TSE, Antonio José Iván Costas Sitic.

"O clima de polarização, a desconfiança no árbitro do processo eleitoral e a falta de transparência de suas ações, assim como a desigualdade na competição, e o resultado ajustado das eleições, geraram uma alta tensão política e social. Os resultados de uma eleição devem ser credíveis e aceitáveis para toda a população, não apenas para um setor", afirma o relatório.

Greve e violência

Morales fez o pronunciamento horas depois início de uma greve geral e com prazo indefinido convocada em ao menos oito regiões do país. Nas ruas, confrontos entre partidários e opositores do presidente foram registrados em Santa Cruz, deixando pelo menos dois feridos, apedrejados na cabeça.

A paralisação foi convocada pelo Comitê Cívico do departamento de Santa Cruz, que reúne empresários, fazendeiros e funcionários públicos e teve protagonismo na disputa entre Morales e os governadores da oposição, em meados da década passada. Sindicalistas e camponeses, por sua vez, se mobilizam em favor do presidente.

Em seu discurso, Morales disse "entender o desespero" da oposição boliviana que não "quer reconhecer o triunfo da democracia", mas que seus atos de desrespeito à contagem de votos, de ataques a representantes eleitos e a propriedades públicas são a "expressão de um golpe de Estado".

" Não estamos em tempo de colônia ou de monarquia para designar presidentes", disse Morales, afirmando ainda que as províncias em greve prejudicarão economicamente o próprio povo. "Não sejam responsáveis pelos enfrentamentos entre os bolivianos. Não levem ódio e desprezo aos setores populares. Somos todos uma grande família".

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