Greenpeace

Ministro chama manifestantes de ''ecoterroristas''

Após ato na porta do Planalto, dezenove integrantes do Greenpace foram detidos pela polícia do DF e depois liberados

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Ricardo Salles classificou os manifestantes como " ecoterroristas"
Ricardo Salles classificou os manifestantes como " ecoterroristas" (Divulgação)

BRASÍLIA — Membros do Greenpeace Brasil realizaram na manhã desta quarta-feira um protesto em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília, contra a política ambiental do governo do presidente Jair Bolsonaro. Exibindo placas com inscrições como "Pátria queimada, Brasil" e "Brasil manchado de óleo", os manifestantes simularam os resultados de queimadas na Amazônia e do derramamento de óleo que atingiu praias do Nordeste. Pouco após a manifestação da ONG, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, classificou os manifestantes como "ecoterroristas".

Ao final do protesto, um grupo de manifestantes foi detido quando deixava o local e caminhava em direção à Esplanada dos Ministérios. Eles foram levados para a 5ª Delegacia de Polícia: 19 pessoas foram detidas.

O grupo foi levado para delegacia após o DF Legal – órgão de fiscalização do governo local – notificar os organizadores por descarte irregular de lixo em área pública. Os ativistas foram liberados às 12h30.

Segundo o porta-voz de Clima e Energia do Greenpeace Brasil, Thiago Almeida, a manifestação visa denunciar as políticas do atual governo para o meio ambiente.

" Esse é um protesto contra a política antiambiental e de desmonte da proteção e da gestão ambiental no Brasil que vem sendo promovida pelo governo Bolsonaro desde o início do mandato. E as consequências a gente já vê, do incentivo e da demora a agir nas queimadas da Amazônia até essa demora inaceitável de agir nas manchas de óleo no Nordeste", afirma Almeida.

O porta-voz apontou, ainda, que a demora na resposta do governo resultou na ação espontânea de voluntários que se dispuseram a limpar praias pelo Nordeste.

"Demorou para agir e está agindo de maneira insuficiente, ineficiente e desordenada, e por causa disso quem está colocando a mão na massa e fazendo o papel que é do governo é a população", afirma Thiago Almeida, porta-voz de Clima e Energia do Greenpeace Brasil — completou.

Mourão reage

O presidente em exercício Hamilton Mourão ironizou a manifestação, dizendo que vai convidar a ONG para atuar no combate ao derramamento: "Vou convidar o Greenpeace para recolher o óleo lá, ao invés de jogar o óleo aqui", afirmou, ao deixar o Palácio do Planalto no início da tarde.

Mourão, no entanto, reconheceu que o protesto faz parte da democracia e disse apenas que os manifestantes poderiam não ter atrapalhado o trânsito: "Protesto é protesto, democracia é isso aí. Única coisa que eu acho é que você pode fazer um protesto sem bloquear o trânsito. Não impedir o (direito de) ir e vir das pessoas".

Na segunda-feira, Salles já havia ironizado a atuação do Greenpeace no episódio. Thiago afirma que a responsabilidade do combate é do governo, e não do terceiro setor:

" A responsabilidade pelo combate ao derramamento de petróleo no mar é do Ministério do Meio Ambiente, não é do terceiro setor, não é da população. Em vez de entrar em debates nas redes sociais e procurar culpados, o governo deveria combater a mancha de óleo de maneira eficiente".

Eduardo parabeniza PM

O líder do PSL na Câmara, Eduardo Bolsonaro (SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, disse que os manifestantes faziam uma "baderna" em frente ao Alvorada.

"Estavam emporcalhando. Fazem da pauta ambiental uma política para atingir Bolsonaro. Damos parabéns à Polícia Militar por acabar com essa baderna", celebrou.

O filho do presidente acrescentou ainda que o óleo tem DNA venezuelano, segundo a Petrobras, repetindo uma máxima repetida de forma insistente pelo pai e subordinados, como o ministro Salles.

A declaração foi dada em um intervalo na reunião da CPI das Fake News, que ocorre nesta quarta-feira para votar requerimentos. Eduardo falou depois de deputados do PT, PDT e PCdoB se solidarizarem aos manifestantes que foram detidos. Os parlamentares acusaram, ainda, o governo Bolsonaro de omissão diante da tragédia.

'Ato pacífico'

Em nota, o Greenpeace disse considerar o protesto pacífico por levar "de maneira simbólica o derramamento de óleo do Nordeste e a destruição da Amazônia para a frente do local de trabalho do presidente". No documento, Almeida acusa Salles de "mascarar sua inação desviando a atenção do problema e jogando a responsabilidade para a população" e para as ONGs.

No que diz respeito ao desmatamento, também criticado pelo protesto, Cristiane Mazzetti, da campanha de Florestas do Greenpeace Brasil, diz no texto que o governo Bolsonaro "tem esvaziado e enfraquecido órgãos de proteção e fiscalização ambiental, ameaçando rever Unidades de Conservação e abrir Terras Indígenas para interesses econômicos". Mazzetti pontua, ainda, que o presidente "fez inúmeros discursos que encorajam o crime ambiental", concluindo que o desmatamento é resultado de sua política ambiental.

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