Situação

Venezuelanos ainda usam crianças para pedir ajuda na rua

Refugiados estão em alguns pontos da Ilha, com crianças carregadas em suportes de pano

Nelson Melo / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Com criança no colo, venezuelana pede esmolas em avenida
Com criança no colo, venezuelana pede esmolas em avenida (venezuelanas)

Em várias avenidas da Região Metropolitana de São Luís, venezuelanos podem ser vistos pedindo ajuda financeira, sobretudo em frente a semáforos. Desde maio deste ano, quando os primeiros grupos desembarcaram na Grande Ilha, eles sobrevivem nessa situação. Um fato que chama a atenção é o uso de crianças para abordar pedestres e condutores. Os meninos e meninas são levados ou carregados sob o sol forte, com risco de contrair alguma doença por causa das condições ambientais.

O Estado percorreu alguns trechos da capital maranhense e encontrou venezuelanos em quatro pontos da Avenida Daniel de La Touche, em trechos de bairros como Cohama, Parque Athenas e Parque Shalon. Em apenas um dos locais, havia um homem que, carregando uma placa feita de forma improvisada, pedia água, comida e roupas, bem como ajuda para pagar aluguel. Assim que o sinal ficava vermelho, perto da Avenida Mário Andreazza, ele se movimentava entre os carros.

Quando o sinal abria, ele voltava para o canteiro central. Em poucas idas ao meio da Avenida Daniel de La Touche, conseguia algum dinheiro, ofertado por condutores. Em outros trechos, três venezuelanas se posicionavam, em pontos distintos. Duas delas estavam com crianças, que eram levadas em pedaços de tecido, semelhantes aos suportes conhecidos como slings.

Nos dois casos, as crianças pareciam estar dormindo, mesmo com o movimento de ida e vinda das mulheres na avenida, com uma espécie de “cofo” na mão, em que o dinheiro dos condutores era depositado. O sol intenso do início da tarde não incomodava as venezuelanas. Segundo flanelinhas que trabalham nesses trechos, as mulheres passam quase o dia inteiro pedindo ajuda. Em alguns casos, conseguem comida e se alimentam no meio-fio.

À noite, o grupo de venezuelanos desaparece das avenidas. Quando amanhece, logo cedo, os estrangeiros retornam aos locais, para reiniciar o processo de pedir esmola. Muitos percorrem as avenidas descalços. Nas proximidades do Estádio Castelão, alguns são vistos saindo em família, com presença de crianças, em direção à Avenida dos Franceses, onde abordam os motoristas no semáforo que fica em frente ao Parque Folclórico da Vila Palmeira (Espaço Humberto de Maracanã).

Apesar da presença dos venezuelanos nas avenidas da Grande Ilha, o número parece ter diminuído. Em alguns locais, onde eles tradicionalmente ficavam, os estrangeiros não são mais vistos, como na Avenida São Luís Rei de França, em frente ao Posto Natureza. Em toda a Avenida Colares Moreira, não foram observados refugiados, assim como na Avenida Jerônimo de Albuquerque.

Impasse
A situação dos venezuelanos ainda está sob impasse. Em agosto, uma força-tarefa foi montada pela Defensoria Pública do Estado (DPE), Defensoria Pública da União (DPU), Tribunal de Justiça do Maranhão (TJ-MA), Governo do Estado, Conselho Municipal da Criança e do Adolescente e Prefeitura de São Luís, para discutir ações estratégicas, a fim de solucionar o problema.

O grupo percorreu as avenidas da região metropolitana, para orientar os estrangeiros acerca das leis brasileiras e descobriu que muitos venezuelanos não tinham documentação, o que dificultou o trabalho de orientação.

A chegada
Os refugiados chegaram a São Luís em maio deste ano. No início, eram 55. Em julho, o número aumentou para 69. Em agosto, havia pelo menos 155 venezuelanos na Ilha. Os estrangeiros desembarcaram no Brasil em uma tentativa de fugir da crise na Venezuela, que sofre com a falta de remédios, de comida, de água e serviços essenciais para uma sobrevivência digna.

Ainda em maio, os refugiados foram levados a abrigos na capital. Os primeiros grupos foram encaminhados a uma casa na Cohab-Anil pela Secretaria de Direitos Humanos e Participação Popular (Sedihpop). Uma das dificuldades enfrentadas pelos órgãos públicos envolvidos na situação dos estrangeiros é o dialeto falado pelos venezuelanos, que é o waraos, mesmo nome da etnia indígena ao qual pertencem no país vizinho ao Brasil.

O Governo do Estado e a Prefei­tura de São Luís foram contatados acerca da situação dos venezuelanos na Ilha, mas não houve resposta até o fechamento desta edição.

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