Disputa eleitoral

Bolívia aguarda definição sobre provável segundo turno

Resultados preliminares apontam para disputa entre o presidente Evo Morales, que tenta o quarto mandato, e o opositor Carlos Mesa; Itamaraty e OEA soltam comunicados

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Mulher participa da contagem de votos nas eleições presidenciais da Bolívia em uma seção eleitoral em La Paz
Mulher participa da contagem de votos nas eleições presidenciais da Bolívia em uma seção eleitoral em La Paz (AFP)

LA PAZ – Com a contagem de votos paralisada desde a noite de domingo, a Bolívia aguarda definição sobre um provável segundo turno na eleição presidencial entre o atual mandatário, Evo Morales , que tenta um controvertido quarto mandato , e o opositor Carlos Mesa . Até a última atualização feita pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) da Bolívia, com 83,76% das urnas apuradas, Morales tem 45,28% dos votos, contra 38,16% do ex-presidente Mesa, da aliança de centro Comunidade Cidadã.

Até o início da manhã de ontem, 21, o TSE boliviano ainda não tinha dado explicações sobre a interrupção na transmissão dos resultados preliminares da votação, como pedido pela Organização dos Estados Americanos (OEA), que fiscaliza as eleições na Bolívia.

O atraso em publicar os resultados finais gera ansiedade na população, afirma Daniel Moreno, sociólogo e diretor da Ciudadanía (Comunidade de Estudos Sociales e Ação Pública):

" Não é comum. Em outras eleições o tribunal já havia mostrado lentidão, mas desta vez gera ansiedade e suspeitas por parte da população, quando já havia certa desconfiança na entidade eleitoral. O próprio tribunal havia prometido resultados preliminares com 100% das urnas apuradas na noite de ontem (domingo)".

Desde o referendo de 2016, o Tribunal Superior Eleitoral da Bolívia usa um sistema de transmissão de dados, o Transmissão Rápida e Segura de Atas (TREP), que permite que, mesmo em locais mais remotos, como as zonas rurais, os votos sejam computados com certa agilidade, já que as atas são fotografadas e enviadas via sistema para o órgão eleitoral.

Com a suspensão da contagem, na noite de domingo, a OEA pediu explicações e o governo brasileiro também demonstrou preocupação com a paralisação da contagem.

Mesa, por sua vez, denunciou a suposta intenção de Morales de “manipular” o resultado e pediu a defesa do escrutínio que, até o momento, confirma um segundo turno.

"Quero, através dos meios de comunicação, denunciar sem nenhum tipo de matiz que o governo está tentando, através do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), eliminar o caminho para o segundo turno", afirmou, em entrevista coletiva.

“A missão de observação eleitoral da OEA segue acompanhando com rigor o processo eleitoral na Bolívia. É fundamental que o TSE explique por que interrompeu a transmissão dos resultados preliminares e que o processo de publicação da computação dos dados ocorra de maneira fluida”, informou a OEA em sua conta no Twitter.

Preocupação

O governo brasileiro também demonstrou preocupação com a paralisação na contagem. Em sua conta no Twitter, o Itamaraty afirmou que o “Brasil espera que o processo de apuração tenha continuidade dentro das regras estabelecidas, com transparência e lisura”.

Os EUA pediram à Bolívia que garanta a transparência do processo eleitoral. "Os Estados Unidos observam de perto o primeiro turno das eleições na Bolívia, especialmente a repentina interrupção da contagem eletrônica dos votos. Autoridades eleitorais devem restaurar a credibilidade e transparência do processo já, para que seja respeitada a vontade do povo", escreveu no Twitter o subsecretário interino de Estado para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Michael Kozak.

Segundo turno

Há 14 anos no poder, Morales enfrentaria pela primeira vez um segundo turno nas eleições presidenciais e, num cenário de polarização, pode ver ameaçado seu objetivo de chegar a um quarto mandato. Na noite de domingo, Mesa comemorou a realização do segundo turno, mas Morales não admitiu que haveria uma segunda etapa da disputa em 15 de novembro.

"Vencemos novamente. Quatro eleições consecutivas vencemos na Bolívia", disse o presidente. "Estamos confiantes em relação aos votos do interior".

Moreno acredita que houve uma atitude irresponsável dos dois lados.

"Tanto de Evo que comemorou vitória, quanto de Carlos Mesa que falou em um segundo turno antes que os resultados finais tivessem sido divulgados. De qualquer maneira, essa demora gera um nervosismo na população. Agora, por mais que os resultados sejam legítimos, se não houver um segundo turno será mais difícil de ser aceito".

Calcado no crescimento econômico que chegou a 59% entre 2008 e 2018, o presidente boliviano insiste em permanecer no poder , apesar da derrota no referendo de 2016, que lhe negou a possibilidade de concorrer a um terceiro mandato sob a nova Constituição, aprovada em 2009 e que só admite uma reeleição. Para disputar a eleição, Morales recorreu ao Tribunal Constitucional e obteve a autorização para se candidatar, sob o argumento de que era um “direito humano”.

Segundo o TSE boliviano, a eleição de domingo,20, teve bom comparecimento e ocorreu dentro da "normalidade" e com "poucos incidentes". O chefe da missão de observadores da União Interamericana de Organismos Eleitorais (Uniore), Hugo Picado, também afirmou que o processo eleitoral boliviano transcorreu em ordem.

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