Entrevista

"Eu tenho colhido bons frutos e observado o poder da literatura e da palavra"

Escritora Conceição Evaristo, que esteve em São Luís para ministrar palestra na Feira do Livro e oficina de leitura e escrita, diz que a arte de escrever tem que assumir uma linguagem que atravesse fonteiras

Evandro Júnior/ Da equipe de O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Conceição Evaristo ministrou oficina em São Luís
Conceição Evaristo ministrou oficina em São Luís (Conceição Evaristo)

São Luís - Um dos maiores nomes da literatura nacional, a escritora mineira Conceição Evaristo, esteve na capital para participar da Feira do Livro de São Luís e comandar uma oficina de leitura e escrita para mediadores de leitura e representantes de bibliotecas comunitárias.

A oficina aconteceu no Solar Cultural da Terra, na Rua Rio Branco (Centro), um casarão inaugurado no mês de julho deste ano em homenagem a Maria Firmina, primeira romancista brasileira e um ícone da literatura negra do Brasil, assim como a convidada, autora de livros com temáticas voltadas para a negritude e para a experiência da mulher negra.

Premiada e reconhecida no Brasil e no exterior, Conceição Evaristo, que é professora aposentada e doutora em Literatura Comparada, conduziu uma oficina descontraída, com dinâmicas criativas e que deixaram os participantes bem à vontade. A iniciativa integrou o projeto “Oficina de Autora/Autor”, realizado pela Fundação Itaú Social, desenvolvido em conjunto com a Mina Comunicação e Arte, em parceria com a Rede Nacional das Bibliotecas Comunitárias.

Autora da coletânea premiada “Olhos D’Água” e do romance “Ponciá Vicêncio”, a escritora conversou com a reportagem de O Estado e falou um pouco sobre sua experiência viajando o Brasil em nome da leitura e explicou, também, como acontecem as oficinas às quais tem se dedicado ao longo deste ano.


Como tem sido a sua experiência percorrendo o Brasil para mostrar a importância da leitura?

Sem dúvida, tem sido uma experiência enriquecedora. Eu tenho colhido bons frutos e observado o poder da literatura e da palavra. Tenho observado que o meu público é formado por pessoas que vivem as minhas mesmas experiências, ou seja, é bastante marcado pela presença de mulheres negras, mas, ao mesmo tempo, é formado por pessoas brancas, o que me deixa muito feliz.

O que significa a literatura para você?

A literatura, para mim, só existe se tiver essa potência de convocação do outro. A não ser, você estaria escrevendo para você mesmo. A arte de escrever tem que assumir uma linguagem que atravesse fonteiras.
O seu texto tem atravessado fronteiras. Como você se sente vendo esse reconhecimento?
Realmente! Percebo que meu texto literário tem atravessado mundos e alcançado públicos diferentes. Meus livros têm sido lidos não somente aqui no Brasil, mas, também, no exterior, e isso está comprovado por meio das minhas obras traduzidas para outros países e dos diversos pedidos de tradução que recebo.

Como tem sido a sua participação nas feiras de livros no Brasil?
As feiras de livros são espaços democráticos, principalmente as feiras que não são pagas. Uma feira literária é pensada para democratizar a leitura e, por isso, ela não pode ser paga. Precisa ser um espaço que facilite o acesso do publico e quanto mais diversificado for esse publico, melhor. As feiras, entre outras coisas, têm me dado a possibilidade de ne certificar que essa literatura que produzo é procurada, prestigiada e lida.

E as suas oficinas? Elas acontecem da mesma maneira, independentemente do público?

Essas oficinas que tenho ministrado ao longo deste ano, coordenadas pelo Itau Social, têm um eixo, ou seja, uma espinha dorsal que serve como motivação para o que tenho colocado como “escrevivência”, que é pensar numa escrita que traga uma vivência, que esteja comprometida ao máximo com as experiências vivenciais dos sujeitos e das coletividades, grupos sociais ou étnicos, que são impedidos do acesso à escrita. Ou que suas histórias não tenham significado para as culturas hegemônicas. E elas são trabalhadas com adaptações de acordo com a ambiência e com a reação do público. Essa oficina que trouxe para São Luís é direcionada para dinamizadores de leitura, pessoas que já têm essa experiência de leitura e trabalham no sentido de incentivar outras pessoas.

Como se dá a construção do sujeito leitor?
Aos poucos. Para mim, a primeira etapa de construção desse sujeito é que ele tenha acesso ao livro e que este se torne possível para ele. Além disso, que ele possa ter poder de escolha. Em termos de apresentação do texto literário em si, o importante é possibilitar livros que possam interessar com histórias em que o leitor se encontre, que possam se confundir com a realidade de quem está lendo e que esse leitor fique seduzido pelas personagens.

O que os leitores costumam dizer sobre o seu texto?

Elas costumam dizer que se veem nele. Elas dizem que a história que eu conto, de certa maneira, relembram a história delas. São textos literários que falam da experiência das pessoas, do cotidiano delas, e nem por isso eu esqueço que estou trabalhando para a literatura, com ficcionalização. Busco criar um texto sedutor a partir da própria linguagem.

Como está a sua programação de lançamentos de livros para o fim do ano e sua agenda de participações em eventos?

Na verdade, este foi um ano em que parei um pouco de escrever. O que produzi foi material de palestra, ou seja, mais teoria do que a própria literatura. Tenho agenda até dezembro para ministração de palestras. Entre outras coisas, participarei da Festa Literária das Periferias (FLUPP), no Rio de Janeiro. Terei, ainda, alguns trabalhos em São Paulo e serei homenageada na Feira do Livro de Belo Horizonte. Ano que vem, minha ideia é terminar dois livros de contos e dois romances, que estão em andamento e a vida há de me permitir publicá-los.

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