Refugiados sírios

Erdogan ameaça enviar milhões de imigrantes para a Europa

Presidente ameaçou dar por encerrado o pacto migratório assinado em 2016 com Bruxelas e diz que Turquia ''abrirá as portas'' caso UE tente caracterizar ''operação'' militar como ''invasão''; segundo ele, 109 militantes curdos foram mortos

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Presidente turco Recep Tayyip Erdogan faz discurso para seus partidários em Ancara
Presidente turco Recep Tayyip Erdogan faz discurso para seus partidários em Ancara (Reuters)

ANCARA - No segundo dia da ofensiva militar da Turquia contra militantes curdos no Nordeste da Síria, o presidente Recep Tayyip Erdogan ameaçou dar por encerrado o pacto migratório assinado em 2016 com Bruxelas e permitir que refugiados sírios cheguem ao território europeu. Os comentários são uma resposta às críticas internacionais e aos pedidos de países membros da União Europeia para que o governo turco encerre os ataques.

O presidente ainda acusou a UE de não cumprir o acordo e de não fornecer a verba acertada para que a Turquia recebesse os refugiados. Bruxelas têm € 5,8 bilhões reservados para isso, dos quais apenas € 2,570 bilhões foram entregues a organizações que assistem os imigrantes sírios.

"Ei, União Europeia, volte à razão! Volto a repetir: se vocês tentarem apresentar nossa operação como uma invasão, abriremos as portas e enviaremos a vocês 3,6 milhões de imigrantes", disse Erdogan, referindo-se ao número de sírios que fugiram para a Turquia após a guerra civil iniciada em 2011.

Em discurso para partidários em Ancara, Erdogan disse que 109 "terroristas" foram mortos durante a ofensiva militar no Nordeste da Síria, que já atingiu 181 alvos. De acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, no entanto, haveria 31 vítimas fatais — 23 membros das Forças Democráticas Sírias (FDS), coalizão de milícias curdas na região, e oito civis.

Cidades cercadas

Nas primeiras horas de ontem, 10, (início da noite de quarta, no horário de Brasília), o Ministério de Defesa turco confirmou que seus soldados entraram por solo no território sírio. As cidades de Ras al-Ain e de Tel Abyad estariam cercadas por forças turcas e rebeldes s[irios, de acordo com estes últimos.Os ataques haviam começado na véspera , com seis horas de bombardeios aéreos que fizeram mais de 60 mil civis fugir da região.

Cidades do lado turco da fronteira também foram atingidas por fogo curdo, em represália. Pelo menos seis pessoas morreram, entre elas um bebê sírio e um homem turco, por foguetes e morteiros que atingiram as cidades de Akçakale e Ceylanpinar, indicaram as autoridades locais em um comunicado, acrescentando que 46 feridos foram hospitalizados.

A União Europeia e diversos de seus membros, como a Itália, a Alemanha e a França, fizeram apelos públicos para que o governo turco interrompa a incursão militar. O temor é que os ataques turcos tenham o efeito reverso e acabem fomentando o crescimento do Estado Islâmico na região. A Rússia, por sua vez, se ofereceu para mediar o diálogo entre os governos sírio e turco.

Respondendo a um pedido de emergência realizado por Reino Unido, França, Alemanha, Bélgica e Polônia, o Conselho de Segurança da ONU realizará uma reunião de emergência para discutir o assunto. Em uma carta ao grupo, o governo turco chamou sua ação de "proporcional, comedida e responsável".

O presidente turco, por sua vez, disse que as críticas vindas da União Europeia e de potências árabes como a Arábia Saudita e o Egito "não são honestas" e que o fato de Ancara agir para solucionar a Guerra da Síria "é a diferença" entre a Turquia e as outras nações.

Prisioneiros do EI

As Forças Democráticas Sírias, lideradas pelo grupo curdo Unidades de Proteção (YPG), são responsáveis por prisões com milhares de soldados do Estado Islâmico e acampamentos que abrigam seus familiares. Segundo as FDS, os ataques turcos atingiram um destes centros de detenção, que abriga "os criminosos mais perigosos de mais de 60 nacionalidades".

Na manhã de ontem, 10, em seu Twitter, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump , disse que alguns dos militantes do EI mais perigosos sob tutela dos curdos foram retirados da região por forças americanas. O presidente americano havia chamado na quarta-feira a operação de Ancara de uma " má ideia " e ameaçou "destruir e obliterar" a economia turca caso o país faça algo que considere "fora dos limites".

Apesar das críticas, foi uma ação de Trump que deu o sinal verde para a operação militar. No domingo, após um telefonema com Erdogan, o presidente dos EUA anunciou a retirada dos soldados americanos da região, possibilitando o ataque turco. A decisão americana foi vista como um ato de traição pelos curdos, cujas milícias eram aliadas de Washington no combate ao Estado Islâmico, recebendo auxílio aéreo e treinamentos.

O governo turco, no entanto, vê o YPG como uma ameaça à sua segurança nacional devido aos seus elos com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). O grupo separatista, considerado uma organização terrorista pela Turquia, está em confronto com Ancara desde 1984. Mais do que uma ameaça militar, o autogoverno curdo na Síria representa um desafio político para Ancara, que teme um fortalecimento do separatismo curdo em seu território.

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