Alemanha

Merkel faz alerta contra racismo no aniversário da reunificação

Chanceler fez um ataque velado à extrema direita do país, que organizou um comício em Berlim ontem,3

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Chanceler federal Angela Merkel durante cerimônia comemorativa da reunificação da Alemanha
Chanceler federal Angela Merkel durante cerimônia comemorativa da reunificação da Alemanha (AFP)

KIEL, Alemanha — A chanceler federal Angela Merkel fez um ataque velado ao partido de extrema direita alemão Alternativa para a Alemanha (AfD), no 29º aniversário da reunificação alemã, ontem,3. Segundo Merkel, as queixas econômicas na parte Leste do país, onde ficava a Alemanha oriental comunista, não justificam atos racistas.

Em um discurso para marcar a data, a líder alemã citou um relatório encomendado pelo governo que constatou a permanência de discrepâncias sociais e econômicas entre as partes ocidental e oriental do país. Segundo o estudo, cidadãos do Leste se sentem como cidadãos de segunda classe.

Merkel, ela própria originária da antiga República Democrática Alemã, disse no entanto que isso não justifica os ataques verbais contra imigrantes disfarçados de liberdade de expressão e que tais atitudes representam um risco para a democracia alemã.

"Nunca deve ser o caso que a decepção com a política, por mais significante que possa ser, seja aceita como uma razão legítima para marginalizar, ameaçar ou atacar os outros devido a sua cor, religião, gênero ou orientação sexual", disse ela, em discurso na cidade de Kiel.

Pouco após seu discurso, cerca de 600 pessoas participaram de um comício de extrema direita, com bandeiras alemãs e placas islamofóbicas. A chanceler federal não mencionou o nome do AfD, mas a sigla tem forte apoio na parte oriental da Alemanha e teve boas performances nas eleições em duas províncias orientais no mês passado.

"Os valores da nossa Constituição devem guiar todos e quaisquer debates em nosso país", disse Merkel. "Em termos concretos, isso significa "sim" para um debate aberto, "sim" para exigências duras para políticos e "não" para a intolerância, "não" para a marginalização, "não" para o ódio e para o antissemitismo, "não" para viver às custas dos mais fracos e das minorias".

A ascensão do AfD

Os conservadores e social-democratas (SPD) da coalizão de Merkel acusam o AfD — principal partido de oposição no Parlamento — de legitimar uma linguagem de ódio que incentiva a violência.

Eles já disseram, previamente, que o AfD manipula as preocupações dos alemães orientais: salários e aposentadorias mais baixos, o êxodo da população jovem, os desafios de integrar o fluxo de imigrantes que chega ao país. Com isso, acusam o partido de extrema direita de obter ganhos políticos por meio do populismo.

O AfD chegou ao Parlamento há dois anos durante eleições que foram pautadas pela decisão de 2015 da chanceler federal de acolher cerca de 1 milhão de refugiados, sobretudo sírios. O partido, no entanto, alega sempre ter se distanciado dos extremistas violentos de extrema direita.

Em junho, o assassinato de um político conservador pró-imigração e a ascensão de discussões sobre o antissemitismo fomentaram um debate sobre os discursos anti-imigração de alguns líderes da AfD.

O partido tem cerca de 10% de apoio nas regiões ocidentais do país e cerca de 14% nacionalmente.

O relatório citado por Merkel mostrou que a economia da parte oriental do país equivale hoje a 75% da da parte ocidental — em 1990, este percentual era de 43%. Os salários correspondem, em média, a 84% dos pagos na parte ocidental. O relatório levantou ainda que menos de 40% da população do Leste acredita que a reunificação valeu a pena e que menos da metade dos alemães está feliz com a democracia no país.

"Muito foi conquistado nos últimos 29 anos. No Leste e também no Oeste, pessoas estão muito mais felizes com suas vidas do que em qualquer outro momento desde a reunificação. Mas nós também sabemos que essa não é a verdade completa", disse a chanceler. "Todos nós devemos entender as razões pelas quais a reunificação não é apenas uma experiência positiva para muitas pessoas nos estados do Leste".

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