Teatro

Histórias de feminismo no palco

Espetáculo "Quitéria & Inês", do Grupo Teatrodança, será apresentado hoje, às 20h, no Teatro Alcione Nazaré; montagem é o complemento de publicação homônima de autoria do Júlia Emília, diretora do Grupo Teatrodança

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Um dos trechos do espetáculo  “Quitéria & Inês”
Um dos trechos do espetáculo “Quitéria & Inês” (Quitéria )

São Luís - O Teatro Alcione Nazaré, no Centro de Criatividade Odylo Costa, filho (Praia Grande), recebe hoje, às 20h, o espetáculo “Quitéria & Inês”, do Grupo Teatrodança. Trata-se de uma criação coletiva com tutoria de Tânia Farias, do grupo “Ói Nóis Aqui Traveiz”, do Rio Grande do Sul. No palco estarão Júlia Emília e Tatiane Soares, responsáveis pelo processo da dramaturgia e atuação.

O espetáculo é baseado em livro homônimo de autoria de Júlia Emília, concebido por meio do Edital Prêmio Literário da Secretaria de Estado da Cultura, no ano passado e obtido o primeiro lugar. O recurso do prêmio estendeu-se para a montagem.

“Destaco duas coisas importantes nesse espetáculo. Primeiro, porque sou uma mulher e a história do teatro, como sabemos, é toda contada por homens. Segundo, porque ninguém conhece a história de dona Quitéria, que foi encarcerada pela própria família, que queria se apossar do dinheiro dela”, explica Júlia Emília.

A criação e gravação da trilha sonora é assinada por Beto Ehongue. “Ele fez as trilhas da primeira parte da trilogia, com as peças ‘Meninilha’ e ‘Ilhadas’, e quando decidi fazer a terceira parte, o chamei. Ele é um coração feminino entre nós”, agradece Júlia Emília, acrescentando que, em 2020, o espetáculo será apresentado no festival “O Levante”, em Belo Horizonte, e na Terreira Tribo, sede do grupo “Ói Nóis Aqui Traveiz”, no Rio Grande do Sul.

“Quitéria & Inês” revela uma linguagem com a qual mulheres que são artistas escrevem sua própria história, sistematizam suas técnicas e análises, preservam sua memória e constroem crítica que encarna fatos reais em reinvenções dramatúrgicas. Além da dramaturgia, relata processos fundamentados, ilustrações da artista Telma Lopes, e fotos de ensaios da peça atual e apresentações anteriores. Ela trabalhou também nos paineis do espetáculo.

Arquétipo -

Dona Quitéria Francisca Sebastiana, rica senhora de engenho na ribeira do Rio Mearim, encarcerada em 1784 pelo marido e o cunhado para se apropriarem de seus bens, se constitui como arquétipo da dolorosa semelhança entre os encarceramentos forçados do século XVIII e os acontecimentos do regime ditatorial brasileiro, horror presente nas vozes sobreviventes das mulheres xingadas, seviciadas, estupradas, molestadas e abusadas.

A transversalidade entre territórios geográficos e a escolha de figuras históricas equidistantes torna a dramaturgia construída em múltiplas linguagens com a presença de Inês Etienne Romeu, a última presa política libertada e única sobrevivente da Casa da Morte, com a Lei da Anistia, promulgada em 28 de agosto de 1979, lhe possibilitando denunciar e esclarecer os crimes acontecidos, memorial em primeira pessoa das marcas nefastas impressas em sua carne.

Segundo Júlia Emília, a vergonhosa prevalência que extermina o universo mítico do feminismo das narradoras Quitéria e Inês, sentimentos femininos destroçados que não se apresentam como sofredoras resignadas, representam as condições do delicado tecido da consciência social. “Sem conotação de gênero isolado, inseridas nas culturas do mundo, experimentando a relatividade do bem e do mal e preservando sua independência com qualidades compassivas”, explica.

Lívia Gaudencio, dramaturga mineira, é quem apresenta a publicação “Quitéria e Inês”, sendo aclamada pela rede “The Magdalena Project”, que apoia iniciativas comprometidas com a visibilidade do empenho artístico das mulheres.

“Os arquivos históricos têm um papel didático bastante eficaz para resguardar memórias. Porém, só a arte pode transcender, provocar, transpor os fatos da matéria morta para os sentidos do público no exato momento da fruição. ‘Quitéria & Inês’ é um registro poético de duas mulheres reais que representam a subjugação da mulher em seus respectivos tempos. Desta forma, a publicação desta dramaturgia é um avanço importante para combater a situação de sub-representatividade do feminino e para afirmar a inclusão das mulheres também como agentes construtoras da história; tanto Quitéria, quanto Inês, quanto Júlia Emília e todas as outras que ainda virão”, escreve.

Equipe técnica do espetáculo

Processo da dramaturgia e atuação - Júlia Emília e Tatiane Soares

Tutoria do processo – Tânia Farias | Ói Nóis Aqui Traveiz – RS

Conteúdos históricos – Maria da Glória Guimarães Correia

Criação e gravação da trilha sonora - Beto Ehongue (Sexta Sinfonia – Canção da Terra, Gustav Mahler)

Plano e operação de luz - Júlio César da Hora

Criação e pintura dos painéis - Telma Lopes

Materiais de cena - Teatrodança e Centro Ozaka

Confecção figurinos - Lucineide Melo

Confecção peruca - Stillus Hair

Artes visuais – Marcos Caldas

Classificação – 14 anos

Serviço

O quê

Espetáculo “Quitéria & Inês”

Quando

Hoje, às 20h

Onde

Teatro Alcione Nazaré (Praia Grande)

Doação: R$ 10,00

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