Rede social

Campanhas de desinformação ao redor do mundo estão aumentando

Brasil é um dos países em que partidos políticos espalham mentiras na internet, diz relatório de Oxford; os governos estão espalhando desinformação para desacreditar seus oponentes políticos e calar pontos de vista divergentes

- Atualizada em 11/10/2022 às 12h23
O Facebook é a plataforma mais usada para espalhar desinformação política, diz estudo da Universidade de Oxford
O Facebook é a plataforma mais usada para espalhar desinformação política, diz estudo da Universidade de Oxford (Reuters)

LONDRES - Apesar do aumento dos esforços de plataformas da internet como o Facebook para combater a desinformação na internet , o uso de técnicas de manipulação por governos de todo o mundo está crescendo, de acordo com um relatório divulgado nesta quinta-feira por pesquisadores da Universidade de Oxford. Os governos estão espalhando desinformação para desacreditar seus oponentes políticos, calar pontos de vista divergentes e interferir nos assuntos externo, aponta o relatório , intitulado "Tropas Virtuais".

O Brasil é um dos países onde há campanhas de desinformação política e de mentiras profissionalizadas, segundo o estudo, que classifica o país em um nível de capacidade de manipulação “médio” — o segundo mais alto. O relatório, que avalia a desinformação digital em 70 países, identificou que o Brasil tem grupos profissionais de desinformação ligados a partidos políticos e a empresas privadas, que empregam táticas de apoio, ataques a opositores, distração de assuntos, fomento de divisões e supressão de pontos de vista divergentes.

O estudo não diz os nomes dos partidos e grupos responsáveis pela desinformação, mas indica a eleição de 2018 como uma “instância de partidos políticos propositalmente espalhando ou ampliando a desinformação nas redes sociais”, por meio do WhatsApp. Além do aplicativo de trocas de mensagens, as plataformas mais comuns para espalhar informações falsas no país são Youtube e Facebook, diz o estudo. O trabalho também aponta que robôs e humanos controlam contas falsas com objetivos políticos no Brasil.

Os pesquisadores compilaram informações de organizações de notícias, grupos da sociedade civil e governos para criar um dos inventários mais abrangentes de práticas de desinformação por governos em todo o mundo. Eles descobriram que o número de países com campanhas de desinformação política mais do que dobrou nos últimos dois anos, com evidências de pelo menos um partido político ou entidade governamental em cada um desses lugares envolvidos na manipulação de mídias sociais.

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Além disso, o Facebook continua sendo a principal rede social de desinformação, segundo o relatório. Campanhas de propaganda organizada foram encontradas na plataforma em 56 países.

— A tecnologia das mídias sociais tende a fortalecer a propaganda e a desinformação de maneiras realmente novas — disse Samantha Bradshaw, pesquisadora do Instituto de Internet de Oxford e coautora do estudo.

O instituto trabalhou anteriormente com a Comissão de Inteligência do Senado para investigar a interferência russa na campanha de 2016.

O relatório destaca dificuldades enfrentadas por Facebook, Twitter e YouTube quando tentam combater a desinformação e, principalmente, enfrentam governos. As empresas anunciaram mudanças internas para reduzir a manipulação e interferência estrangeira.

Mas a pesquisa mostra que o uso das táticas, que incluem bots , contas falsas nas redes sociais e “trolls” contratados, está crescendo. Nos últimos dois meses, as plataformas suspenderam contas vinculadas a governos da China e da Arábia Saudita.

Ben Nimmo, diretor de investigações da Graphika, empresa especializada em análise de mídias sociais, disse que o crescente uso da desinformação da internet é preocupante para as eleições de 2020 nos Estados Unidos. Uma mistura de grupos nacionais e estrangeiros, operando de forma autônoma ou com vínculos frouxos com um governo, está se desenvolvendo a partir dos métodos usados pela Rússia nas últimas eleições presidenciais, dificultando o policiamento das plataformas, afirmou.

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— O perigo é a proliferação das técnicas — disse ele. — Qualquer pessoa que queira influenciar a eleição de 2020 pode ficar tentada a copiar o que a operação russa fez em 2016.

O surgimento da China como uma poderosa força na desinformação global é um dos desenvolvimentos mais significativos do ano passado, disseram os pesquisadores. O país usa propaganda há muito tempo, mas os protestos deste ano em Hong Kong trouxeram evidências de que seus esforços estão em expansão. Em agosto, Facebook, Twitter e YouTube suspenderam contas vinculadas a Pequim que disseminavam desinformação sobre os protestos.

Philip N. Howard, diretor do Oxford Internet Institute e um dos autores do relatório, disse que essas campanhas de desinformação on-line não podem mais ser entendidas como o trabalho de “hackers solitários, ativistas individuais ou adolescentes no porão fazendo coisas para obter cliques”.

— Há um novo profissionalismo na atividade, com organizações formais que usam planos de contratação, bônus por desempenho e recepcionistas — disse ele.

Nos últimos anos, os governos usaram "tropas cibernéticas" para moldar a opinião pública, incluindo redes de bots para ampliar uma mensagem, grupos de "trolls" para assediar dissidentes políticos ou jornalistas e dezenas de contas falsas nas redes sociais para intimidar pessoas envolvidas em questões políticas, diz o estudo.

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O relatório aponta que as táticas não estão restritas limitadas a grandes países, mas que Estados menores também podem facilmente estabelecer operações de manipulação na internet. Os pesquisadores de Oxford disseram que a mídia social está sendo cada vez mais cooptada pelos governos para suprimir os direitos humanos, desacreditar os oponentes políticos e reprimir a dissidência, inclusive em países como Azerbaijão, Zimbábue e Bahrein.

No Tadjiquistão, estudantes universitários foram recrutados para criar contas falsas e compartilhar pontos de vista pró-governo. Durante investigações sobre campanhas de desinformação em Mianmar, surgiram evidências de que oficiais militares foram treinados por agentes russos sobre como usar as mídias sociais.

A maioria dos esforços de desinformação vinculados a governos era voltada para contextos internos, concluíram os pesquisadores. Mas pelo menos sete países tentaram influenciar pontos de vista fora de suas fronteiras: China, Índia, Irã, Paquistão, Rússia, Arábia Saudita e Venezuela, acrescentaram.

Bradshaw disse que, nos estudos de caso identificados pela equipe de Oxford, a publicidade não era central para a disseminação da desinformação. Em vez disso, disse ela, as campanhas procuraram criar memes, vídeos e outros conteúdos para tirar proveito dos algoritmos das redes sociais e de seus efeitos amplificadores, explorando o potencial viral das plataformas gratuitamente.

Bradshaw disse que tanto a regulamentação de governos quanto as medidas tomadas pelo Facebook para combater esse tipo de desinformação não foram suficientes.

Grande parte da regulamentação "tende a se concentrar no conteúdo" ou em "problemas marginais", disse ela, apontando esforços como a transparência do Facebook em sua política de anúncios.

— Mas, com base em nossa pesquisa, sabemos que esse problema de anúncios de segmentação múltipla é na verdade apenas uma parte muito pequena dos problemas — disse Bradshaw, acrescentando que o Facebook não abordou problemas estruturais mais profundos que facilitam a disseminação de informações falsas e enganosas.

— Para resolver isso, você precisa examinar o algoritmo e o modelo de negócios subjacente — disse Bradshaw.

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