Artigo

Minha vida entre listas

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23

Fui presenteado recentemente pela amiga, poetisa e confreira Laura Amélia Damous com uma dádiva especial: o livro Listas Extraordinárias, em tudo e por tudo um livro extraordinário.

A inspiração para esse presente surgiu-lhe de uma crônica que escrevi neste mesmo jornal em que o assunto foi justamente minha sedução por listas. A ponto de ter sido cognominado de ‘listador’ pelo também confrade Joaquim Haickel no prefácio que gentilmente escreveu para o meu próximo livro de contos, prestes a ser publicado, cujo título inspirado em um dos contos se chama Pequeno Dicionário de Paixões Cruzadas, um conto policial narrado em formato de listas, eis que um dicionário, ao fim, não passa de uma lista de palavras.

Esse fato foi destacado pela visão cinematográfica do mesmo que chegou a esse cognome a partir dos assuntos dispostos em sequência numérica em muitos de meus textos para jornal. Quando lembro que, certa vez, também em uma crônica, reclamei da ausência do samba Camisa Listrada de Assis Valente da lista das melhores músicas da música popular brasileira, suspeito que não sou apenas seduzido mas associado a elas. Concluo que esta é uma bendita sina, já que graças a ela - e a generosidade de minha amiga Laura -, tornei-me possuidor deste verdadeiro tesouro.

Este, por sua vez difere em essência de O Livro das Listas de Irving Wallace citado na crônica anterior, onde as listas são provocadas ou imaginadas a partir da opinião de especialistas sobre vários assuntos, sendo, portanto, em grande parte fictícias. No presente livro, não. Um cuidadoso trabalho de pesquisa disponibilizou listas reais (todas fotografadas) fazendo realçar aspectos da personalidade de seus autores e do ambiente em que viviam num valioso trabalho biográfico e histórico. São sequências por vezes triviais, mas sempre curiosas e até mesmo espetaculares pela informação trazida. Desde a lista de exigências de Einstein para sua esposa até os motivos de internação em um hospital da Virgínia Ocidental de 1864 a 89 há listas para qualquer gosto podendo ser:

Tragicômicas. A lista dos conselhos do famoso ensaísta e clérigo Sidney Smith para sua grande amiga com depressão guarda ‘pérolas’ como estas: 1) Viva o melhor que puder... até 2) Por fim, acredite em mim, querida Georgiana.

Imperiosas. Os onze mandamentos de Henry Miller para ele mesmo evidenciam o esforço que ele demandava para se autodisciplinar, ao se ordenar: “Não comece a escrever outros livros, não acrescente mais nada a Primavera Negra”... até findar em: “Escreva primeiro e sempre. Leitura, música e amigos, deixe tudo isso para depois”.

Patéticas. As listas de esforços de Sylvia Plath e Marilyn Monroe guardam extraordinária semelhança (as duas se suicidaram) na tentativa de serem felizes. A de Sylvia começava dizendo: “Mantenha constantemente um ar de alegria”.

Engraçadas. A lista de símiles de Raymond Chandler que as acumulava para sua narrativa policial irônica e noir é de morrer de rir: “Sexy como uma tartaruga, frio como um calção de uma freira, raro como um carteiro gordo, bonita como uma tina de lavar roupa...” etc. etc.

E foi assim que O livro das listas extraordinárias entrou na minha lista dos mais preciosos livros.

José Ewerton Neto

Autor de O ofício de matar suicidas

E-mail: ewerton.neto@hotmail.com

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