Coluna do Sarney

Tempo de maré grande

Coluna do Sarney

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23

O fenômeno é geológico e, portanto, acontece antes do tempo da humanidade: a maré sobe e desce mais em função da sizígia, isto é, do alinhamento dos astros, no caso Terra, Sol e Lua e sobretudo dos equinócios, que são os momentos em que o Sol cruza o Equador.

Para proteger os terrenos destas marés grandes, foi preciso que Roseana fizesse o Espigão da Ponta d’Areia. Uma alternativa seria proteger a cidade com diques, à maneira dos holandeses, que vivem muitas vezes abaixo do nível do mar (em 17% do território) e sempre dependentes do manejo cuidadoso das comportas, que permitem o acesso ao Mar do Norte ou aos lagos como o Markermeer, que banha Amsterdam.

Esses holandeses - naturais dos Países Baixos, será que os devíamos chamar baixinhos? -, quando vieram ao Maranhão, já tinham começado, lá, a conquistar o mar, construindo os polders. Estes aterros com diques, que eles não inventaram, mas aperfeiçoaram de tal maneira que ninguém pode pensar neles sem pensar nos neerlandeses - assim são chamados, oficialmente, os holandeses -, constituem mais de metade da superfície terrestre da Holanda. Nos últimos anos, preocupados com as mudanças climáticas, eles têm preparado novas medidas, que vão da elevação dos diques até a mecanismos de controle muitíssimos engenhosos e serviços de monitoramento avançados. Com isso, andar ou navegar por Amsterdam é coisa que se pode fazer sem medo de se molhar com água vinda do mar - quando cai das nuvens não tem jeito, molha como aqui.

Fico pensando se eles não escolheram Recife e São Luís já de olho em diques que poderiam fazer. Mas no caso daqui talvez a razão seja outra, a profundidade dos canais da Baía de São Marcos, equivalente à de Rotterdam. É claro que, naquela época, não se podia nem sonhar com os mega navios que fazem fila para entrar no porto do Itaqui.

Quando fizemos a Barragem do Bacanga, preparamos tudo para fazer o fechamento na maré seca, o contraponto da maré alta, portanto a mais baixa das marés. A subida da maré foi mais rápida que nossos caminhões de pedras, e de repente um pequeno trator começou a ser cercado pelas águas. Como não tínhamos tempo de o salvar sem perder o trabalho, mandei que o deixassem lá, e ele é hoje parte do dique de fechamento.

Nossas marés, as maiores do Brasil, estão longe das maiores do mundo, que se aproximam dos 20 metros. A mais famosa não é a maior, mas a do Monte Saint-Michel, segundo ponto turístico da França, onde se diz que ela sobe como um cavalo a galope. Bem, ali São Miguel Arcanjo jogou o Diabo no Inferno, é natural que a natureza se agite. Perto, em Saint Malo, foi feita a grande usina elétrica de La Rance, que utiliza a força das marés.

Não sei é por que a Prefeitura de São Luís colocou mais quatro quadriciclos, em vez de botes, para ajudar a prevenir que algum descuidado, se afogue em terra, pois o risco é de ser pego desprevenido pela chegada da maré de sizígia do equinócio de setembro, que será na segunda-feira.

Bom banho!

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