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Brexit: europeus dizem que não receberam proposta aceitável

Após encontro com Boris Johnson, a União Europeia só aceita um Brexit que inclua um mecanismo que evite uma fronteira marcada entre a Irlanda e a Irlanda do Norte, chamada de ''backstop''

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23
Boris Johnson e Jean-Claude Juncker, após encontro em Luxemburgo, em setembro de 2019
Boris Johnson e Jean-Claude Juncker, após encontro em Luxemburgo, em setembro de 2019 (Reuters)

LONDRES - O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, disse ao primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, ontem,16, que ele deve apresentar propostas com as quais se possa trabalhar para substituir as condições do Brexit (a saída da União Europeia).

“O presidente Juncker lembrou que é responsabilidade do Reino Unido apresentar uma solução legal que seja compatível com o termo de retirada”, disse a Comissão Europeia, em uma declaração divulgada após um almoço em que os dois se encontraram, em Luxemburgo.

O governo de Johnson ainda não anunciou suas propostas para resolver o problema da fronteira da Irlanda com a Irlanda do Norte oficialmente.

A União Europeia aceitaria um “backstop”, um mecanismo para que não haja uma marcação da divisão territorial entre as duas Irlandas –se houver alfândegas, postos de fiscalização e parafernália para evitar o fluxo sem interrupções, há risco de violência.

Johnson insiste

O representante da União Europeia salientou a disposição da Comissão para examinar se as propostas estão de acordo com os objetivos do “backstop”. “Tais propostas não foram feitas ainda”, de acordo com o comunicado.

Antes do encontro, Johnson, disse que sentia cauteloso. A retórica dos dois durante os últimos dois dias sugere que eles ainda estão em descompasso.

Com menos de sete semanas até a data da saída do Reino Unido da União Europeia (UE), Johnson ainda precisa entrar alcançar um entendimento com Bruxelas sobre como gerenciar a separação da quinta maior economia do mundo e o seu maior parceiro econômico.

Reino Unido diz querer um acordo

Ele afirmou, no domingo,15, que ainda buscava um acordo antes do dia 31 de outubro, a data da saída, e que os próximos dias serão vitais.

“Acredito apaixonadamente que conseguiremos, e eu acredito que esse acordo é no interesse não só do Reino Unido, mas para os nossos amigos europeus”, escreveu Johnson no jornal “Daily Telegraph”.

O futuro da fronteira em terra entre a Irlanda, membro da União Europeia, e a província britânica da Irlanda do Norte, é o tema central das discordância entre Johnson e o bloco europeu, e também entre o primeiro-ministro e os parlamentares britânicos.

O Parlamento do Reino Unido rejeitou três vezes um acordo negociado por Theresa May, que antecedeu Johnson, que incluía o mecanismo chamado de “backstop” para manter a fronteira na Irlanda aberta.

Johnson disse aos jornalistas que ele se sentia cauteloso ao entrar em no restaurante em Luxemburgo com Juncker, onde ele deveria fazer uma apresentação para seu propósito de um acordo revisado que ele espera que seja aprovado pelos europeus em um encontro nos dia 17 e 18 de outubro.

Uma fonte do governo do Reino Unido disse que os dois líderes, que não se encontram desde que Johnson virou primeiro-ministro, em julho, vão comer salmão, queijo e escargots.

O site do restaurante Bouquet Garni, um edifício do século XVIII, tem paredes de pedra e teto baixo e fica no centro medieval de Luxemburgo. O cardápio de salmão e escargot tem preço fixo de cerca de 34 euros (cerca R$ 154).

O ministro britânico para lidar com o Brexit, Stephen Barclay, e o negociador europeu, Michel Barnier, também estavam na mesa.

Havia um protesto contra Johnson de cerca de 20 pessoas do lado de fora.

Sem tempo, irmão

Enquanto Johnson e seus ministro, nos últimos dias, afirmaram que houve progresso nas negociações com Bruxelas, do lado europeu o otimismo é menor. A ênfase nas últimas entrevistas está no argumento de que o Reino Unido deve apresentar novas ideias.

Em uma entrevista a uma rádio alemã no domingo (15), Juncker disse que não haveria possibilidade de reabrir o acordo negociado por Theresa May.

“Acredito que precisamos manter uma relação decente com o Reino Unido e eu não estou otimista em relação a encontrar arranjos alternativos que vão nos permitir limitar o ‘backstop’ irlandês”, disse ele.

“Não não sabemos o que os britânicos querem em detalhe, precisamente e exatamente, e estamos esperando propostas alternativas. Eu espero que nós consigamos, mas o tempo está acabando.”

Johnson prometeu sair da União Europeia com ou sem acordo no dia 31 de outubro, ainda que os legisladores britânicos tenham aprovado uma lei que o obriga a pedir uma prorrogação de prazo nessa data, se ele não conseguir chegar a um entendimento com os europeus.

“Há muitos no Reino Unido que veem uma saída sem acordo de forma positiva, sem considerar as implicações –tanto nas ilhas como no continente” disse Juncker.

“Seria um caos, e nós precisaríamos de anos para conseguir colocar as coisas em ordem novamente”, completou.

O governo do Reino Unido se preparou para mitigar a falta de comida, combustível e remédios no caso de uma saída sem acordo.

A posição do governo britânico, de acordo com uma fonte que pede para não ser identificada, é a seguinte: eles querem um acordo, mas ele não pode incluir o “backstop”.

De acordo com essa pessoa, Johnson deixará claro para Juncker que mesmo se os europeus oferecerem um novo prazo, além do dia 31 de outubro, o primeiro-ministro vai recusar.

No entanto, Nigel Farage, um político inglês que faz campanha pelo Brexit, afirmou à Reuters que ele esperava um atraso na saída porque ele diz acreditar que, apesar da elite política em Londres estar planejando com a União Europeia uma traição do resultado do referendo de 2016, o Parlamento rejeitaria um acordo de último minuto.

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