Artigo

[...] quero aprender tua poesia

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23

Passados 7 anos de quando São Luís completou seu quarto centenário, eis que a cidade amanhece em festa de novo. Nova idade, desafios novos também. Mas eu escolho, propositadamente, enfocar nesta data natalícia um dos melhores aspectos da Upaon-Açu: a vocação para despertar poetas e cancioneiros.

Afinal, quem nunca se maravilhou com o voo de um bando de guarás ao cair da tarde sobre a ponte Bandeira Tribuzi? Quem não sentiu a manhã mais viva ao se deparar com o cume da Igreja da Sé ao adentrar a ponte de São Francisco? Quantos não viveram emoções no sobe e desce das ladeiras e escadarias que adornam o centro da cidade? O que dizer do pôr do sol, na Ponta D´Areia, possível de ser desfrutado mesmo quando estamos nos veículos, absortos no trânsito intenso da ilha de São Luís do Maranhão?

O paraibano (mas maranhense de alma e coração) José Chagas, em Canhões do Silêncio, elevou nossos olhares para um dos principais cartões postais da cidade: Aqui os telhados brotam como roças. São vales plantados de saudades nossas, suspensos jardins de uma Babilônia de sonhos afins e de lenda errônea, de que nos falaram antes a Bíblia, Camões e Bandeira Tribuzi, em poemas também indeléveis.

É de Chagas também em Canhões do Silêncio a definição que coloca a cidade num espasmo de luz e de deslumbramento: São Luís é toda de manhã como o aviso claro de um dia/ São Luís requer a alegria do olho,/ mas também do salto da alma/ e até o labor interno do sonho/ em sua fúria mansa sobre o real.

Outros poetas igualmente inspirados retiraram da cidade a tônica para suas criações literárias, como forma de denunciar perigos e desmandos. Ferreira Gullar, em O Poema Sujo - um manifesto-protesto que integra o panteão dos melhores poemas nacionais - ciceroneia o leitor a um passeio pelas ruas que nós, que aqui vivemos, conhecemos tão bem: “meu corpo nascido numa porta-e-janela da Rua dos Prazeres ao lado de uma padaria sob o signo de Virgo / [...] balcões de quitanda pedras da Rua da Alegria beirais de casas”.

Nauro Machado, em Pequena Ode a Tróia, lamenta em versos o quadro que se lhe apresenta a cidade: Como te massacraram, ó cidade minha! / Antes, mil vezes antes fosses arrasada/ por legiões de abutres do infinito vindos/ sobre coisas preditas ao fim do infortúnio/ (ânsias, labéus, lábios, mortalhas, augúrios).

E houve aqueles que escolheram o olhar do amor para erguer suas composições. Clóvis Ramos, amazonense de nascimento, porém maranhense de coração, evoca sua saudade da capital do Maranhão (in São Luís do Maranhão é Poesia, 1922) e se (re) descobre um novo epíteto para ela: “Ah! tudo em São Luís vira poesia/ na saudade que vem, terna saudade,/ que nos maltrata e nos aliviar/ E sonhando um amor, espero, ainda,/ rever a terra da felicidade,/ que tanto quero, com ternura infinda/ (...)São Luís é a cidade da ternura.../ Em cada canto um sonho meu perdura,/ perdura, em cada canto, o olhar de alguém”

Carlinhos Veloz, por sua vez, declara seu amor em Ilha Bela e roga a Deus que conserve a ilha regada a reggae: “...Na lua cheia ,/ Ponta da Areia,/ minha sereia/ dança feliz/ E brilham sobrados,/ brilham telhados/ da minha linda São Luís/Que ilha bela/ Que linda tela/ conheci...”

O magnetismo da ilha foi tema dos versos de César Nascimento quando este passeia por nossas praias... “Ponta da Areia, Olho d'Água e Araçagy/ Mesmo estando na Raposa/Eu sempre vou ouvir/a natureza me falando que o amor nasceu aqui ...”

O que dizer ainda dos versos de Bandeira Tribuzi, em Louvação a São Luís, cuja frase intitula este artigo? Ou ainda da saudade gonçalvina que afirma que as aves e as árvores da terra distante não se comparam com a beleza natural deste lugar? “As aves que aqui gorjeiam/ não gorjeiam como lá”.

Eu que um dia saí de minha terra santa, Cururupu, para também trilhar nova jornada em São Luís, irmano-me a seus numerosos filhos, naturais e adotivos, nas palavras de cada poema e canção aqui já expostos. Afinal, como ecoa nos versos cantados e encenados pelo Boizinho Barrica: “(...) a ilha maravilhosa, majestosa, altaneira, São Luís do Maranhão São Luís do Maranhão...”

Viva São Luís!


Natalino Salgado Filho

Médico, doutor em Nefrologia, ex-reitor da UFMA, membro da ANM, da AML, da AMM, Sobrames e do IHGMA


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