Entrevista

Há diferença nas regras de trânsito de ferrovias e rodovias?

Além de conviver com rodovias, mais de 300 comunidades do Maranhão precisam cruzar a Estrada de Ferro Carajás, uma das principais do Brasil; e os cuidados com o funcionamento desse trânsito?

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23
João Falcão é gerente-executivo da Estrada de Ferro Carajás e dá informações sobre o trânsito na ferrovia
João Falcão é gerente-executivo da Estrada de Ferro Carajás e dá informações sobre o trânsito na ferrovia (João Falcão - Vale)

É durante o mês de setem­bro que geralmente a sociedade debate e intensifica as campanhas de conscientização sobre os cuidados básicos que motoristas e pedestres devem ter no trânsito. Afinal, no dia 25 deste mês é celebrado o Dia Nacional do Trânsito. Mas quando se toca no assunto, muita gente ainda costuma associá-lo apenas às rodovias ou às ruas das cidades e esquece que, assim como nas rodovias, o trânsito ferroviário também tem regras próprias previstas no Código Brasileiro de Trânsito (CBT) e merece destaque nessa discussão.

No Brasil, são mais de 30 mil quilômetros de ferrovia. No Maranhão, está instalada a Estrada de Ferro Carajás, uma das mais importantes para o país. São 892 quilômetros de extensão, ao lon­go de 25 municípios no estado, fazendo vizinhança com centenas de comunidades e milhares de pessoas. A ferrovia, operada pela Vale por meio de concessão federal, também é responsável pelo transporte de mais de 300 mil passageiros por ano.

Para entender melhor essa realidade e as diferenças entre os cuidados entre ferrovias e rodovias, João Falcão, atual gerente-executivo da Estrada de Ferro Carajás, explica como a empresa trabalha para informar e conscientizar as comunidades que precisam cruzar a ferrovia todos os dias.

Quando o assunto é segurança, como você define as diferenças entre ferrovia e a rodovia?
Rodovia e ferrovia são dois mo­dais de transporte fundamentais para o Brasil, e no que se refere à segurança demandam cuidados muito semelhantes: obedecer a sinalização, utilizar as passagens oficiais - que no caso das ferrovias são as passarelas para pedestres, viadutos e passagens inferiores para veículos - e nunca arriscar um cruzamento com o trem se aproximando.
Assim como nas rodovias, o Código Brasileiro de Trânsito também prevê penalidades para quem desrespeita essas regras. Infelizmente, muita gente ainda acha que não é obrigada a segui-las, porque não é comum você ouvir falar de penalidades aplicadas.

Em resumo, o que o Código Brasileiro de Trânsito (CTB) fala sobre ferrovias?
O Artigo 29 do CTB, entre outras coisas, diz que os veículos que se deslocam sobre trilhos têm preferência de passagem sobre os demais, respeitadas as normas de circulação.
O Código também prevê penalidade: o Artigo 212 do mesmo código diz que deixar de parar o veículo antes de transpor linha férrea é infração gravíssima e tem como penalidade a multa.
Essas regras estão baseadas em estudos e precisam ser seguidas para evitar acidentes de grandes proporções.

Por que o trem tem prioridade nos cruzamentos?
É uma questão muito simples. Um trem chega a pesar até 40 mil toneladas quando está carregado e, por isso, não consegue frear como um automóvel. É algo impossível. Mesmo depois do maquinista aplicar o freio de emergência, o trem ainda precisa de quase um quilômetro para sua parada completa, dependendo do caso. Não é uma questão de escolha. Essa regra existe para evitar acidentes de grandes proporções. Na dúvida, o certo é não arriscar.

Há cuidados específicos pa­ra lidar com as ferrovias?
Sim, mas a dica principal é muito simples: siga a orientação das placas afixadas nas passagens em nível, pare antes de cruzar a ferrovia, olhe para os dois lados e escute. Há outros cuidados específicos que eu posso citar:
Na grande parte da EFC, os trens circulam nos dois sentidos. Por isso, é proibido, e muito perigoso, permanecer entre duas linhas férreas. O pedestre corre o risco de ficar confinado entre dois trens. Mantenha uma distância mínima de 4 passos largos com relação aos trilhos, porque as locomotivas e os vagões são mais largos do que a linha dos dormentes. Uma dessas extremidades pode atingir o pedestre ou veículo. É necessário manter essa distância lateral da via.

E como vocês fazem para esclarecer isso para as comunidades, considerando que geralmente as campanhas pú­blicas focam nos cuidados do trânsito rodoviário?
Infelizmente, em quase todos os acidentes envolvendo pedestres ou motoristas, há um fator de imprudência, desatenção ou avaliação incorreta de riscos. Por isso, a consciencialização é tão importante.
Em relação à Estrada de Ferro Carajás, posso dizer que é um trabalho de diálogo e comunicação constantes. Temos equipes ao longo da ferrovia em contato com as pessoas para esclarecer sobre esse e outros assuntos. Além des­se trabalho, investimos em campanhas permanentes de rádio cobrindo toda a extensão da linha férrea.
Há ainda as ações promocionais como o Caravana Nos Trilhos, que leva conhecimento e lazer para comunidades vizinhas e já alcançou quase 30 mil pessoas desde que foi iniciado.
O Alô Ferrovias é outro canal importante onde a comunidade pode apontar uma situação de risco, dar feedback sobre o que está acontecendo, reclamar, elogiar etc. Funciona 24 horas, todos os dias da semana. O telefone é 0800 285 7000.

Que resultados vocês têm alcançado? Como a Estrada de Ferro Carajás está classificada em relação à segurança, comparada a outras ferrovias do Brasil?
Em 2018, a Estrada de Ferro Carajás alcançou o melhor índice de segurança entre as ferrovias brasileiras, segundo classificação da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Esse resultado reflete não só o trabalho de diálogo junto às comunidades, esclarecendo sobre os comportamentos necessários para uma convivência segura com a linha férrea, mas também as iniciativas em tecnologia, monitoramento e mobilidade. Importante destacar que a melhoria contínua desse patamar de segurança se reverte em benefício direto para as pessoas que utilizam o Trem de Passageiros no Maranhão e Pará. São mais de 300 mil por ano, com uma tarifa cerca de 40 % menor que a praticada pelo transporte rodoviário quando comparamos o mesmo percurso.

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