É durante o mês de setembro que geralmente a sociedade debate e intensifica as campanhas de conscientização sobre os cuidados básicos que motoristas e pedestres devem ter no trânsito. Afinal, no dia 25 deste mês é celebrado o Dia Nacional do Trânsito. Mas quando se toca no assunto, muita gente ainda costuma associá-lo apenas às rodovias ou às ruas das cidades e esquece que, assim como nas rodovias, o trânsito ferroviário também tem regras próprias previstas no Código Brasileiro de Trânsito (CBT) e merece destaque nessa discussão.
No Brasil, são mais de 30 mil quilômetros de ferrovia. No Maranhão, está instalada a Estrada de Ferro Carajás, uma das mais importantes para o país. São 892 quilômetros de extensão, ao longo de 25 municípios no estado, fazendo vizinhança com centenas de comunidades e milhares de pessoas. A ferrovia, operada pela Vale por meio de concessão federal, também é responsável pelo transporte de mais de 300 mil passageiros por ano.
Para entender melhor essa realidade e as diferenças entre os cuidados entre ferrovias e rodovias, João Falcão, atual gerente-executivo da Estrada de Ferro Carajás, explica como a empresa trabalha para informar e conscientizar as comunidades que precisam cruzar a ferrovia todos os dias.
Quando o assunto é segurança, como você define as diferenças entre ferrovia e a rodovia?
Rodovia e ferrovia são dois modais de transporte fundamentais para o Brasil, e no que se refere à segurança demandam cuidados muito semelhantes: obedecer a sinalização, utilizar as passagens oficiais - que no caso das ferrovias são as passarelas para pedestres, viadutos e passagens inferiores para veículos - e nunca arriscar um cruzamento com o trem se aproximando.
Assim como nas rodovias, o Código Brasileiro de Trânsito também prevê penalidades para quem desrespeita essas regras. Infelizmente, muita gente ainda acha que não é obrigada a segui-las, porque não é comum você ouvir falar de penalidades aplicadas.
Em resumo, o que o Código Brasileiro de Trânsito (CTB) fala sobre ferrovias?
O Artigo 29 do CTB, entre outras coisas, diz que os veículos que se deslocam sobre trilhos têm preferência de passagem sobre os demais, respeitadas as normas de circulação.
O Código também prevê penalidade: o Artigo 212 do mesmo código diz que deixar de parar o veículo antes de transpor linha férrea é infração gravíssima e tem como penalidade a multa.
Essas regras estão baseadas em estudos e precisam ser seguidas para evitar acidentes de grandes proporções.
Por que o trem tem prioridade nos cruzamentos?
É uma questão muito simples. Um trem chega a pesar até 40 mil toneladas quando está carregado e, por isso, não consegue frear como um automóvel. É algo impossível. Mesmo depois do maquinista aplicar o freio de emergência, o trem ainda precisa de quase um quilômetro para sua parada completa, dependendo do caso. Não é uma questão de escolha. Essa regra existe para evitar acidentes de grandes proporções. Na dúvida, o certo é não arriscar.
Há cuidados específicos para lidar com as ferrovias?
Sim, mas a dica principal é muito simples: siga a orientação das placas afixadas nas passagens em nível, pare antes de cruzar a ferrovia, olhe para os dois lados e escute. Há outros cuidados específicos que eu posso citar:
Na grande parte da EFC, os trens circulam nos dois sentidos. Por isso, é proibido, e muito perigoso, permanecer entre duas linhas férreas. O pedestre corre o risco de ficar confinado entre dois trens. Mantenha uma distância mínima de 4 passos largos com relação aos trilhos, porque as locomotivas e os vagões são mais largos do que a linha dos dormentes. Uma dessas extremidades pode atingir o pedestre ou veículo. É necessário manter essa distância lateral da via.
E como vocês fazem para esclarecer isso para as comunidades, considerando que geralmente as campanhas públicas focam nos cuidados do trânsito rodoviário?
Infelizmente, em quase todos os acidentes envolvendo pedestres ou motoristas, há um fator de imprudência, desatenção ou avaliação incorreta de riscos. Por isso, a consciencialização é tão importante.
Em relação à Estrada de Ferro Carajás, posso dizer que é um trabalho de diálogo e comunicação constantes. Temos equipes ao longo da ferrovia em contato com as pessoas para esclarecer sobre esse e outros assuntos. Além desse trabalho, investimos em campanhas permanentes de rádio cobrindo toda a extensão da linha férrea.
Há ainda as ações promocionais como o Caravana Nos Trilhos, que leva conhecimento e lazer para comunidades vizinhas e já alcançou quase 30 mil pessoas desde que foi iniciado.
O Alô Ferrovias é outro canal importante onde a comunidade pode apontar uma situação de risco, dar feedback sobre o que está acontecendo, reclamar, elogiar etc. Funciona 24 horas, todos os dias da semana. O telefone é 0800 285 7000.
Que resultados vocês têm alcançado? Como a Estrada de Ferro Carajás está classificada em relação à segurança, comparada a outras ferrovias do Brasil?
Em 2018, a Estrada de Ferro Carajás alcançou o melhor índice de segurança entre as ferrovias brasileiras, segundo classificação da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Esse resultado reflete não só o trabalho de diálogo junto às comunidades, esclarecendo sobre os comportamentos necessários para uma convivência segura com a linha férrea, mas também as iniciativas em tecnologia, monitoramento e mobilidade. Importante destacar que a melhoria contínua desse patamar de segurança se reverte em benefício direto para as pessoas que utilizam o Trem de Passageiros no Maranhão e Pará. São mais de 300 mil por ano, com uma tarifa cerca de 40 % menor que a praticada pelo transporte rodoviário quando comparamos o mesmo percurso.
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