Artigo

Por onde anda o Seu Gertrudes

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23

Dias atrás, estando eu em viagem a trabalho no Rio de Janeiro, lembrei-me dos tempos de outrora, quando se praticava a máxima de que o melhor hospital daqui de São Luís era o velho avião da VASP. Resolvi esticar um pouco mais e aproveitar para realizar o meu check-up executivo em um dos hospitais mais conceituados de São Paulo.

Munido das orientações recebidas, agendei a maratona de exames e consultas para ser realizada em um só dia. Sai do hotel bem cedo em direção ao Hospital. Fazia muito frio. Eu, de tênis e short, estava mais para atleta que para paciente...

Chegando à recepção, constatei que já estavam esperando por mim. Fui muito bem atendido e identificado corretamente com uma pulseirinha colorida, apto a cumprir toda a agenda de exames e consultas.

Na primeira delas fui recebido por uma médica que me tomou a pressão arterial e, ao ser indagada por mim, leu em voz alta o resultado:

- 15 por 10! Disse-me ela.

Argumentei que o aparelho deveria estar danificado ou que ela tomasse o meu outro braço e repetisse o exame. Assim foi feito.

- 15 por 10! Repetiu com aquele ar de superioridade.

Insisti para que ela buscasse um novo aparelho pois a minha pressão sempre se manteve em 12 por 8. A médica tentou me tranquilizar dizendo que às vezes isso ocorria, que eu poderia estar um pouco estressado, mas que eu não me preocupasse, pois a cada consulta eu seria monitorado.

Na avaliação seguinte, foi tomada novamente a minha pressão arterial. Resultado: 12 por 8! Solicitei à medica que repetisse o exame, desta feita tomando o outro braço (meu, é lógico!) Ela, mesmo sem entender, refez o exame confirmando o resultado.

Expliquei a ela o que havia ocorrido quando da consulta anterior e solicitei que chamasse a colega para trazer o aparelho, pois o mesmo estava danificado, conforme eu havia diagnosticado.

- Doutora, lá no Maranhão eu é que sou chamado nos hospitais para calibrar os aparelhos, disse em tom de blague.

Dito e feito: foi comprovado que o aparelho estava com defeito e eu saí da consulta orgulhoso com a minha saúde e a minha capacidade de diagnosticar defeitos nos aparelhos medidores de pressão.

Mas o melhor ainda estava por vir.

Percorri e venci todas as etapas da maratona e, por volta das 14h00, fui chamado à recepção onde recolheram a minha pulseira e me entregaram, em mãos, alguns resultados dos exames além de uma folha, identificada com uma enorme etiqueta, com a recomendação para tomar uma serie de vacinas. Justifiquei que retornaria no domingo e que as tomaria quando chegasse à minha cidade.

Assim o fiz. Ao retornar a São Luís, dirigi-me a um laboratório de onde saí todo furado e onde deixei uma baita grana.

No dia seguinte, ao tomar o café da manhã, Beth, minha mulher, ao ver aquela folha com a recomendação das vacinas, indagou-me o que era aquilo. Teve suas explicações, mas me fez um alerta que me deixou muito preocupado.

Ao chegar no trabalho pus-me em frente ao teclado do meu computador e enviei uma mensagem ao dito e renomado hospital de São Paulo:

“Prezados Senhores. Recebi, em mãos, quando do término de meu check-up, realizado dia 16 de agosto, uma folha com orientações para tomar uma série de vacinas.

Ao chegar a São Luis, dirigi-me ao Laboratório e tomei as vacinas recomendadas.

No entanto, no dia seguinte, descobri que o documento que o Hospital me entregou não era para mim. Estava endereçado ao Sr. José Gertrudes Soares prontuário no. 816966...

Não sei por onde anda o seu Gertrudes, e nem como anda a sua saúde, no entanto peço que informem a ele que não precisa mais tomar as vacinas. Eu já as tomei por ele...”

Mas sei que eu, depois dessas vacinas todas, estou imunizado para o que der e vier.

José Jorge Leite Soares

Ex-deputado estadual, membro da Academia Pinheirense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão

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