Plano para o Brexit

Boris Johnson perde maioria em meio a revolta parlamentar

Deputado Phillip Lee trocou o Partido Conservador pelo Liberal Democrata, durante debate sobre lei que pretende impedir saída da UE sem acordo de transição; 31 de outubro é a data prevista para o Brexit

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23
Johnson disse aos parlamentares que lei que impede Brexit sem acordo de transição pode dificultar sua negociação com a União Europeia
Johnson disse aos parlamentares que lei que impede Brexit sem acordo de transição pode dificultar sua negociação com a União Europeia (AFP)

LONDRES — O primeiro-ministro britânico Boris Johnson perdeu sua frágil maioria de uma cadeira no Parlamento, ontem, 3, quando o deputado Phillip Lee trocou o Partido Conservador , no qual militava havia 27 anos, pelo Liberal Democrata . Lee anunciou a mudança durante a sessão em que os deputados iniciaram a discussão de um projeto de lei que forçará o primeiro-ministro a pedir à União Europeia uma nova extensão de três meses para a saída do Reino Unido do bloco, caso não haja um acordo de transição até 31 de outubro, a data atualmente prevista para o Brexit .

"Eu cheguei à conclusão de que não é possível servir aos meus eleitores e aos interesses do país como membro do Partido Conservador no Parlamento", disse Lee em comunicado. "Este governo conservador está buscando um Brexit de modo agressivo e sem princípios. Está pondo as vidas e as condições das pessoas em risco desnecessário e pondo arbitrariamente em risco a integridade do Reino Unido", acusou o deputado, cuja deserção torna ainda mais difícil para Johnson aprovar um Brexit sem acordo.

O Partido Conservador de Johnson perdeu a maioria absoluta no Parlamento de 650 cadeiras nas últimas eleições gerais, em 2017. Para se manter no poder, negociou uma coalizão com o Partido Democrático Unionista (DUP) da Irlanda do Norte, ficando com uma maioria estreita de 327 cadeiras, ou dois deputados além da maioria simples. Essa maioria, entretanto, já havia sido reduzida para apenas um assento em agosto último, após os conservadores perderem uma eleição suplementar em um distrito do País de Gales.

Na segunda-feira, Johnson ameaçou propor a convocação de eleições gerais para 14 de outubro caso uma lei que o impeça de implementar o Brexit em 31 de outubro seja aprovada. Nesta terça-feira, o líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn, anunciou que está disposto a ir a novas eleições. O Partido Trabalhista, no entanto, só aprovará um pleito antecipado — para o que seriam necessários os votos de dois terços dos parlamentares — depois da aprovação da lei que impede um Brexit sem acordo de transição com a UE.

Legendas opositoras

A votação do projeto de lei, que conta com o apoio de outras legendas opositoras e de dissidentes do Partido Conservador, está prevista para amanhã. Nesta noite, o Parlamento votará um requerimento para que o projeto ganhe prioridade na pauta e tramite em regime de urgência. Se aprovado nesta quarta, o projeto seguirá então para a Câmara dos Lordes, onde deverá ser considerado amanhã, 5.

Em resposta ao cerco dos opositores, Johnson, em pronunciamento no Parlamento, disse que a lei que os deputados pretendem aprovar minaria as chances de um novo acordo de transição com a União Europeia — o acordo que sua antecessora, Theresa May, negociou, foi rejeitado três vezes no Parlamento, em boa parte graças à resistência da ala eurocética do próprio Partido Conservador, da qual Johnson é um expoente. Segundo o primeiro-ministro, seria sem precedentes para o Parlamento "forçá-lo a ir até Bruxelas implorar por uma extensão" do prazo da saída britânica da UE.

Johnson chegou ao poder no dia 24 de julho, em uma eleição interna no Partido Conservador, em substituição a Theresa May, que pediu demissão após as sucessivas derrotas parlamentares. Ele prometeu retirar o Reino Unido da UE no dia 31 de outubro, com ou sem acordo, alegando que com isso estaria respeitando a decisão dos britânicos, que votaram pelo Brexit por 52% a 48% dos votos, em um referendo em 2016.

No dia 28 de agosto, Johnson desencadeou uma crise política ao anunciar que pretendia suspender o Parlamento entre os dias 12 de setembro e 13 de outubro, de modo que os parlamentares não tivessem tempo de votar medidas que impedissem o Brexit. É por isso que os parlamentares precisam aprovar a lei contra o Brexit sem acordo logo, já que a partir da quarta-feira da próxima semana o Parlamento para de funcionar.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.