Violência

Guerra encoberta entre Israel e Irã vem à tona

Israel muda estratégia para conter influência do Irã no Oriente Médio, enquanto iranianos focam em fornecimento de equipamentos e armas para aliados

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23
Estragos causados pela queda de drone perto de centro de imprensa do Hezbollah, nos subúrbios de Beirute
Estragos causados pela queda de drone perto de centro de imprensa do Hezbollah, nos subúrbios de Beirute (Reuters)

JERUSALÉM - Israel realizou uma série de ataques ao redor do Oriente Médio nas últimas semanas, tentando impedir que o Irã equipasse seus aliados árabes com mísseis de alta precisão, drones e armas sofisticadas que poderiam desafiar as defesas israelenses.

Os ataques representam uma nova escalada em uma guerra encobertaentre Irã e Israel, que já está às vistas de todos e traz consigo a ameaça de um confronto mais amplo.

Em um período de 18 horas este fim de semana, um ataque aéreo israelense matou dois militantes treinados pelo Irã na Síria, um droneprovocou uma explosão perto de um escritório do Hezbollah nos subúrbios de Beirute e um ataque aéreo em al-Qaim, no Iraque, matou o comandante de uma milícia apoiada pelo Irã.

Israel acusa o Irã de tentar estabelecer uma linha de suprimentos através do Iraque e Síria para o Líbano. Os ataques, apenas um deles reconhecido pelos israelenses, focavam em tentar parar o Irã e sinalizar a seus aliados que Israel não vai tolerar um arsenal de mísseis avançados em suas fronteiras, dizem analistas e funcionários do governo.

"Israel está construindo algo aqui na região", diz Sima Shine, ex-chefe de pesquisas da inteligência israelense, agora um acadêmico no Instituto de Estudos de Segurança Nacional, em Tel Aviv. "O que mudou é que o processo atingiu um nível que obriga Israel a agir de forma diferente".

Pessoas ligadas ao governo iraniano disseram que ataques israelenses não ficarão sem resposta. O general Qasem Soleimani , comandante da Força Quds do Irã, responsáveis por operações militares sigilosas fora do Irã, disse, no Twitter, que “as ações sionistas são insanas e serão suas últimas”.

Tecnologia

Enquanto o Irã não reconheceu publicamente a transferência de tecnologia de mísseis, um iraniano com conhecimento dos esforços regionais do país disse que, no ano passado, o foco saiu do treinamento de forças aliadas para o combate terrestre na Síria e no Iraque para equipá-las com armas de alta tecnologia e treinar as forças para que possam usá-las.

Os últimos incidentes mostram que a expansão oportunista do Irã no Oriente Médio está se dando contra uma intensa ação contrária israelense.

"O cenário militar foi ampliado por Israel em termos da escolha dos alvos de seus ataques", afirmou Randa Slim, analista no Instituto do Oriente Médio em Washington. "Não é mais sobre a presença iraniana na Síria. É sobre a rede iraniana na região".

Expansão iraniana

Por muitos anos, em meio às turbulências políticas e o conflito que enfraqueceram os países árabes, o Irã seguiu em frente, criando laços fortes com as forças locais que se beneficiam da parceria, ao mesmo tempo em que expandia sua influência e amplificando a ameaça a Israel.

O Irã iniciou essa aproximação ao transformar o Hezbollah na mais formidável força militar do Líbano, com dezenas de milhares de homens treinados e um arsenal que teria algo em torno de 100 mil mísseis apontados para Israel

Os esforços israelenses para conter a expansão iraniana focaram, nos últimos anos, na Síria, onde Israel realizou mais de 200 bombardeios aéreos desde o começo de 2017 contra comboios suspeitos de levarem armas, bases e outros locais associados ao esforço de guerra iraniano.

Israel tentou evitar matar militantes do Hezbollah na Síria e atacar dentro do Líbano, o que poderia causar retaliações. Isso levou a um entendimento que não estava escrito — muitas vezes chamado de regras do jogo — sobre como e quando o conflito iria ou não iria se desenrolar.

Os ataques do último fim de semana aparentemente quebraram as regras, uma vez que mataram dois militantes do Hezbollah na Síria e atingiram o coração do grupo em Beirute.

Discursos e redes sociais

Ajudam ainda a aumentar a temperatura as declarações ácidas dos dois lados, que parecem destinados mais às audiências domésticas.

Os militares israelenses também agem nas redes sociais: após o ataque aéreo na Síria, a conta das Forças de Defesa de Israel ridicularizarou Soleimani. Eles ainda criaram uma conta em persa para tentar minar sua imagem junto aos iranianos.

Falando a seus seguidores no fim de semana, Hassan Nasrallah , líder do Hezbollah, disse que iria retaliar, prometendo evitar que ataques no Líbano se tornassem frequentes.

"Nós da resistência islâmica não permitiremos este tipo de caminho, não importa o custo", disse, sem explicar como ou quando suas forças iriam responder.

"Sugiro a Nasrallah que se acalme", disse o premier israelense Benjamin Netanyahu, na terça, em um tom jocoso. "Israel sabe se defender e revidar ações de seus inimigos. Digo o mesmo a Qasem Soleimani. Cuidado com suas palavras e ainda mais com suas ações".

Ataques

Segundo especialistas, esse aumento nos ataques e sua expansão para o Iraque e Líbano vieram em resposta a ajustes na estratégia iraniana. Um envolveu os esforços de Soleimani para manter as linhas de suprimento de armas e equipamentos do Irã. Até um ano atrás, o Irã usou aviões sem identificação ou aeronaves comerciais voando para Damasco para chegar ao Hezbollah ou à Força Quds na Síria.

Mas os ataques constantes de Israel levaram o Irã a mudar suas rotas, passando a usar campos de pouso no Norte do país.

O ataque israelense do dia 19 de julho na base Amerli, ao norte de Bagdá, atingiu uma carga de mísseis teleguiados que iriam para a Síria. Foi o primeiro ataque aéreo israelense no Iraque desde a ação que destruiu o reator nuclear de Osirak, em 1981, quando Saddam Hussein estava no poder.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.