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Por que o dólar está subindo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23

No vice-versa costumeiro do mercado o dólar sobe e a Bolsa, desce; crise entre a China e os Estados Unidos reflete-se nos países emergentes, como o Brasil, de economia reflexa. A moeda americana se fortalece, porque os investidores procuram proteção.

A moeda tem três funções básicas: intermediária de trocas, medida de valor e reserva de valor. É considerada fiduciária, que dizer não lastreada, mas é reconhecida e aceita pelo poder da autoridade emitente, os bancos centrais.

Vale a pena relembrar artigos escritos em tempos mais ou menos recentes e publicados pelo economista André Lara Resende - ALR falando da ‘nova’ macroeconomia, “onde a moeda fiduciária seria considerada como unidade de conta e que o governo que a emite não teria problemas em financiar-se”; assim considera irrelevante a sua função na Teoria Quantitativa (MV = PT) e expansão dos seus efeitos multiplicadores, na Base Monetária.

Em reforço à essa sua tese, ALR constata que o afrouxamento monetário ocorrido nos Estados Unidos - EUA, a partir de 2008, capitaneado pelo Federal Reserve - FED e outros bancos centrais, não causou inflação, prova de que o que esses bancos controlam mesmo é a taxa de juros, que gera expectativas.

Pessoalmente, penso que uma explicação para o fato de que a expansão da liquidez, nos EUA, não ter causado inflação estaria relacionada à diminuição da velocidade de circulação da moeda ‘V’; houve baixa demanda pelos recursos à economia real o que, segundo John Maynard Keynes (1883-1946), caracterizaria a chamada ‘armadilha de liquidez’.

Quanto ao controle dos bancos centrais sobre a taxa de juros, que é o preço do crédito e não do dinheiro, ainda segundo ALR, no Brasil, “a taxa SELIC continua elevada ao ser confrontada com o crescimento do PIB”.

Voltando às questões cambiais, a paridade entre as diversas moedas é determinada também por esse poder da autoridade emissora - o dólar, por exemplo, é considerado a moeda-padrão e de conversibilidade mundial - e pelas relações de troca entre os diversos países, cada qual com sua capacidade produtiva ao comércio internacional, para importar e exportar.

Nos dias atuais, o dólar vem atingindo cotações elevadas em relação ao real: há causas endógenas, que estão sob o comando das autoridades monetárias brasileiras, aliadas às exógenas, que o nosso país não comanda. Há quem entenda também influências psicológicas no comportamento dos investidores de mercado.

O Brasil, país considerado emergente, porém de economia reflexa, sofre os efeitos da expansão da economia americana e de sua ‘guerra’ comercial principalmente com a China; a pretendida elevação da taxa de juros por lá (atualmente o FED deu uma freada) torna as aplicações mais atrativas e acaba determinando evasão de capitais, das bolsas brasileiras, por exemplo (agora, essa evasão exprime uma medida do risco em aplicações de longo prazo), em busca de proteção, reserva de valor. É por isso que quando o dólar sobe a bolsa cai, e vice-versa.

O Banco Central do Brasil vem atuando na tentativa de conter essa alta do dólar ofertando a moeda através das operações de “swap” (venda futura) e até utilizando partes das nossas reservas, vendendo dólar no mercado à vista, reservas essas que deveriam preferencialmente financiar as importações.

A alta do dólar deveria favorecer melhor nossos exportadores, todavia a baixa produtividade limita a competição; por outro lado, encarece as importações à reposição e expansão do nosso parque industrial, tão carente e indispensável aos investimentos indutores do crescimento econômico.

Antônio Augusto Ribeiro Brandão

Economista, membro fundador Honorário da ALL e da ACL, filiado ao IWA e ao ELOS Literários

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