Doença

Maranhão já registra 210 casos de calazar, e dados preocupam

Devastação ambiental é apontada como principal motivo do aumento da doença; Secretaria Municipal de Saúde informou que promove testes rápidos nos animais para detectar calazar, por meio da Unidade de Vigilância em Zoonoses

Nelson Melo / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23
Animais que vivem expostos na rua são vítimas em potencial da doença
Animais que vivem expostos na rua são vítimas em potencial da doença (cães)

Foram registrados, este ano, no Maranhão, 210 casos da leishmaniose visceral (VL), conhecida, popularmente, como calazar, conforme dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES). Os dados preocupam a sociedade e entidades, como a Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa-MA). A devastação do meio ambiente é apontada como o principal motivo para a proliferação da doença na capital e no interior maranhense.

A O Estado, o médico veterinário Renan Nascimento Morais, presidente da Anclivepa, frisou que o calazar está diretamente relacionado à preservação ou destruição ambiental. Para ele, as estatísticas são muito maiores do que aquelas divulgadas. “Aqui, não existe um projeto-piloto para preservar as árvores nativas. Há sete tipos de árvores nativas que são repelentes do transmissor do calazar. Isso é muito sério. Não há saneamento básico na capital”, denunciou Renan Nascimento.

“Com certeza, os dados são maiores. Eu trato a doença há 10 anos. Eu tratava um cão doméstico por semana. Hoje, esses números aumentaram para 5 ou 6 por semana. Muitos casos não são registrados porque são assintomáticos”, prosseguiu o médico veterinário. De acordo com ele, onde há um cão contaminado, provavelmente há uma criança de 4 a 11 anos também contaminada pela leishmaniose visceral.

Sacrifício de animais
Renan Nascimento Morais condenou uma prática que, segundo ele, ainda ocorre no Maranhão, que é o sacrifício dos animais com calazar. “Isso é um absurdo. Nas maiores cidades do Brasil, há um controle por meio de uma substância que é eficaz e deixa o animal assintomático. Na parte final, a população sempre perde”, comentou o veterinário. O presidente da Anclivepa pontuou que há uma ligação entre a doença e o aumento da pobreza, uma vez que não existe uma política social que atue nesse controle.

“Aqui em São Luís, crianças de 4 a 5 anos, e até de 11 anos, estão dando entrada em hospitais com sintomas da doença. O que ocorre é que as pessoas se instalam nos bolsões de miséria, onde não há água potável e existe muito esgoto aberto. Sem uma política de saúde pública séria, o calazar ganha terreno e se prolifera com facilidade nesses ambientes sem estrutura”, declarou Renan Nascimento.

Ele mencionou que toda ilha está afetada pela doença, mas há maior incidência nos bairros Ilhinha, Jaracati e Maracanã, onde muitas crianças brincam com cães contaminados pela LV nas ruas. “E ocorre, também, nos demais municípios da região metropolitana, ou seja, Raposa, Ribamar e Paço do Lumiar”, completou o veterinário.

Poluição dos rios
Para o médico veterinário, a poluição dos rios e córregos colabora bastante para a disseminação do calazar nos bairros.
“Isso desequilibra o ecossistema. Tem que catalogar e sinalizar onde estão os efeitos. Onde há animais contaminados, dá para saber onde há esgoto aberto. Estão poluindo muito os córregos, jogando dejetos, e isso vai às praias, que ficam contaminadas”, expressou Renan.

Médicos veterinários nas UPAs
Para Renan Nascimento, é preciso que o Estado coloque médicos veterinários para tratar a doença, no lugar de outras especialidades da Medicina.

“Muita gente com suspeita de ter contraído o calazar vem de Caxias, Timon e Codó. As crianças vêm e são tratadas aqui. Mas o certo é abrir as UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) para os veterinários, para que trabalhem em cima do controle ambiental. Tem muito diagnóstico que é compreendido somente por veterinário. Quem entende de zoonoses é veterinário”, indicou.

Nota da Prefeitura de São Luís
A Secretaria Municipal de Saúde (Semus) informou, em nota, que, por meio da Unidade de Vigilância em Zoonoses (UVZ), promove testes rápidos e contra provas nos animais em relação ao calazar. A Semus comunica ainda que a Superintendência de Vigilância Epidemiológica atua no controle vetorial do calazar, monitorando unidades de saúde e possíveis casos. A secretaria ressalta que também investe em ações de conscientização nos bairros, para alertar a população quanto aos riscos da doença.

Nota da SES
A Secretaria de Estado da Saúde (SES) informou que foram registrados 210 casos da doença este ano e ressaltou que as ações de combate direto à leishmaniose são de responsabilidade da gestão de cada município maranhense.

Como parte das ações de responsabilidade do Estado, a SES executa atividades permanentes de capacitação para médicos, enfermeiros e demais profissionais para o diagnóstico clínico e tratamento da doença, capacitação e descentralização para testes rápidos humano e canino, descentralização de medicamentos, investigação de óbitos e aquisição/distribuição de equipamentos de borrifação para o controle vetorial.

A Secretaria destacou, ainda, que a leishmaniose é uma doença cíclica, com períodos de aumento de casos. O transmissor vetorial da doença encontra no Maranhão fatores climáticos e ambientais para o seu desenvolvimento.

SAIBA MAIS

Sobre o calazar

O calazar é causada pelo protozoário parasita Leishmania, que é transmitido pela picada de mosquito-palha infectado. O parasita ataca o sistema imunológico. Meses após a infecção inicial, a doença pode evoluir para uma forma visceral mais grave, que é quase sempre fatal se não for tratada.

A doença afeta algumas das pessoas mais pobres do mundo e está associada à desnutrição, deslocamento de população, condições precárias de habitação e saneamento precário, um sistema imunológico fraco e falta de recursos financeiros. O calazar, em geral, também está ligado a mudanças ambientais como o desmatamento, construção de barragens, sistemas de irrigação e urbanização.

A doença, quando progride, se manifesta de dois a oito meses após a infecção e se caracteriza por acessos irregulares de febre, perda de peso, fraqueza, aumento do baço e do fígado, nódulos linfáticos inchados e anemia. No entanto, se a carga parasitária é alta ou o nível de imunidade do paciente é baixo, o período de incubação é de 10 a 14 dias.

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