Projeto energético

Rússia põe em operação sua usina nuclear flutuante

A Acadêmico Lomonosov deixou o porto de Murmansk sexta-feira, 23, rumo à Península de Chukotka, a mais de 5 mil quilômetros de distância; o Greenpeace o chama de " Chernobyl Flutuante "; o projeto e construção levou uma década

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23
Tripulação da usina nuclear flutuante Acadêmico Lomonosov fez sexta-feira,23, os últimos preparativos antes da partida
Tripulação da usina nuclear flutuante Acadêmico Lomonosov fez sexta-feira,23, os últimos preparativos antes da partida (Reuters)

MOSCOU — Seu nome oficial é Acadêmico Lomonosov , em homenagem àquele que o poeta Alexander Pushkin descreveu como o "primeiro cientista russo de projeção mundial, Milkhail Lomonosov . O Greenpeace o chama de “ Chernobyl Flutuante ”. É a primeira central nuclear flutuante produzida pela Rússia , que deixou sexta-feira,23, o porto de Murmansk , no Noroeste do país, em direção à Península de Chukotka, onde começará a funcionar em dezembro. Uma viagem de 5.000 km até a ponta oriental da costa ártica russa, que disparou os alertas de ecologistas. Eles veem um risco “desnecessário” de uma catástrofe nuclear .

O projeto e construção do Acadêmico Lomonosov levou uma década, mas seu périplo começou em abril de 2018, quando saiu de São Petersburgo em direção a Murmansk. A cidade fica a menos de 600 km da remota base militar onde morreram cinco pessoas após o teste de um míssil nuclear, cujos detalhes são mantidos em sigilo pelo governo e que provocou um aumento nos níveis de radiação na área. Uma coincidência que alimentou debate em torno de um eventual impacto ambiental em caso de acidente com esta central flutuante. A Rosatom, a agência nuclear russa, insiste que o Acadêmico Lomonosov não afunda em nenhuma circunstância, nem mesmo em caso de um desastre natural, incorporando lições aprendidas no desastre de Fukushima, no Japão, em 2011.

As autoridades tentam evitar qualquer comparação com o acidente de Chernobyl, a central soviética onde, em 1986, ocorreu o maior acidente nuclear da História. Além disso, as autoridades ressaltam a diferença entre os reatores: no caso do Lomonosov, são dois, de 35 MW cada, capazes de fornecer energia a uma cidade de 100 mil habitantes.

Greenpeace e outras organizações de defesa do meio ambiente insistem, por outro lado, na ameaça em torno da instalação, que precisa ser rebocada, a deixando vulnerável a ações terroristas. Também questionam a necessidade de enviar estações nucleares flutuantes para gerar eletricidade em áreas remotas. O Acadêmico Lomonosov, precisará ainda, em sete anos, trocar seu combustível nuclear, devendo ser levado novamente a Murmansk, algo que vai envolver novos custos e o risco de contaminação.

Alternativa ao carvão

O navio tem 140 metros de comprimento e 30 de altura, com espaço para 342 pessoas, 80 delas de forma permanente, com as demais trabalhando em turnos de um mês e meio. Ele também tem um ginásio, uma piscina e um bar sem bebidas alcoólicas.

Esse tipo de usina nunca se produziu de maneira massiva. Aliás, será a primeira do tipo desde o MH-1A Sturgis, um reator nuclear dos EUA que forneceu energia ao Canal do Panamá entre 1968 e 1975, quando o governo reconheceu que sua manutenção era excessivamente cara. O projeto para construir uma usina flutuante na costa do estado de Nova Jersey, feito pela Westinghouse Electric nos anos 1970, foi abandonado após protestos e a falta de interessados no projeto.

Um dos elementos por trás do projeto é o energético. Pevek, a cidade portuária na Península de Chukotka onde ficará atracada a usina, depende do carvão e da usina nuclear de Bilibino para produzir energia. O Acadêmico Lomonosov, segundo as autoridades, vai contribuir para reduzir as emissões de materiais poluentes e permitirá o fechamento da usina, em funcionamento desde 1974. Pevek tem menos de 6 mil habitantes, mas precisa de energia por causa da indústria da mineração, especialmente de ouro.

Energia e mercado

Um elemento-chave desde reator nuclear flutuante é o comércio. A Rosatom não divulgou o custo do projeto, que já tem interessados na América Latina, África e Ásia. O preço será, de certa forma, uma prova de fogo para o seu funcionamento.

A agência estatal russa garante que assinou um memorando de entendimento para avaliar a possibilidade de uma usina nuclear flutuante no Sudão. Não estes os planos que mais preocupam a Fundação Bellona, que acompanha os temas ambientais no Ártico e duvida que o Sudão possa explorar uma central dessas com garantias para o seu entorno.

A China, por sua vez, pensa em construir cerca de 20 centrais flutuantes na próxima década, a primeira estará pronta em 2021. Segundo a Bloomberg, alguns investidores americanos pensam em produzir reatores nucleares marítimos a um custo relativamente baixo.

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