Inteligência militar

Coreia do Sul decide romper acordo de cooperação com o Japão

O pacto, que é importante para os esforços de afastar as ameaças nucleares e de mísseis da Coreia do Norte, estava prestes a ser renovado automaticamente amanhã, 24

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23
Representantes da China, Japão e Coreia do Sul se encontraram ontem, 22, no Grande Salão do Povo em Pequim, na China
Representantes da China, Japão e Coreia do Sul se encontraram ontem, 22, no Grande Salão do Povo em Pequim, na China (Reuters)

SEUL - A Coreia do Sul anunciou, ontem, que romperá um acordo de cooperação de inteligência militar com o Japão, após as tensões diplomáticas e comerciais nas últimas semanas entre os dois países. O pacto estava prestes a ser renovado automaticamente amanhã, 24.

O acordo foi elaborado para compartilhar informações confidenciais sobre a ameaça representada pelas atividades nucleares e de mísseis da Coreia do Norte. O país vem lançando, nas últimas semanas, uma série de mísseis de curto alcance na região.

"Seul decidiu colocar um ponto final no acordo", afirmou Kim You-geun, vice-diretor do Conselho de Segurança Nacional da Coreia do Sul, vinculado à presidência. "Avisaremos o governo japonês por meio de um telegrama diplomático". O presidente sul-coreano, Moon Jae-in, aprovou a decisão.

A Coreia do Sul havia avisado que poderia reconsiderar o acordo depois que o Japão impôs restrições à exportação de alguns materiais vitais para os fabricantes de chips sul-coreanos e, além disso, tirou da Coreia do Sul o status de exportação acelerada.

Para Kim You-geun, do Conselho de Segurança Nacional sul-coreano, o Japão criou uma "grave mudança" no ambiente para a cooperação bilateral de segurança ao remover esse status da Coreia do Sul - citando preocupações de segurança sem fornecer evidências claras, disse.

"Nesta situação, determinamos que não serviria ao nosso interesse nacional manter um acordo que assinamos com o objetivo de trocar informações militares que sejam sensíveis à segurança", disse Kim em entrevista coletiva.

Não houve reação imediata de Tóquio, mas o chefe de gabinete japonês, Yoshihide Suga, disse antes do anúncio que o acordo reforçava a cooperação de segurança entre os dois países.

"Embora os laços entre o Japão e a Coreia do Sul estejam em uma situação muito difícil, acreditamos que devemos cooperar com a Coreia do Sul onde a cooperação for necessária", disse Suga em entrevista coletiva ontem,22.

Nesta semana, os ministros de Relações Exteriores dos dois países se reuniram perto de Pequim, na China, e prometeram continuar conversando, mas não chegaram a acordos substantivos.

Com a decisão de não renovar o pacto, as disputas políticas e comerciais entre sul-coreanos e japoneses agora se estendem a algumas questões de segurança nacional mais delicadas da região. A China e a Rússia também têm sido mais assertivas na região, organizando sua primeira patrulha aérea conjunta em julho - o que desencadeou um incidente internacional com a Coreia do Sul e o Japão.

Partilha de informações

Os Estados Unidos temem que a cooperação de segurança seja enfraquecida, diz a Reuters, pois o acordo é importante para os esforços de afastar as ameaças nucleares e de mísseis da Coreia do Norte. Os americanos foram informados da decisão pouco antes do anúncio oficial.

"Encorajamos o Japão e a Coreia a trabalharem juntos para resolver suas diferenças", declarou o tenente-coronel Dave Eastburn, porta-voz do Pentágono. "Espero que eles possam fazer isso rapidamente."

Eastburn acrescentou que a partilha de informações é fundamental para o desenvolvimento de uma política e estratégia de defesa comuns, e os três países estão mais seguros quando trabalham juntos.

A ministra de Relações Exteriores da Coreia do Sul, Kang Kyung-wha, declarou que o país continuará "a fortalecer a cooperação com os EUA e desenvolver a aliança", e enfatizou que a decisão de acabar com o pacto de inteligência foi resultado de uma falta de confiança no Japão.

O Ministério da Defesa da Coreia do Sul disse que, independentemente do fim do trato, manteria uma postura de defesa conjunta “estável” baseada em uma aliança robusta com os Estados Unidos.

Os americanos desempenharam um papel fundamental ao iniciar o acordo - que foi conquistado, com dificuldade, em 2016. Em 2012, um plano com esse objetivo não deu certo por causa da oposição, na Coreia do Sul, à cooperação militar com o Japão, um velho inimigo do país.

Uma fonte militar do Ocidente disse à Reuters que o compartilhamento de informações era às vezes limitado - mas, ainda assim, importante diante das ameaças da Coreia do Norte.

Para Cho Tae-yong, ex-conselheiro de segurança nacional sul-coreano que trabalhou na assinatura do acordo, acabar com o pacto "não é apenas a carta errada para pressionar o Japão, mas simplesmente não é útil para a nossa segurança", declarou.

Shin Beom-chul, membro sênior do Instituto Asan para Estudos Políticos em Seul, concordou.

"É uma decisão com a qual há muito mais a perder do que ganhar", declarou. "Isso aumentaria nossas próprias preocupações com segurança e infligiria isolamento diplomático a nós mesmos, destruindo a base da cooperação de segurança trilateral com os Estados Unidos".

Ressentimentos históricos

Antes de assinar o acordo de cooperação em 2016, sob pressão americana, a Coreia do Sul e o Japão compartilhavam informações por meio dos Estados Unidos.

A primeira tentativa de assinar o trato, em 2012, falhou por causa da oposição interna na Coreia do Sul, vinda de alguns partidos e da própria opinião pública - que ainda amargam a ocupação da península coreana, pelo Japão, entre 1910 e 1945. Essa ocupação também incluiu o uso de mão de obra forçada sul-coreana em algumas empresas japonesas.

Em outubro do ano passado, a Suprema Corte sul-coreana deu uma ordem para que as empresas japonesas compensassem alguns de seus trabalhadores forçados. O Japão condenou o gesto, dizendo que o assunto dos trabalhadores forçados foi resolvido por um tratado de 1965 - que normalizou os laços entre os países.

A Coreia do Sul, por sua vez, alega que a retirada do status de exportação acelerada do país é uma retaliação japonesa à decisão da corte. Na quarta-feira (21), ambos os países concordaram com a necessidade de dialogar para resolver a disputa a respeito da indenização de trabalhadoras coreanas dos tempos de guerra

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.