Europa ''unida''

Merkel e primeiro-ministro da Hungria celebram fim da Cortina de Ferro

Na cidade húngera de Sopron, a chanceler alemã evitou criticar Viktor Orbán diretamente sobre o fluxo de migrantes para a Europa, questão sobre a qual os dois líderes adotam posturas opostas

- Atualizada em 11/10/2022 às 12h23
A chanceler alemã, Angela Merkel, e o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán
A chanceler alemã, Angela Merkel, e o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán (Reuters)

ALEMANHA - A chanceler alemã, Angela Merkel, e o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, celebraram, ontem,19, o 30º aniversário do fim da Cortina de Ferro, demonstrando sua vontade de acentuar o que une os europeus, e não o que os divide.

Convidada por Orbán, Merkel viajou até a cidade fronteiriça de Sopron, na Hungria. Lá, em 19 de agosto de 1989, mais de 600 alemães da parte oriental aproveitaram a abertura de um posto de fronteira com a Áustria, por ocasião de um "piquenique pan-europeu" para fugir para o lado ocidental.

O evento foi uma fissura crucial na Cortina de Ferro, fruto de uma divisão ideológica e depois física, estabelecida na Alemanha após a Segunda Guerra Mundial entre a zona de influência soviética e os países ocidentais.

"Eu não poderia ser uma política e não poderia ser chanceler de uma Alemanha reunificada" se estes eventos não tivessem acontecido, declarou Merkel, visivelmente emocionada, em entrevista coletiva.

Este piquenique "se tornou um símbolo internacional, que prova que o desejo de liberdade não pode ser repelido", disse antes, em discurso ao lado do anfitrião, após uma cerimônia religiosa em uma igreja local.

"Sopron mostra o que faz de nós europeus", completou Merkel.

"(O piquenique) era um posicionamento em favor da solidariedade, da liberdade e da paz, por uma Europa com rosto humano", lembrou.

Estes valores devem continuar a "unir a Europa", insistiu a chanceler, que ainda pediu que "se combata as causas da fuga e das perseguições" que levam pessoas a buscar o exílio - sobretudo na Europa.

Nos últimos anos, a política europeia de concessão de asilo levantou duros atritos diante das posturas divergentes de Merkel e Orban no auge da onda de refugiados de 2015.

Enquanto a chanceler conservadora se posicionou por uma política de asilo generosa, o premiê húngaro defendeu uma rejeição categórica da imigração.

Premiê nega contradição

Em Sopron, Angela Merkel evitou criticar Viktor Orban diretamente sobre o fluxo de migrantes.

"Ursula Von der Leyen [a presidente designada da Comissão Europeia] disse que pretende relançar as discussões para chegar a uma posição comum europeia sobre questões de migração, e acho isso importante", afirmou a chanceler.

"Para resolver o problema em sua totalidade, acho que é preciso trabalhar naquilo que nos une e tentar superar as diferenças", acrescentou.

Desde 2015, mais de 200 quilômetros de barreiras erguidas pelo governo Orbán contra os migrantes fecham as fronteiras ao sul da Hungria, com Sérvia e Croácia. Angela Merkel sempre rejeitou esta "política dos arames farpados" no coração da União Europeia.

O primeiro-ministro húngaro garantiu, nesta segunda-feira (19) que "não há contradição" entre o desmantelamento da Cortina de Ferro, que levou à queda do Muro de Berlim em 9 de novembro de 1989, e a construção de novas barreiras na fronteiras europeias.

Nos dois casos, o objetivo é construir uma "Europa de paz e de segurança", alegou Orban.

Para além das divergências políticas, os dois governos têm interesses econômicos estreitamente ligados. A Alemanha é o principal parceiro comercial da Hungria, em especial pela forte presença de seus fabricantes de automóveis no país.

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