Refugiados

200 venezuelanos estão em São Luís; muitos pedem esmolas nas ruas

Pelos dados oficiais, houve aumento de 22% no contingente de refugiados; em julho, eram 156; eles pedem esmolas em vários pontos; força-tarefa foi montada por órgãos

Ismael Araújo / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23

[e-s001]Até o fim do mês de julho deste ano, foi registrada a presença de 156 refugiados venezuelanos no Maranhão, segundo os dados da Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Participação Popular (Sedihpop). Neste mês, os números mais recentes mostram que há, pelo menos, 200 desses estrangeiros circulando, principalmente, nos entornos, canteiros, rotatórias e semáforos da cidade, pedindo ajuda financeira. Um aumento de quase 22% nesse contingente. A maioria deles é criança e adolescente.

A Defensoria Pública do Maranhão (DPE/MA), com apoio da Defensoria Pública da União (DPU), Tribunal de Justiça do Maranhão, Conselho Municipal da Criança e do Adolescente, Conselhos Tutelares, Pastoral da Criança, Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e do Governo do Estado e do Município de São Luís, estão realizando uma força-tarefa desde a semana passada. Uma das ações é o trabalho de abordagem aos refugiados.

O defensor público Joaquim Gonzaga Neto, titular do Núcleo da Criança e do Adolescente, informou que somente na semana passada a equipe da força-tarefa realizou mais de quatro abordagens na capital, mas o trabalho vai se estender durante os próximos dias.

[e-s001]Na escola
Uma das novas ações visa inserir as crianças e os adolescentes venezuelanos na escola. “Observamos que muitas crianças e adolescentes estão em situação de mendicância nos semáforos. Então, precisam estudar. As secretarias do Estado e do Município serão acionadas para fazerem parte deste trabalho”, disse Joaquim Gonzaga Neto.

Ele também informou que, caso essa situação persista, as instituições responsáveis podem adotar até mesmo medidas mais duras e uma delas é o recolhimento das crianças e dos adolescentes a centros de acolhimento, localizados na capital. “No momento, estamos adotando apenas ações de prevenção, para que não seja necessário o recolhimento dessas crianças”, explicou o defensor público.

Ainda segundo Joaquim Gonzaga Neto, a força-tarefa também está trabalhando na busca de um local para que sejam abrigados todos os estrangeiros, pois, no momento, há dois pontos da cidade onde estão recolhidos. Um deles é localizado no Parque Atenas. O outro, no Parque Jair.
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Também foi decidida a elaboração de uma cartilha informativa, em espanhol, abordando os direitos e os deveres desses estrangeiros no Brasil. Além disso, vai ser montado um grupo responsável por doações.

“As doações precisam ser qualificadas, principalmente, de alimentos e roupas. A maioria desses estrangeiro é indígena, então, possui uma cultura específica, e não utilizam determinados produtos”, detalhou o defensor público.

Esmolas
Ainda ontem, foi possível encontrar venezuelanos pedindo esmolas no bairro Cohama. Mal o semáforo acendia a luz vermelha, eles iam para avenida em busca de algum trocando dos motoristas. Crianças e adolescentes faziam parte desse grupo.

[e-s001]O cenário era semelhante nos sinais do Cohatrac e Cohab. Os estrangeiros, com cartazes e uma latinha, pediam esmolas a todos que trafegavam na área. Eles até mesmo fazem a sua alimentação nesse local. O Estado tentou manter contato com eles, mas se recusaram a falar sobre o assunto.

SAIBA MAIS

Ingresso
O ingresso dos venezuelanos ocorre mesmo com a fronteira fechada por Nicolas Maduro desde o dia 21 de fevereiro deste ano. Levantamento da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgadas no fim do primeiro semestre deste ano apontam que o Brasil foi o quinto país do mundo que mais recebeu venezuelanos. De acordo com a entidade mundial, foram 168 mil pessoas.

O país é superado por Colômbia, Peru, Chile e Equador. Em sua maioria, os venezuelanos buscaram destinos nas regiões Norte e Nordeste para fugir da situação de calamidade social que vive seu país. Além da baixa oferta de alimentos, a Venezuela sofre com o desemprego e a desvalorização da moeda.

No Maranhão, esses estrangeiros somente começaram a chegar no mês de maio. Um grupo de aproximadamente 55 estrangeiros, que seria do grupo Warao. Está é uma etnia indígena predominantemente originaria do leste do território do país sul-americano.

Eles cruzaram o estado do Amazonas e do Pará, chegando a São Luís, no último dia 29 de abril, em busca de trabalho temporário, diante da crise econômica e política instaurada em seu país de origem. Os imigrantes foram alojados em um abrigo cedido pela Igreja Assembleia de Deus dos Últimos Dias, localizado no bairro Vassoural, em Paço do Lumiar.

Interiorização
Devido o agravamento da crise migratória em Roraima provocada pela situação política na Venezuela, o Governo Federal está realizando o processo de “interiorização”. Criado como alternativa para reduzir o impacto social desse grande fluxo de imigrantes, o programa prevê o deslocamento de parte desse contingente a outras regiões brasileiras.

Mais de 4 mil imigrantes já foram levados a diversos estados após aderir voluntariamente ao processo. Um dos estados são Amazonas, na Bahia, no Distrito Federal, no Mato Grosso do Sul, na Paraíba, no Paraná, em Pernambuco, no Rio Grande do Norte e no Rio Grande do Sul.

Crise na Venezuela
Há mais de 15 anos, a Venezuela enfrenta uma crescente crise política, econômica e social. O país vive agora um colapso econômico e humanitário, com inflação acima de 1.000.000% e milhares de venezuelanos fugindo para outras partes da América Latina. Em abril, diversas interrupções no fornecimento de energia e água ameaçaram uma catástrofe sanitária. A ONG norte-americana Human Rights Watch disse que a saúde do país está sob emergência humanitária complexa.

Números

55 refugiados venezuelanos chegaram ao Maranhão no fim do mês de abril deste ano
156 estrangeiros no começo do mês de julho
200 venezuelanos neste mês na capital maranhense

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