Sob impacto de protestos

Economia de Hong Kong recua e fica à beira de recessão

Uma das empresas mais prejudicadas é a principal companhia aérea de Hong Kong, a Cathay Pacific Airways, que se tornou alvo de Pequim após não impor restrições para que seus funcionários participassem dos protestos

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23
Manifestantes participam de protesto antigoverno em Hong Kong; PIB caiu 0,4% e previsão de crescimento foi reduzida
Manifestantes participam de protesto antigoverno em Hong Kong; PIB caiu 0,4% e previsão de crescimento foi reduzida (Reuters)

HONG KONG — Sob impacto dos protestos antigoverno e pró-democracia que neste domingo ,18,entram em sua 11 a semana, a economia de Hong Kong dá sinais de que enfrentará sua primeira recessão desde os meses seguintes à crise econômica de 2008.

Segundo dados divulgados pelo governo do território na sexta-feira, 16, a economia local recuou 0,4% no segundo trimestre em comparação com os três meses anteriores, um pouco abaixo da previsão de -0,3%. Na quinta-feira, o governo já havia anunciado a redução da previsão de crescimento anual de 2%-3% para 0%-1%,enquanto lançava um pacote de recuperação econômica de US$ 2.400.000.000 (R$ 9.559.440.000), que inclui subsídios para empresas e medidas de auxílio aos mais pobres.

Hong Kong não está, oficialmente em recessão — para isso, é necessário que a economia registre contrações em dois trimestres consecutivos —, mas uma pesquisa privada da IHS Markit indicou que as empresas da cidade tiveram perdas pelo 16 o mês consecutivo em julho, atingindo um nível não visto desde março de 2009.

Já prejudicada pela guerra comercial sino-americana, a situação econômica de Hong Kong vem se agravando rapidamente desde o início de junho, quando os protestos contra um polêmico projeto de lei que permitiria extradições para a China continental tiveram início. Desde então, o movimento de oposição ganhou novas demandas antigoverno e contrárias à soberania chinesa, quase 750 pessoas foram presas. Gás lacrimogêneo e balas de borracha são frequentemente utilizados para dispersar manifestantes, que acusam a polícia de brutalidade.

Violência

Em represália à violência policial que deixou uma mulher ferida no final de semana, milhares de pessoas se juntaram a uma ocupação no aeroporto da cidade, forçando a paralisação das decolagens na segunda e na terça-feira. Para conter os protestos, a autoridade aeroportuária da cidade obteve na Justiça uma liminar que restringia a entrada no saguão para apenas viajantes. Enquanto as manifestações aconteciam no local, o principal índice de ações da bolsa de Hong Kong atingiu seu menor valor em sete meses.

Com novas manifestações não autorizadas pelo governo — o que os torna ilegais marcadas para este final de semana, a crise não dá sinais de acabar. Empresários têm reclamado de grandes perdas e a indústria hoteleira vem registrando cancelamentos, sinal de que turistas estão evitando o local, um dos mercados-chave para o comércio global e, em especial, para as empresas de luxo.

Companhia aérea é alvo

Uma das empresas mais prejudicadas é a principal companhia aérea de Hong Kong, a Cathay Pacific Airways, que se tornou alvo de Pequim após não impor restrições para que seus funcionários participassem dos protestos, sendo forçada a rever sua posição. Em meio à crise, o chefe executivo da empresa, Rupert Hoggs, anunciou sua renúncia nesta sexta-feira.

No início da semana, a Autoridade de Aviação Civil chinesa proibiu que a companhia escalasse para seus voos que fossem entrar no espaço aéreo da China continental tripulantes que tivessem participado dos protestos — o argumento chinês era que estas pessoas representariam um risco para a segurança das aeronaves. No dia seguinte, as ações da empresa antigiram seu menor valor em mais de uma década.

Desde as imposições chinesas, a Cathay já demitiu quatro funcionários — incluindo um piloto que foi preso e acusado de participar de motins — e passou a se posicionar em oposição aos protestos. Ainda assim, a decisão de dois bancos estatais de rebaixarem suas ações vêm gerando temores de que Pequim está politizando seus bancos de investimento para penalizar companhias que não sejam suficientemente vocais em seu apoio ao governo de Hong Kong e às forças policiais.

A escalada de desafios dos manifestantes à soberania chinesa também tem mudado o discurso oficial da China que, no início, se mantinha relativamente neutra sobre os protestos. Após um cerco ao prédio da representação de Pequim em Hong Kong, o governo central advertiu quenão toleraria iniciativas que ameaçassem sua autoridade e sugeriu que poderia mobilizar tropas do Exército Popular de Libertação para conter as manifestações. Nesta semana, Pequim se referiu aos manifestantes que agrediram dois cidadãos chineses como "terroristas" e concentrou suas forças de segurança em Shenzhen, cidade próxima a Hong Kong, para exercícios.

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Massacre da Praça da Paz Celestial

Em seu editorial desta sexta-feira, o Global Times — tabloide nacionalista controlado pelo Partido Comunista chinês — fez nesta sexta-feira uma rara referência à repressão na Praça da Paz Celestial , um tabu na China, para afirmar que uma possível intervenção armada em Hong Kong não repetirá o massacre de junho de 1989 contra manifestantes civis em Pequim.

“Pequim não decidiu intervir pela força para acabar com os distúrbios em Hong Kong, mas esta opção — evidentemente — está disponível”, destaca o editorial do jornal. Mesmo que o governo decida enviar tropas contra os manifestantes, entretanto, “o incidente em Hong Kong não será uma repetição do incidente político de 4 de junho de 1989”.

Na quinta-feira, o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, John Bolton, advertiu a China a não criar uma “nova Praça da Paz Celestial”. Em entrevista à AFP, o artista chinês e dissidente Ai Weiwei também disse temer uma repressão semelhante. Segundo ele, “não há outras saídas” para a crise de Hong Kong, porque, segundo ele, o regime comunista “não sabe faça de outra maneira”:

— Nenhuma previsão é exagerada.

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