Artigo

O trem do Maranhão

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23

A Assembleia Legislativa do Maranhão me concedeu a medalha Manuel Beckman, que muito me honrou em razão do significado do herói maranhense na luta pela independência e das minhas ligações históricas e sentimentais com o estado.

Este Maranhão que, apesar de tão caracterizado pelas águas, traz o trem na vida e no imaginário de muitos. Ele é citado por diversos autores, em especial os que aqui fazem história. A exemplo de Ana Luiza Almeida Ferro que, ao discursar na sua posse na Academia Maranhense de Letras, fez alusão ao trem de Ferreira Gullar, imortalizado por Villa Lobos em belíssima composição musical.

José Chagas, consagrado poeta do Maranhão, apesar de paraibano, também cantou a cidade e o trem, cujo trecho transcrevo abaixo:

“A cidade era feita de poesia,/ E eu não vinha senão cantar,/ Mesmo que o canto fosse voz tardia/ De uma mensagem que se perde no ar.//Sei que era inútil, mas eu não trazia/ Nada em mim para ofertar.”

Eu sertanejo, filho de sertanejos, neto de sertanejos, prefiro o trem de um também sertanejo, o do Vale, batizado João, o mesmo nome de meu pai. Dele é o trem que eu me identifico. O trem do sertão, o trem da chapada, o trem dos cocais, o trem da cidade praiana.

“Peguei um trem em Teresina,/ Para São Luís do Maranhão.”

Quando cheguei ao Maranhão para exercer o cargo de promotor de Justiça em 1990, no primeiro concurso pós 1988, sob a égide da procuradora geral de Justiça Elimar Figueiredo, fui designado para a Promotoria de Buriti e atuei concomitantemente na de São Bernardo, morei no hotel de dona Dalci, com seus bolos e quitutes sempre apetitosos. Em São Bernardo fiz amizade com Sorocaba, magistrado diligente, trabalhador e honesto, então juiz de Direito daquela Comarca.

Fui então promovido para Grajaú. De Barra do Corda para lá não havia estrada asfaltada. Para tomar posse foi uma aventura. Conheci a puaca e a tabatinga, na mesma viagem. Na ida estava seco e na volta havia chovido torrencialmente na noite anterior. Em Grajaú fiz os mais memoráveis júris de minha vida de promotor. Lá conheci, namorei e casei com Mônica.

Integrei-me à vida daquela comunidade. Sou um defensor ardoroso do rio. Fiz muitos amigos. De Grajaú fui promovido para Imperatriz, a cidade que me projetou profissionalmente. Lá iniciei a ministrar aulas no Curso de Direito da Universidade Federal do Maranhão e me despertou a vontade de ser juiz federal.

Grandes amigos foram feitos em Imperatriz. Lá nasceu nosso primeiro filho maranhense, o Roberto Filho. Salomão nasceu em São Luís, às vésperas da prova oral do concurso de juiz federal. Em razão do trabalho profissional, fiz amizade conservada até os dias atuais, com o então promotor de Justiça e hoje desembargador Jamil Gedeon.

Pelos desígnios de Deus, ao ser aprovado no concurso para juiz federal, fui designado pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região para instalar a Justiça Federal em Imperatriz, tendo sido o seu primeiro magistrado federal. Depois, na função de diretor do Foro da Seção Judiciária do Maranhão, titular da 3ª Vara, tive o prazer de inaugurar a sede própria da Justiça Federal na princesa do Tocantins.

Em 2009, recebi o título de cidadão maranhense e naquela oportunidade meus amigos estiveram presentes, os mesmos que presenciaram a entrega da medalha Manuel Beckman. Isso me faz lembrar as palavras de Mário Quintana: “A amizade é um amor que nunca morre”.

A amizade que tenho por meus amigos nunca morreu e não haverá de morrer, da mesma forma que o meu amor por minha família e pelo Maranhão. É amor para a vida toda.

Roberto Veloso

Ex-presidente da Associação dos Juízes Federais - Ajufe.
@robertoveloso_

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