Facções ditam ordens

Moradores denunciam ações de bandidos em bairros da Grande São Luís

Facções criminosas impõem o medo em comunidades e ainda ameaçam de morte quem as denuncia; alguns são obrigados a abandonarem suas casas

Ismael Araújo

- Atualizada em 11/10/2022 às 12h23
Pichação em muro é um alerta da facção que domina o Nova Aurora, em Ribamar
Pichação em muro é um alerta da facção que domina o Nova Aurora, em Ribamar (Nova Aurora)

SÃO LUÍS - Membros de facções criminosas impõem ordens em vários bairros da Região Metropolitana de São Luís. No Residencial Nova Aurora, em São José de Ribamar, o clima de medo, silêncio, ameaça de morte, tráfico de droga e o convívio constante com a criminalidade fazem parte do cotidiano dos moradores dessa localidade. Há ainda o registro de rixa entre faccionados rivais que quase sempre resulta em tiroteio.

Logo na entrada do bairro é possível encontrar as ordens dos faccionados fixadas nas paredes das residências ou dos pontos comerciais. Muitas dessas mensagens fazem referência a pena de morte aqueles que se disponham a deletar as ações criminosas para a polícia. Essas pessoas são denominadas “Xis Nove”.

Um morador, que não quis se identificar, declarou que os faccionados vendem droga livremente pelas ruas do bairro à noite e madrugada, além de andarem armados. Muitos deles chegam a atirar em via pública com o objetivo de amedrontar os moradores.

Outra moradora disse, também, que a ocorrência de roubo diminui bastante na área devido a ordem imposta pelos faccionados aos que praticam esse tipo de crime, cuja penalidade é a morte ou o corte de um dedo ou uma mão. “Nessa comunidade é proibido roubar pois caso contrário o autor é penalizado até mesmo com a perda da própria vida”, comentou a moradora.

Segundo a moradora, nos últimos meses, tem sido constante os tiroteio na localidade. “Os integrantes de facções criminosas brigam entre si na disputa por pontos de venda de droga na comunidade”, explicou.

Expulsão

Na Vila Passos, em São Luís, a situação não é diferente. Famílias estão deixando a sua residência com receio de serem mortas por faccionados. Somente, na semana passada, pelos menos quatro moradores abandonaram seus imóveis na Rua Gomes de Sousa, conhecida como Funil.

Há informações de que os criminosos estabeleceram um prazo para essas pessoas deixarem o bairro por serem suspeitos de estarem passando informações para a polícia sobre o comércio de entorpecente.

Um morador, não identificado, declarou que os faccionados ficam revoltados com a circulação de viaturas da Polícia Militar e dizem que foram acionados pela comunidade. No momento, muitos moradores preferem manter portas e janelas de suas casas fechadas, com receio de serem invadidas, ou até mesmo de serem alvo de uma bala perdida.

Cemitério clandestino

Policiais da Superintendência de Homicídio e Proteção a Pessoas (SHPP) e do 15º Distrito Policial realizam investigações na área do São Raimundo com o objetivo de localizar um cemitério clandestino. Há menos de dois meses, a polícia prendeu Wenderson Escócio Feitosa, Luiz Henrique Lima Fernandes e Nathanael Felipe da Silva e Silva, o Satan, acusados da prática dos crimes de tortura, assassinato e de exibirem seus atos bárbaros na internet.

Durante a investigação ficou constatado que os acuados fazem parte de uma facção que tem como ponto base o Rio de Janeiro. Eles, inclusive, teriam torturado um morador do São Raimundo e exibido essa ação na rede social.

As suas principais vítimas são faccionados rivais e moradores na região que não apoiam as ações praticadas pelos criminosos. Eles são acusados, também, de uma série de homicídios e ocultação de cadáver na região.

Tribunal do crime

Na área do Rio Anil-Bequimão, principalmente no trecho entre a feirinha e a unidade mista de saúde, uma facção criminosa, segundo os moradores, dominam o bairro. O jovem Derick Ruan Malheiro, de 23 anos, foi morto e esquartejado após ter sido julgado pelo Tribunal do Crime.

Após a denúncia, os militares foram até a Vila Socó e encontraram o corpo da vítima enterrado em uma cova rasa, fato ocorrido no dia 1º de maio deste ano. Moradores disseram que o jovem foi julgado e sentenciado, de forma equivocada, por uma espécie de “tribunal do crime”, que age no bairro.

Acampamentos

No dia 29 de julho, os militares desmontaram um acampamento de uma facção criminosa em uma área de matagal no bairro Vila Progresso, nas proximidades do Centro de Detenção Provisória (CDP), em Pedrinhas.

Ao chegarem ao local, os militares foram recebidos a tiros pelos faccionados que usavam o local como ponto de tráfico de drogas e de esconderijo de armas e munição do grupo.

No local, foram encontrados 22 papelotes de maconha, uma pedra de crack, R$ 111,00, um colete a prova de balas, duas placas balísticas e uma espingarda calibre 20, com o nome B40 gravado na coronha da arma.

Além desse material, a polícia encontrou peças de roupas, mochilas, entre outros objetos de uso pessoal, tanto dos criminosos como de vítimas. Policiais da Superintendência de Investigações Criminais (Seic) também encontrou um acampamento na Vila Conceição, área do Alto do Calhau. No local, foram apreendidos armas, munições de calibres diversos e entorpecente.

Policiamento

A Polícia Militar do Maranhão (PMMA) informou, por meio de nota, que o policiamento ostensivo é feito de forma diária na Grande Ilha com o objetivo de combater a criminalidade. Em relação a área do Cohatrac, a segurança é feita ininterruptamente pelo 20º BPM, com apoio do Grupo Tático Móvel (GTM) e Albatroz. As rondas são realizadas diuturnamente com viatura de área e motocicletas. A PM ressalta que, além do patrulhamento durante a semana, as forças se segurança realizam operações espaciais os fins de semana para combater a criminalidade na área.

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