Desenvolvimento

Empresários e militares querem polo industrial em Alcântara

Grupo de empresários visitou ontem as instalações do Centro de Lançamento de Alcântara; Aeronáutica espera que a cidade de Alcântara se transforme em um polo industrial com Acordo de Salvaguardas Tecnológicas que foi assinado entre Brasil e EUA

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23

ALCÂNTARA - Geração de novos postos de trabalho e de renda. Essa é a aposta dos empresários e militares da Aeronáutica com relação ao Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST), que foi assinado em março deste ano entre Brasil e Estados Unidos (EUA). Com esse propósito, uma missão empresarial visitou o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), na Baixada Maranhense, ontem, 13. O projeto está sendo objeto de análise no Congresso Nacional brasileiro para ser ratificado.

A visita ao CLA, promovida pela Federação das Indústrias do Estado do Maranhão (Fiema) em parceria com a Força Aérea Brasileira (FAB), aconteceu em alguns setores do Centro, como a Torre Móvel de Integração (TMI) e o Centro de Controle. O momento teve a participação de diretores que compõem a Fiema, representantes do setor empresarial e a imprensa. O diretor do Centro de Lançamento, coronel aviador Marco Antônio Carnevale Coelho, mostrou que a Aeronáutica cobre 22 milhões de quilômetros quadrados do espaço aéreo brasileiro e que isso é feito com utilização de satélite.

O coronel disse que está com muita expectativa de que o AST seja ratificado logo no Congress para que os avanços em todos os sentidos beneficiem não somente Alcântara, como todo o Brasil. “As condições foram colocadas e estamos em um bom momento. O projeto que a gente idealiza é o mesmo que a gente implantou em São José dos Campos/SP, quando agregamos a indústria, o governo e a academia”, destacou o diretor do Centro de Lançamento de Alcântara.

“Isso é a coordenação da indústria, universidade, imprensa e governo em prol de um objetivo. Sem esse pilar, o programa não poderá decolar. Uma visita nessa dimensão ao Centro, além de trazer uma motivação significativa, representa a consolidação desse sustentáculo”, comentou o coronel aviador Carnevale. O diretor do CLA frisou que, com o Acordo de Salvaguardas, a região de Alcântara se transformará em uma grande locomotiva. “Nós temos condições de atender em escala global essa demanda do segmento espacial. A ratificação levaria a esse passo importante para o Brasil”, salientou o oficial.

Expectativa de polo industrial

O presidente da Fiema, Edilson Baldez, disse que o projeto é importante não apenas para o Maranhão, mas para o Brasil. “É uma oportunidade de consolidar o acesso a era espacial e criar aqui um ambiente de desenvolvimento não apenas no lançamento de foguetes, como em todas as outras atividades, incluindo o turismo, que vai enriquecer essa área do Maranhão, para que o Estado alcance um nível de progresso que beneficiará o país", declarou ele.

Baldez está apostando que o ASL vai contribuir para as inovações no contexto empresarial, no sentido de geração de emprego e renda. “Esse projeto vai ser relevante para a Defesa nacional e o desenvolvimento de tecnologias, para elevar Alcântara como um grande polo de desenvolvimento. Isso interessa à indústria, ao comércio, à agricultura”, expressou o presidente da Fiema.

“O Brasil vai entrar no mercado de lançamentos comerciais de satélites. Há anos, o conselho empresarial do Brasil e EUA aguarda o Acordo de Salvaguardas com os americanos. Nossa expectativa é a de que passaremos a exportar serviços relacionados a essa indústria”, ressaltou Baldez.

Quase 500 lançamentos

Na visita, o vice-diretor do CLA, coronel Fontes comentou que, em 40 anos, o CLA já realizou, aproximadamente, 500 lançamentos, sendo 83 com outros países. Destes, 80 foram com os Estados Unidos. Ele pontuou que os EUA são o maior parceiro nesse projeto aeroespacial. “Isso gerou, para a indústria brasileira, principalmente a aeronáutica, diversos protocolos de sucesso. Praticamente 80% do que existe de satélite no mundo da indústria aeroespacial tem tecnologia norte-americana envolvida”, assinalou o militar.

Segundo ele, o AST é muito mais conveniente para o Brasil do que para os EUA. “A estrutura aeroespacial norte-americana já existe. A nossa vai se beneficiar bastante. Os Estados Unidos observam isso como uma parceria. O que nós precisamos entender é que o acordo, em nenhum momento, vai ferir nossa soberania. É um protocolo para salvaguardar nossa tecnologia, que será preservada. Não tenho dúvidas de que é uma janela de oportunidades para o Brasil”, pontuou o coronel Fontes.

O acordo

O AST foi assinado por representantes do Brasil e EUA no dia 18 de março deste ano. O objetivo é permitir que veículos lançadores e cargas úteis comerciais de qualquer nacionalidade, que contenham equipamentos ou tecnologias norte-americanas, sejam lançados a partir do Centro de Lançamento de Alcântara, segundo o Ministério da Defesa. Pelo Acordo de Salvaguardas, as informações tecnológicas não vazarão, ou seja, serão protegidas, para potencializar as ações de fortalecimento do Programa Espacial Brasileiro.

“Um aspecto importante, que torna esse acordo único, é que muitos equipamentos utilizados nas operações espaciais em todo o mundo, seja nos veículos lançadores ou mesmo nos veículos ou cargas úteis neles embarcados, contêm tecnologias norte-americanas controladas, sendo esses componentes sujeitos a autorizações específicas para exportação pelo governo dos EUA”, diz o Ministério da Defesa em seu site. Ainda segundo o órgão do governo federal, o ACT representa uma oportunidade de viabilizar a entrada do CLA no bilionário e crescente mercado espacial internacional.

“O documento possibilita destravar o uso comercial do CLA e, com isso, atrair investimentos, desenvolver uma cadeia produtiva de alto valor agregado com inúmeros postos de trabalho no Brasil, desenvolver o Programa Espacial Brasileiro e incrementar a arrecadação de impostos na região a ser beneficiada”, destaca o Ministério. Pelo acordo, o País espera arrecadar até R$ 140 milhões por ano somente com taxas de lançamentos no Centro de Lançamento de Alcântara.

Antes da assinatura do ACT entre Brasil e EUA, o acordo tramitou em 2011 no Congresso Nacional, mas não foi aprovado devido à existência de alguns termos que não agradaram deputados e senadores. Em 2017, nova proposta foi apresentada, sendo que o novo Acordo de Salvaguardas Tecnológicas foi discutido pela Embaixada do Brasil nos Estados Unidos da América em Washington. Inclusive, o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, esteve no território brasileiro no ano passado para tratar sobre o assunto.

O objetivo do Acordo de Salvaguardas é transformar Alcântara em um polo espacial e industrial, com geração de empregos, impostos e tecnologia. Atualmente, o Centro de Lançamento possui 66 mil hectares. “A nossa missão é preparar, lançar e rastrear. Precisamos fazer com o que o estado brasileiro viabilize a indústria. Assim, o homem de negócios precisa estar na dianteira. Esse projeto é de toda a sociedade”, enfatizou o diretor do CLA.

O CLA

O Centro de Lançamento de Alcântara possui uma extensa área, que inclui hangar, pelotão de combate a incêndio, pista de pouso, posto médico (com capacidade até para cirurgias de pequeno e médio porte), refeitório e uma escola de nome Caminho das Estrelas, que já ganhou vários prêmios nacionais por excelência no ensino. Também há um setor de meteorologia, 158 residências e dois hotéis.

Bem como existe o Prédio de Segurança, que controla o acesso de pessoas e verifica todas as atividades executadas na base. Há, ainda, o Centro de Controle, que opera com a mais avançada tecnologia da informação, por meio de uma rede de transmissão de dados e sistema de telecomunicação modernos. No local, há 33 posições com computadores, que são utilizados para a verificação da contagem regressiva para o lançamento dos foguetes, como o coronel Fontes mostrou à imprensa e aos empresários na visita.

O Centro de Controle opera por meio de um software chamado de SCOD (Sistema de Controle Operacional e Disparo). Lá, um painel mostra a trajetória dos veículos espaciais na subórbita. Ao lado daquela sala, existe um setor de segurança de voo, que pode interromper um lançamento em casos urgentes. Também há o Prédio de Preparação de Propulsores (PPP), que contém casulos de lançamento, carga útil e motor dos foguetes. Em 2018, ocorreram 4 operações e 5 lançamentos. O último lançamento de foguete para experimento científico e tecnológico ocorreu em dezembro de 2016, na “Operação Rio Verde”.

Antes de 2016, o Centro tentou lançar um foguete Veículo Lançador de Satélites (VLS), em 22 de agosto de 2003, mas a torre explodiu e matou 21 pessoas. Segundo o relatório final de investigação da Aeronáutica em fevereiro de 2004, houve um "acionamento intempestivo" (súbito) de um dos quatro motores do VLS, provocado por uma pequena peça que ligava o motor. Corrente elétrica ou descarga eletrostática (transferência de energia por contato entre dois corpos) teriam sido os fatores que levaram o detonador a disparar, embora ainda não exista uma explicação científica completa.

O Centro também possui, ainda, a Torre Móvel de Integração, onde os foguetes são lançados e que possui uma altura aproximada de 25 metros. Na TMI, está previsto para ser enviado ao espaço um Veículo Lançador de Microssatélite (VLM), de natureza orbital, nos próximos anos. Neste ano, já foram realizados dois lançamentos, mas ainda estão previstas três operações até dezembro, sendo que a primeira ocorrerá, provavelmente, entre setembro e outubro, de acordo com o engenheiro Antônio Rogério Torres, chefe do Setor de Preparação e Lançamentos do CLA.

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