Prêmio

Imagens e palavras contra o racismo

Ensaio da fotógrafa Ana Mendes foi vencedor na Categoria Fotografia Documental do Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger, realizado pela Fundação Cultural do Estado da Bahia

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23
Uma das imagens do ensaio “Pseudo Indígenas”, de Ana Mendes
Uma das imagens do ensaio “Pseudo Indígenas”, de Ana Mendes (Foto Ana Mendes Prêmio)

São Luís - A fotógrafa maranhense Ana Mendes teve seu trabalho premiado em uma das categorias da 7ª edição do Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger. O concurso, promovido pela Fundação Cultural do Estado da Bahia, reconheceu ainda o trabalho do também maranhense Márcio Vasconcelos que receberá menção honrosa e participará da Exposição Coletiva e do Catálogo do prêmio.

Ana Mendes foi vencedora na Categoria Fotografia Documental com o projeto “Pseudo Indígenas”. O ensaio retrata dois povos com os quais a fotógrafa tem trabalhado ao longo dos anos, que são os Akroá Gamella, do Maranhão e os Guarani Kaiowá, do Mato Grosso do Sul. “Trata-se da junção de imagens, registros documentais que realizo há muitos anos mas que ganhou um novo formato. Em algumas imagens faço intervenções com nanquim, carvão e tinta para escrever palavras que integram uma pesquisa maior que faço sobre o racismo contra os povos indígenas”, explica Ana Mendes.

Para tanto, a fotógrafa usou textos fortes na tentativa de explicitar o ódio declarado das instituições e do Estado contra os indígenas. Ela levou a palavra para dentro do quadro fotográfico escrevendo nas imagens impressas com o intuito de potencializar a narrativa e a estética. Os traços-palavras provocam ruído de versões: a imagem diz e a palavra contradiz. Outra hora, a palavra já não quer mais dizer, ela se transfigura em forma abstrata. Já não quer mais objetivar a realidade, mas somente compô-la.

A fotógrafa destaca que os Akroá Gamella foram considerados extintos pelo Estado brasileiro, entretanto, insurgiu em 2014 e agora exige a demarcação de suas terras tradicionais. Já e os Guarani Kaiowá são a maior população indígena fora da Amazônia. “São quase 60 mil pessoas também lutando por terra. Em comum, os dois são vítimas de um racismo estrutural em ascensão que questiona a legitimidade da sua luta e não raras vezes a própria identidade é colocada em xeque, ‘supostos índios’, ‘pseudo indígenas’, dizem”.

Perfil

Ana Mendes é cientista social, documentarista e comunicadora multimídia. Tem 34 anos e fotografa desde os 18, principalmente a temática dos povos e comunidades tradicionais no Brasil em luta por território e direitos. Há alguns anos se dedica a projetos de longo prazo, acompanhando por grandes temporadas algumas etnias indígenas e comunidades tradicionais.

Entre 2015 e 2017 dedicou-se a fotografar os Guarani e Kaiowá, no Mato Grosso do Sul. Parte desse material foi publicado em reportagens multimídias pela Amazônia Real, veículo da mídia independente, situado em Manaus. Atualmente vive no Maranhão onde documenta os Akroá Gamella e os quilombolas de Alcântara, e outras populações tradicionais como as mulheres Quebradeiras de Coco.

Como freelancer trabalha para veículos da mídia independente brasileira, tais como Amazônia Real, Agência Pública, Repórter Brasil, The Intercept Brasil. Concomitante a isso faz mestrado em Ciências Sociais na Universidade Federal do Maranhão (UFMA). “Nas minhas documentações fotográficas utilizo a metodologia da fotografia compartilhada e do ‘bem querer’, elaborada pelo fotógrafo J.R.Ripper, com quem trabalho há muitos. Essa metodologia consiste em compartilhar o material bruto (fotos e vídeos) com as comunidades e povos fotografados na expectativa de selecionar um material final condizente com a autoimagem daquela coletividade. Em outras palavras, o povo tem o direito de deletar as imagens nas quais não se veem representados. Recentemente, Ripper me convidou para dividir com ele sua plataforma online onde guarda o um robusto acervo fotográfico sobre a história do Brasil. A inserção do meu material neste banco de imagens está em andamento e poderá ser conferida em breve no endereço www.imagenshumanas.com.br”, adianta.

Entre as exposições que já realizou estão “Como animais que invadem roça”, Palco Giratório, Porto Alegre, 2019; Exposição Coletiva no 16º Salão Nacional de Fotografia Pérsio Galembeck, Araras, São Paulo, 2019; Exposição Coletiva “Black and white”, Baghdad International Photography Exibition, Iraque, 2019; “Mantengo lo que dije”, Fotogaleria Prado (CDF), Montevidéu. Uruguai, 2018, entre outras.

Seu ensaio “Pseudo Indígenas” foi finalista no 16º Salão Nacional de Fotografia Pérsio Galembeck, Araras, São Paulo, 2019. Ana Mendes também venceu o 1º lugar no 15º Salão Nacional de Fotografia Pérsio Galembeck, Araras, São Paulo, 2018 e levou Menção Honrosa no prêmio Poy Latam, na categoria vídeo com “O massacre de Caarapó”, Barcelona, Espanha, 2017.

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