Coluna do Sarney

Alegrias e tristezas

José Sarney

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23

Fui matar saudades na Praia Grande, rever o Centro Histórico, cumprir alguns deveres e realizar desejos. O maior deles: visitar a Casa Josué Montello, que preserva o acervo de meu grande amigo, orgulho de nossa terra. Basta lembrar o maior romance sobre a escravidão no Brasil: "Os Tambores de São Luís", em que ele, por amor, incluiu no título limitativo o nome da cidade em que nasceu. A França bem entendeu isso e, na versão francesa, usou apenas "Les tambours noirs".

Fiquei feliz. Estive várias vezes com ele na Casa Josué Montello. Muitas tardes no pequeno apartamento em que ele morava com Ivone, conversamos sobre história do Maranhão e literatura. A Casa está impecável. Bem organizada, tratada com mãos de carinho e amor. A visitação do centro cultural é grande.

Depois fui à Livraria AMEI e tive outra satisfação. O imenso acervo só de autores maranhenses continua crescendo e recebo a informação de que se está editando quatro livros por semana no Maranhão. Novos talentos, grandes temas, jovens autores.

Em seguida, andei pelo Desterro e aí acabou minha alegria. Sua igreja está desmoronando - e ela é a mais antiga da cidade, com seu estilo único. Felizmente, temos Kátia Bogéa, que vai restaurá-la, como está fazendo por toda a cidade. Já concluiu a da Praça Deodoro e a da Rua Grande; agora começa a do Largo do Carmo e planeja muitas outras realizações. Ela, que é um exemplo de administradora, talentosa, inteligente, dedicada e com grandes serviços já prestados ao Maranhão e ao Brasil, está dando um show na sua atual administração do IPHAN pelo Brasil inteiro.

Mas quase chorei - se não chorei mesmo - ao ver as ruas abandonadas, esburacadas, três mil camelôs nas calçadas; os sobradões caindo, as placas de "Aluga-se" e "Vende-se" como a decoração da decadência.

Recordo quando fui governador. A cidade só tinha paralelepípedos soltos, pedras desmanchando-se. Fiz o calçamento de toda a cidade. Toda mesmo. O asfaltamento que resiste até hoje é do meu tempo. Faltava água, construí o novo sistema com as grandes caixas d'água que hoje marcam a paisagem de São Luís; fiz a barragem e a adutora do Batatã; ampliei a estação de tratamento do Sacavém e mudei a encanação da cidade, feita na década de 20, no tempo do governador Godofredo Viana.

Não fiz só a Barragem do Bacanga, a Ponte do Caratatiua, a de S. Francisco, as habitações do Anil, a Avenida Kennedy, a dos Franceses, o Hospital Carlos Macieira, a TV Educativa, as faculdades e a universidade. Toda a cidade foi bem tratada.

Agora vejo São Luís desse jeito. Trânsito caótico, bairros chorando por melhores condições de vida.

Estou com medo de perdermos o título de Patrimônio Cultural da Humanidade. Assumimos com a Unesco o compromisso de conservar São Luís e fazer dela referência turística.

O espaço é pouco para falar mais. Não é uma crítica: é um pedido de socorro.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.