Protestos

Greve geral causa caos em Hong Kong, com voos cancelados

Segundo Carrie Lam, protestos são ''caminho sem volta''; Pequim afirma que anunciará ''algo novo'' sobre seu território

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23
Manifestantes se protegem das nuvens de gás de efeito lacrimogêneo
Manifestantes se protegem das nuvens de gás de efeito lacrimogêneo (Reuters)

HONG KONG — Funcionários dos setores financeiro, de propaganda e da construção civil juntaram-se, ontem, 5, à primeira greve geral em Hong Kong desde os anos 1960, paralisando o território. A crescente participação da classe média indica que o sentimento antigoverno e pró-democracia vem ganhando força, marcando um novo capítulo dos protestos que entram em sua nona semana.

A paralisação desta segunda-feira, que vinha sendo divulgada nos fóruns on-line nos quais os ativistas se organizam, começou com a interrupção das linhas de trem e metrô da cidade, com manifestantes impedindo que as portas dos vagões se fechassem. Carrinhos, bicicletas e pedaços de metal foram postos nos trilhos, como obstáculo para a passagem dos trens. Como na semana passada, as interrupções causaram caos nos outros modais de transporte da cidade, que não conseguiram operar normalmente.

No aeroporto, manifestantes ocuparam o saguão de desembarque — uma tentativa de informar os turistas vindos da China continental, onde as notícias são bastante controladas pelo Estado, sobre a crise. Segundo os organizadores, 2.300 funcionários da aviação civil aderiram às paralisações e cerca de 77 voos foram cancelados.

Durante a tarde e o início da noite, no horário local, foram organizados, segundo o jornal South China Morning Post, protestos em sete locais diferentes. Manifestantes bloquearam cerca de 15 vias e três túneis da cidade, construindo barricadas, e posicionaram-se nas proximidades de delegacias. Como no sábado, bandeiras chinesas foram atiradas no mar.

Confrontos entre ativistas e policiais foram registrados em diversos pontos, transformando regiões residenciais em áreas tomadas por gás lacrimogêneo. Também foram usadas balas de borracha. Ao menos 82 pessoas foram presas.

Segundo autoridades policiais, desde 9 de junho mais de 420 manifestantes com idades entre 14 e 76 anos foram presos. Mais de mil bombas de gás lacrimogêneo, 160 balas de borracha e 150 balas de esponja foram utilizadas contra os ativistas.

'Caminho sem volta'

Após violentos protestos no sábado e no domingo , que levaram a mais de 20 detidos, incluindo um cidadão filipino e um sul-coreano — os primeiros estrangeiros a serem detidos na onda manifestações —, a chefe do Executivo da cidade, Carrie Lam, se pronunciou pela primeira-vez em duas semanas. Em um discurso de 40 minutos, Lam afirmou que o movimento de oposição é um "um caminho sem volta", que deixa a cidade próxima de "uma situação muito perigosa", sendo não só um ataque à soberania chinesa, mas também uma tentativa de destruir Hong Kong.

Hong Kong tem autonomia judicial, política e administrativa garantidas pela Lei Básica do país, uma semi-Constituição estabelecida quando o país foi devolvido aos chineses pelo Reino Unido, em 1997 — liberdade que os manifestantes julgam estar ameaçadas.

Quando os protestos começaram, em junho, Pequim dava sinais de que confiava a Lam a a resolução da crise,mas essa retórica começou a mudar há cerca de duas semanas, quando os manifestantes cercaram o prédio da representação chinesa em Hong Kong, pichando frases anti-China.

Na ocasião, o porta-voz do Ministério da Defesa advertiu que o governo central não tolerará iniciativas de manifestantes que ameacem a autoridade de Pequim e sugeriu que poderia mobilizar tropas do Exército Popular de Libertação para conter os protestos no território.

Nesta terça-feira, 6, o Escritório de Assuntos sobre Macau e Hong Kong do governo chinês deverá anunciar "algo novo" em sua política para o território. O conteúdo do anúncio é desconhecido. Quando o órgão se pronunciou pela primeira vez, há cerca de uma semana, seus porta-vozes fizeram um apelo para que o governo local punisse os responsáveis pela violência nas manifestações e restabelecesse a ordem rapidamente.

Lei de extradição

Quando as manifestações começaram, no início de junho, a demanda era bem clara: que o governo local, liderado por Lam, não levasse à frente um projeto de lei de extradição . Polêmica, a medida permitiria que o território extraditasse pessoas para países com os quais Hong Kong não tivesse nenhum acordo prévio sobre o assunto, como a China — algo que os opositores temiam que fosse utilizado para fins políticos.

A palavra final sobre as extradições caberia a Lam, eleita por uma comissão de maioria favorável a Pequim. uando Lam finalmente anunciou que a lei estava "morta" e não voltaria a ser discutida em seu governo, o território já havia mergulhado na crise política mais grave de sua História, com a escalada dos confrontos entre manifestantes e policiais. O movimento de oposição passou a defender a renúncia de Lam e eleições diretas para a escolha do chefe do Executivo do território, algo que o governo chinês não dá sinais de considerar.

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