Parque do Bom Menino

Da agenda de entrega de José Sarney a Zona de Preservação Histórica

Local no Centro é democrático que agrega, recebe e homenageia; crianças, idosos, atletas e desportistas se encontram no espaço

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23

[e-s001]Sob aplausos, em uma sex­ta-feira, às 20h - de acordo com reportagem publicada no Jornal Do Dia de 1º de fevereiro de 1970 -, o Parque do Bom Menino era inaugurado, sob grande expectativa. Após mais de dois anos de duração de obras e necessárias intervenções, a criação de um espaço público que possibilitasse desenvolvimento e incentivo a práticas esportivas e culturais foi finalmente cumprida pelo governo à época, liderado por José Sarney. Coube ao ex-gestor a entrega - ao lado do então secretário de Viação, Haroldo Tavares - de uma nova praça social que chamou a atenção dos primeiros frequentadores.

Segundo o governo à época, as obras no Bom Menino foram custeadas com recursos próprios. O parque se juntou a um pacote de outras intervenções estruturais, como a Ponte do São Francisco (entregue à população no dia 3 de fevereiro de 1970), Barragem do Bacanga, subestações de energia e outras.
Antes de entregar as obras do Parque do Bom Menino, o governador José Sarney cumpriu, no mesmo dia, vários compromissos. “Foi um momento importante para o nosso estado, de desenvolvimento e perspectiva de uma nova fase”, disse José Sarney a O Estado.

De acordo com os jornais do período, às 9h do dia 31 de janei­ro de 1970, o “chefe do Executivo maranhense” entregou o Hospital Carlos Macieira, dos servidores públicos, obra custeada pelo Instituto de Previdência em colaboração com a Secretaria de Saúde. Em seguida - em alusão a mais um aniversário da abertura dos Portos no Brasil -, inaugurou a Praça Almirante Tamandaré. No fim da manhã da entrega do Parque do Bom Menino, Sarney ain­da inaugurou a nova fábrica de ração balanceada, na Granja do Barreto, para abastecimento dos produtores locais.

À tarde e no Outeiro da Cruz - com a presença do prefeito Vicente Fialho e do coordenador-geral do Projeto Rondon, major Vicente Leitão da Rocha -, o gover­nador Sarney entregou a Praça Marechal Rondon. O turno vespertino ainda registrou entregas de obras nos bairros de Fátima, Matadouro, Codozinho, Sacavém e Tirirical.

Às 17h, o governador - ao lado da primeira-dama Marly Sarney - assistiu a uma missa em ação de graças no Cruzeiro do Anil. Por fim, antes da entrega do Parque do Bom Menino, o governo entregou a nova Avenida Fabril Camboa, totalmente pavimentada.

A “arrancada maranhense”
Os serviços do Parque do Bom Menino e outros fizeram parte do que se chamou, no período, de “a arrancada maranhense”. De acor­do com o suplemento do Jornal do Dia, de 1970, o “Estado do Maranhão é o que mais investe, e o volume de obras desenvolvidas pelo governo Sarney gerou um milagre” e perspectivas de grande futuro.

Solenidade sob aplausos
A entrega do Parque do Bom Menino foi feita com grande aceitação popular. Além de autoridades que participaram diretamente das obras, moradores da região central e dos bairros adjacentes se concentraram, lotando a nova área verde.

“Foi uma bela noite, que fechou uma agenda extensa de várias obras. Por nosso intermédio, São Luís acompanhava o restante do Maranhão ao receber esta obra do parque e outras, colocando-se em uma nova fase de progresso”, frisou Sarney.

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Em fevereiro de 1970, semanas após a entrega, o Parque do Bom Menino foi palco de apresentações culturais, em especial, de grupos carnavalescos. De acordo com jornais da época, a Flor do Samba - agremiação tradicional do bairro Desterro - se apresentou no espaço. Com 192 brincantes, a Flor mostrou desenvoltura e evolução e arrematou o segundo lugar no concurso promo­vido à época.

Ainda em 1970, com o título “Parque do Bom Menino é a nova atração”, a área urbana foi cenário para ser o “arraial central dos festejos juninos”. A iluminação, durante a festa, chamou a atenção. O parque se destacou de tal forma que já havia um planejamento para que o local fosse escolhido como o “ponto culminante do São João de 1971”.

Da entrega ao ostracismo e as intervenções do poder público
Após a entrega, o espaço recebeu várias readequações de menor porte, que mantiveram sua estrutura até o início da década de 2000, quando foi iniciado o planejamento para a recuperação do parque. Em 2005, foi entregue a primeira etapa de recuperação do Parque do Bom Menino, conduzida pelo Instituto de Paisagem Urbana (Impur).

A primeira etapa dos serviços incluiu a construção de um núcleo de educação ambiental, mon­tado em parceria com a Al­coa. De acordo com informações da Prefeitura de São Luís, no período, foram disponibilizados US$ 250 mil para as intervenções. A unidade, com dois auditórios, também possibilitou a montagem de uma representação do Ministério do Meio Ambiente no local.

Sete anos depois, em junho de 2012, o então prefeito de São Luís, João Castelo, entregou ampla reforma do Parque do Bom Meni­no. Além da recuperação do piso (9.557 metros quadrados) para a prática de caminhadas e corridas, também foram entregues duas novas estações para alongamen­to, espaços de acessibilidade, troca do sistema de iluminação, recuperação do Ginásio Poliesportivo Tião e montagem de cercas de aço inox.

Segundo informações da épo­ca, foram gastos aproximadamente R$ 2 milhões na recuperação da área para a população. O núcleo ambiental, erguido em 2005, teve a cobertura de palha trocada por telha cerâmica, tipo colonial especial (240 metros quadrados no total) e reforçada a estrutura metálica existente.

Em 2017, na segunda administração do atual prefeito Edivaldo Holanda Júnior, foram substituídos aproximadamente 1,7 mil metros de cabos de cobre usados anteriormente para a distribuição dos pontos de energia. Além disso, 22 projetores do Ginásio Tião foram substituídos.

De acordo com informações da Prefeitura de São Luís, os serviços de “requalificação do Parque do Bom Menino” foram executados pela Secretaria Municipal de Projetos Especiais (Sempe), com recursos oriundos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

A inclusão no Impur
Em 2002, com a criação do Instituto Municipal de Paisagem Urbana (Impur) - a partir da Lei Municipal nº 4.127 -, houve a necessidade, um ano mais tarde, da criação do Plano de Paisagem Urbana, cujo conjunto de regras incluiria ações de proteção e uso social nos parques do Bom Menino e do Diamante. Além disso, haveria programa de proteção dos rios Bacanga e das Bicas.

No anterior código legislativo urbano, o Parque do Bom Menino estaria incluso na Zona de Preservação Histórica (ZPH), e o espaço verde foi escolhido como o de “princípio das intervenções” devido à grande demanda de uso populacional.

O parque e a ligação com a arte: o painel famoso de Antônio Almeida
Em novembro do ano passado, O Estado mostrou parte do trabalho de Antônio Alves Almeida, um autodidata de Barra do Corda (MA) nascido em 1922 e que faleceu em 2009, em virtude de um câncer. Por meio de seu talento e amor à arte, deixou marcados seus traços em vários pontos da cidade, entre eles o Parque do Bom Menino.

A “tela” escolhida foi o muro da sede do Grupo de Dança Afro Malungos (GDAM), projeto que acolhe crianças carentes da cidade. O painel faz representações de hábitos simples, como o costume de pular amarelinha ou corda.

Uma das gravuras de maior impacto é a de um garoto que joga peão sozinho em uma das ruas da cidade. O painel tem representação direta com o parque, já que muitos destes e outros hábitos eram comuns em décadas anteriores, na área de preservação.

[e-s001]Parque como incluidor social: o projeto GDAM e sua história de três décadas
Em 1986, para o atendimento das comunidades quilombolas de bairros do Itaqui-Bacanga, Centro e adjacências, foi fundado o Grupo de Dança Afro Malungos (GDAM), que promove oficinais para o público infanto-juvenil e se apresenta em eventos de repercussão no estado. A entidade, que no próximo dia 22 completará 33 anos de existência, tem sua sede fixa no Parque do Bom Menino, local que virou sua casa.

No total, mais de três mil crianças e adolescentes foram assistidos pelo GDAM, que promove a integração na sociedade por intermédio da valorização cultural. Nos primeiros anos, o foco do grupo era basicamente na parcela negra e excluída socialmente. Com o tempo, o grupo percebeu que era necessário expandir o público-alvo.

Além da sede física, o GDAM também utiliza a área de apresentações montada no Parque do Bom Menino. O local recebe diariamente oficinas de pintura e de esportes, como vôlei, basquete e futsal.

O GDAM mantém ainda o projeto Sonhos do Bom Menino, que atende adolescentes em respeito à diversidade social, racial e de gênero. Além de cursos de dança, o projeto também busca democratizar o acesso à cultura e à prática esportiva.

A homenagem ao Maravilha Negra: o Ginásio Tião no complexo do Bom Menino
Em 2005, o Maranhão perdeu um dos seus nomes mais importantes do esporte local. Sebastião Rubens, o Tião, foi um grande atleta no handebol e, após passagem vitoriosa pela França, foi batizado como “Maravilha Negra”.

Aos 48 anos, Tião deixou a vida e um legado de fãs. Muito respeitado no meio, o ex-atleta tem ligação direta com o Parque do Bom Menino, ao ter o seu nome ligado ao ginásio poliesportivo erguido dentro da área vegetal. Pela seleção maranhense, Tião ganhou destaque nacional.

Atualmente, não há nenhuma referência gráfica no ginásio apontando o nome original da praça esportiva. Diariamente, vários jovens praticam esportes no ginásio. Além de eventos do gênero, o local também recebe eventos públicos e grupos de idosos para atividades sociais.

O atual espaço democrático do Bom Menino e seus problemas
Atualmente, o Parque do Bom Menino é usado para, em especial, prática de atividades físicas. Nas primeiras horas da manhã e fins de tarde, é comum ver pessoas caminhando ou correndo pela área. Idosos e crianças dividem espaço dentro do Parque.

A aposentada Maria de Fáti­ma, de 60 anos, está no local diariamente desde 2013. “Gosto de vir passear aqui ou de fazer atividades físicas. É uma área que, sem dúvida, faz parte da história da nossa cidade”, disse.

O Parque do Bom Menino também recebe crianças de todas as idades. Ian, de apenas 7 anos de idade, adora brincar no local. “Eu gosto de vir aqui com a minha mãe e com minha avó. Gosto dos meus amigos daqui”, disse.
Se, por um lado, o Parque do Bom Menino é conhecido por receber vários frequentadores, por outro a área apresenta problemas de ordem estrutural. Além da ausência de placas de identificação, grades de aço inox que cercam o parque estão quebradas.

Usuários também alegam que, à noite, alguns postes de iluminação não funcionam. De acordo com o Município, a gestão do Parque é feita pela administração local e por órgão de controle dos parques na cidade.

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