Futuro do país

Governo afegão cede e nomeia equipe para negociar com Talibã

Acordo entre Washington e grupo insurgente, que culminaria na retirada das tropas estrangeiras do Afeganistão, deverá ser assinado até setembro

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23
Presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, faz pronunciamento sobre processo de paz
Presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, faz pronunciamento sobre processo de paz (Reuters)

CABUL - O governo do Afeganistão cedeu e nomeou, ontem, 31, uma equipe para negociar diretamente com o Talibã sobre o futuro do país. A concessão veio na expectativa da assinatura do acordo entre o grupo insurgente e Washington que confirmaria a retirada dos militares americanos do país após 18 anos de guerra, condição imposta pelo Talibã para conversar diretamente com Cabul.

O representante especial do governo americano para as negociações de paz, Zalmay Khalilzad, tuitou que estava a caminho do Qatar para acertar os detalhes que faltam nas negociações. Antes da viagem, Khalilzad esteve no Afeganistão, onde se encontrou com o presidente afegão, Ashraf Ghani, diplomatas e funcionários da Defesa para discutir detalhes do processo de paz antes da assinatura do acordo.

Pressionado a ceder visando o sucesso das negociações, Ghani tem demonstrado desconfiança das conversas entre Washington e o grupo fundamentalista islâmico, que excluem o governo afegão. Segundo o presidente, as conquistas de Cabul ficariam vulneráveis ao acordo que, sob seu ponto de vista, só beneficiaria o Talibã. Críticos, entretanto, alegam que Ghani tem motivações pessoais: ele é candidato à reeleição e o pacto provavelmente colocaria um ponto final em sua Presidência.

Apesar da resistência do governo afegão, um acordo que colocaria um ponto final na guerra que eclodiu em 2001 deverá ser fechado até o dia 1º de setembro. Naquele ano, em reação aos ataques de 11 de Setembro, uma coalizão liderada pelos EUA derrubou o governo talibã, que havia dado abrigo a Osama bin Laden , líder da rede terrorista al-Qaeda , responsável pelos atentados que deixaram quase 3 mil mortos nos EUA.

Desde então, os talibãs, que têm amplo apoio da maioria pashtun da população afegã e controlam metade do país, travam uma guerra de guerrilha contra o governo apoiado pelos americanos. O grupo se recusa a conversar sobre o futuro do país até que Washington concorde em retirar todas as suas tropas do Afeganistão. Atualmente, cerca de 20 mil soldados, a maior parte deles americanos, ainda estão na região, integrando uma missão da OTAN para treinar, auxiliar e orientar forças afegãs.

Direitos das mulheres

Muitos afegãos aliados ao governo temem que o anúncio da retirada das tropas americanas enfraqueça o poder de barganha que Cabul tem com o grupo insurgente, que busca reimplementar uma gestão similar à derrubada em 2001 — segundo o Talibã, o atual governo afegão não passa de uma marionete das forças estrangeiras.

Grupos que representam os direitos humanos temem que uma possível volta do grupo ao poder possa representar uma ameaça aos direitos das mulheres, restringindo seu acesso à escola e ao trabalho.

No auge da guerra do Afeganistão , há cerca de dez anos, os Estados Unidos chegaram a ter 100 mil soldados no país, liderando uma coalizão com mais de 130 mil membros para impedir que o Talibã voltasse ao poder. Mais de 3.400 mil estrangeiros morreram no país, incluindo 2.300 cidadãos americanos.

Segundo a ONU, mais de 33 mil civis morreram durante o conflito, incluindo 1.300 nos primeiros seis meses deste ano. Dezenas de milhares de militares afegãos e um número desconhecido de insurgentes também perderam suas vidas no confronto.

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