Invasão

Hacker atinge Bolsonaro, cúpula do Congresso e o Supremo

Polícia Federal afirma que tentativa de hackers de acessar dados do Telegram do presidente Jair Bolsonaro foi bem-sucedida; conteúdo das mensagens, contudo, não será analisado pela investigação

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
(Jair Bolsonaro)

BRASÍLIA - O grupo suspeito de promover ataques virtuais contra autoridades teve como alvo até o presidente da República, Jair Bolsonaro. Na lista estão ainda os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), além de um ministro do Supremo Tribunal Federal que não teve a identidade revelada. Segundo a Polícia Federal, a ofensiva revela a vulnerabilidade da comunicação na cúpula dos três Poderes.

No caso de Bolsonaro, os investigadores já sabem que a tentativa de acessar os dados no aplicativo Telegram foi bem-sucedida e ocorreu neste ano. O conteúdo das mensagens, contudo, não será analisado pela PF, mas encaminhado à Justiça Federal. No Palácio do Planalto, o fato é considerado crime de segurança nacional.

A partir de uma espécie de central de grampos montada em Araraquara, no interior de São Paulo, presos na Operação Spoofing tentavam acessar conversas privadas dos alvos. Nem todas as autoridades tiveram mensagens capturadas ou mesmo os celulares efetivamente invadidos, segundo as investigações preliminares da PF. Rodrigo Maia, por exemplo, afirmou que não utiliza o aplicativo Telegram, meio usado para invadir as contas das vítimas.

Bolsonaro disse não estar preocupado e que os hackers "perderam tempo" ao o escolherem como alvo. "Sempre tomei cuidado nas informações estratégicas. Essas não são passadas por telefone. Não estou nem um pouco preocupado se, porventura, algo vazar do meu telefone, não vão encontrar nada que comprometa. Perderam tempo comigo", afirmou o presidente durante visita a um colégio militar em Manaus. A informação de que o celular de Bolsonaro estaria entre os hackeados foi antecipada nesta quinta-feira, 25, pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Penas

Inicialmente, os quatro presos são investigados pelos crimes de invasão de dispositivos informáticos e interceptações telefônicas, que prevê pena máxima de 3 anos e 4 meses. Caso também sejam enquadrados na Lei de Segurança Nacional, como defendem integrantes do Planalto, a punição pode chegar a 15 anos de prisão.

A lista de autoridades alvo do grupo também inclui o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), José Otávio Noronha, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, além de pelo menos 25 membros do Ministério Público Federal. Ainda há dois ministros de Bolsonaro, Sérgio Moro, da Justiça e Segurança Pública, e Paulo Guedes, da Economia. Nem todas as vítimas foram identificadas.

Modus operandi

Cada um dos quatro presos pela PF teve um envolvimento no crime. Os investigadores já sabem que o cabeça é Walter Delgatti Neto, o "Vermelho". Ele admitiu em depoimento ser responsável pelas invasões e ter repassado ao jornalista Glenn Greenwald, fundador do site The Intercept Brasil, o conteúdo das interceptações de autoridades, conforme revelou nesta quinta o Estado.

De acordo com a PF, Delgatti Neto utilizava celulares e computadores de alta tecnologia para acessar as contas de aplicativos de conversas. A tática consistia em aproveitar uma falha no sistema de operadoras de telefonia que permite o acesso à caixa postal sem a necessidade de senha. A PF informou ter enviado nesta quinta um ofício à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) sobre as vulnerabilidades encontradas no sistema de telefonia no País.

Mesmo após a informação de que Bolsonaro foi alvo do ataque virtual, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou que por ora não há previsão de mudar procedimentos de comunicação na Esplanada.

A exemplo de Bolsonaro, Onyx mantém o número que usava antes de assumir o cargo. Eles se recusam a utilizar o aparelho criptografado oferecido pelo Gabinete de Segurança Institucional porque preferem falar pelo WhatsApp, que, para integrantes da área de segurança do governo, apresenta mais riscos.

O Terminal de Comunicação Seguro (TCS), desenvolvido pela Agência Brasileira de Inteligência para proteger informações trocadas entre autoridades, só permite comunicação com aparelhos similares. O próprio ministro do GSI, Augusto Heleno, usa o WhatsApp.

Onyx afirmou ainda que o assunto deve ser discutido em uma reunião ministerial prevista para a próxima terça-feira, caso haja alguma nova recomendação da Abin ou do Ministério da Justiça. "O WhatsApp a gente usa regularmente, quase todos (os ministros). Até porque é o (aplicativo) mais usado por toda a sociedade", disse, ressaltando ter "zero preocupação" com eventuais vazamentos.

Em nota, o GSI disse que cabe às autoridades "optar pelo equipamento e operá-lo conforme suas necessidades funcionais". "O TCS é móvel, possui funções de chamada de voz e troca de mensagens e arquivos criptografados com algoritmos de Estado", afirmou.

Página de hacker tem críticas a Sergio Moro e ao presidente

Preso sob suspeita de hackear os celulares do ministro da Justiça, Sérgio Moro, do coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, o procurador da República Deltan Dallagnol, e de autoridades da cúpula dos três Poderes, Walter Delgatti Neto, o Vermelho, mantém um perfil no Twitter com publicações de diversas críticas aos alvos dos ataques virtuais.

A conta de Vermelho na rede social ficou inativa de 2011 até maio deste ano, dias antes da primeira divulgação de conversas atribuídas a Moro e a procuradores da Lava Jato pelo site The Intercept Brasil, em 9 de junho.

"Sérgio Moro, assume tudo logo, colabora com a Justiça, conta tudo o que sabe", postou o perfil atribuído a Vermelho, logo após as mensagens vazadas começarem a ser divulgadas. "Cada dia que passa está ficando mais ridículo sua defesa apresentada. A casa caiu, tampar o sol com a peneira não vai adiantar", escreveu.

Além de reproduzir notícias sobre as supostas conversas do então juiz, a conta vinculada a Vermelho publicou piadas sobre o caso e pedidos para que o ministro renunciasse ao cargo. "Será que o Moro vai ficar aí?", escreveu em resposta ao próprio titular da Justiça, que havia compartilhado uma notícia sobre uma penitenciária federal.

Em algumas publicações, a conta usou a hashtag #JuizLadrão, em referência à declaração do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ). Durante audiência de Moro na Câmara para dar explicações sobre as mensagens, o parlamentar chamou o ministro de "juiz ladrão".

"Deve ser difícil ter que fazer coisas que você não queria fazer, né?", tuitou o perfil de Vermelho em resposta à publicação de Moro em que o ministro da Justiça aparece em fotografia ao lado do presidente Jair Bolsonaro na final da Copa América. "Tentar maquiar tudo que está acontecendo? Fingir que tudo está bem? Dá para ver no seu rosto que nada está bem, deprimente isso!"

Na conta associada ao hacker ainda há críticas e ataques a Bolsonaro. Há retuítes de publicações de perfis que chamam o presidente de "cretino" e fazem ironias. "Jair Bolsonaro sendo vaiado por uma torcida que pagou 600 talkeys no ingresso? Por essa eu não esperava", diz uma das mensagens replicadas.

Em 20 de julho, foi publicada na conta, sem legenda, uma montagem em que o rosto do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), aparece com uma coroa, no corpo do rei Luiz I da Hungria. Vermelho se filiou ao DEM em 2007. O presidente do partido e prefeito de Salvador, ACM Neto, disse que pediu nesta quinta-feira, 25, a expulsão de Walter Vermelho da legenda.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.