Ex-premier

Morre Li Peng, líder chinês que ordenou repressão na Praça da Paz Celestial

Episódio deixou cerca de 300 mortos em 1989, entre soldados e estudantes, segundo dados oficiais considerados controversos

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
Li Peng ex-premiê foi um dos responsáveis pela construção da Hidrelétrica das Três Gargantas
Li Peng ex-premiê foi um dos responsáveis pela construção da Hidrelétrica das Três Gargantas (AP)

PEQUIM - O ex-premier chinês Li Peng , chamado por ativistas de direitos humanos de "açougueiro de Pequim ", morreu segunda-feira, 22, informou ontem a mídia estatal Xinhua. O líder comunista era conhecido por ter autorizado a repressão aos protestos pró-democracia liderados por estudantes na Praça da Paz Celestial , em 1989. De acordo com dados oficiais, cerca de 300 pessoas morreram na ocasião, a maioria deles soldados. Ativistas e pesquisadores estimaram o número de mortos entre 500 e 2.600.

A causa da morte de Li não foi revelada. Sua morte ocorre no meio de uma crise política crescente entre China e Hong Kong, onde protestos violentos contra um projeto de lei de extradição trouxeram a Pequim o maior desafio popular ao governo desde o massacre na Praça da Paz Celestial. Apesar disso, analistas dizem não esperar que a morte de Li tenha algum impacto político.

Enquanto permaneceu no cargo de premier, até 1998, Li enfrentou diversas sanções impostas por países ocidentais em resposta à repressão de 1989. Ao contrário de Deng, cujo legado ficou marcado principalmente por seu papel como impulsionador das reformas que impulsionaram a ascensão da China, Li jamais conseguiu dissociar sua imagem no exterior do episódio em Pequim.

Ainda assim, o líder comunista manteve o apoio de milhões de trabalhadores de empresas estatais, devido a sua posição cautelosa em relação às reformas econômicas empreendidas por seu vice Zhu Rongji, que viria a se tornar seu sucessor. Inicialmente, as reformas provocaram inflação e aumento do desemprego.

Os comentários sobre a morte de Li nas mídias sociais chinesas parecem ter sido censurados, apesar de algumas referências oblíquas aos protestos na Praça da Paz Celestial. A Xinhua chamou o ex-premier de "destacado estadista, que estabilizou a situação doméstica e desempenhou um importante papel na grande luta sobre o futuro do Partido Comunista e do país, ao tomar medidas decisivas para deter a agitação e pacificar os motins contrarrevolucionários".

Legado de poder

Nascido na província de Sichuan, no sudoeste da China, Li ficou órfão quando seu pai, Li Shuoxun, um dos primeiros revolucionários do Partido Comunista, foi morto pelas forças nacionalistas. Ele foi criado entre membros do PC, que em 1949 viria a fundar a República Popular da China sob a liderança do premier Zhou Enlai e do líder Mao Tsé-Tung.

Aos 12 anos, Li foi enviado à base comunista de Yanan para estudar, por ordens de Zhou Enlai. O rapaz se juntou formalmente ao grupo aos 17 anos. Quando os comunistas chegaram perto da vitória em sua guerra civil contra os nacionalistas, Li se mudou para a União Soviética, para prosseguir seus estudos.

Reconhecimento nacional

Formado em engenharia hidrelétrica, o político alcançou reconhecimento nacional como um dos responsáveis pelo projeto da Represa das Três Gargantas no rio Yangtzé, uma enorme proeza de engenharia que se tornou parte de seu legado. Em 1994, já como premier, ele supervisionou o início das obras na barragem. Em uma música de sua autoria, incluída em seus diários publicados em 2003, ele escreveu: "A enorme roda gira, seu poder ilimitado. A conquista é agora e os benefícios, por mil anos".

No entanto, a barragem de 185 metros também foi um dos projetos mais caros e controvertidos da China, submergindo vilarejos, deslocando milhões de pessoas e destruindo ecossistemas.

Dois dos três filhos de Li - seu filho mais velho Li Xiaopeng e sua filha Li Xiaolin - foram contratados como executivos no setor de energia e se tornaram nomes influentes em círculos de liderança. Xiaopeng, cujo nome significa "Pequeno Peng", foi nomeado ministro dos Transportes em 2016.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.