No Golfo Pérsico

Irã anuncia apreensão de navio que ''contrabandeava'' petróleo

Petroleiro Grace 1, usado pelo Irã, após ser interceptado na costa de Gibraltar; especula-se que embarcação seja a mesma auxiliada pela Marinha iraniana no final de semana

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
Navio é suspeito de levar petróleo para a Síria, o que é vetado por sanções impostas pela União Europeia
Navio é suspeito de levar petróleo para a Síria, o que é vetado por sanções impostas pela União Europeia (Reuters)

DUBAI — O governo do Irã anunciou nesta quinta-feira que apreendeu um navio com 12 tripulantes na região do Golfo Pérsico, nas proximidades doEstreito de Ormuz , por estar "contrabandeando mais de um milhão de litros de petróleo". Segundo a imprensa estatal do país, trata-se da mesma embarcação que recebeu auxílio da Marinha iraniana no final de semana, informação não confirmada pela Guarda Revolucionária .

"Um navio estrangeiro contrabandeando um milhão de litros de petróleonas ilhas Larak, no Golfo Pérsico, foi apreendido", disse um comunicado divulgado pela Guarda, afirmando que o confisco foi determinado por uma ordem judicial após ser constatado que a embarcação "estava contrabandeando combustível".

Apesar de o navio ainda não ter sido identificado, há especulações de que se trate do petroleiro MT Riah, pertencente aos Emirados Árabes Unidos, grande aliado americano no Oriente Médio. De bandeira panamenha, a embarcação parou de transmitir sua localização no sábado, nas proximidades das ilhas Larak.

Sem nomear o Riah, o governo iraniano confirmou que rebocou um petroleiro estrangeiro para suas águas após receber "um pedido de ajuda" no domingo. Na ocasião, contudo, Teerã não fez quaisquer comentários sobre uma apreensão.

Pedido de calma

Uma porta-voz do governo britânico afirmou que o Reino Unido ainda está buscando mais informações sobre o ocorrido, mas pediu calma na região.

"Pedimos que as autoridades iranianas esfriem a escalada das tensões na região", disse a representante. "Continuamos a monitorar a situação da segurança no local e estamos comprometidos em garantir a liberdade de navegação, de acordo com a lei internacional".

O Irã vem ameaçando apreender embarcações estrangeiras no Golfo Pérsico desde o início de julho, em represália ao confisco do navio iraniano Grace 1 no Estreito de Gibraltar, por forças do Reino Unido. Segundo o governo britânico, a embarcação foi apreendida porque estaria levando petróleo do país persa para a Síria, violando sanções aplicadas a Damasco pela União Europeia desde 2011. Essas restrições, contudo, aplicam-se apenas aos países do bloco, não sendo extensivas a Teerã, por exemplo.

Na quarta-feira passada, três navios iranianos, também na região do Estreito de Ormuz, tentaram bloquear a passagem de um petroleiro britânico, mas foram impedidos por uma fragata da Marinha britânica que escoltava a embarcação comercial.

É possível que a apreensão seja apenas uma ação rotineira do trabalho de inteligência da Marinha, observa o jornal britânico The Guardian, mas em meio à tensão envolvendo o Irã, diplomatas temem que possa ser uma forma de o país exercer pressão diplomática.

Tensões acirradas

Os incidentes são mais um episódio da escalada de tensões entre o Irã e países ocidentais na região do Golfo Pérsico. As autoridades americanas culpam os iranianos por seis ataques a navios em maio e junho, nas proximidades do Estreito de Ormuz — o Irã nega qualquer participação. No mês passado, Teerã abateu um drone americano na região e, em resposta, o presidente Donald Trump ordenou bombardeios de retaliação, cancelando-os minutos antes da ação.

Na semana passada, o governo dos EUA anunciou que pretende trabalhar com países aliados na criação de uma coalizão militar internacional que proteja a navegação em Ormuz e no Estreito de Bab al-Mandeb. Os dois pontos são estrategicamente importantes porque ligam o Oceano Índico ao Golfo Pérsico e ao Mar Vermelho, respectivamente.

Fechar Ormuz

Há anos, o Irã ameaça fechar Ormuz caso seja impedido de exportar petróleo, a principal fonte de renda do país, algo que Trump vem tentando conquistar com sua política de "pressão máxima" direcionada a Teerã.

Em maio do ano passado, os EUA deixaram o acordo nuclear assinado em 2015, em que o país persa se comprometia a limitar seu programa atômico em troca do alívio das sanções, e voltaram a aplicar restrições financeiras ao Irã.

Em maio deste ano, as sanções foram ampliadas, praticamente impedindo que Teerã venda petróleo pelos meios oficiais. A medida derrubou as exportações do país. Em abril de 2018,os iranianos exportavam 2,5 milhões de barris de petróleo diariamente. Em junho, essa quantidade caiu para 300 mil barris diários.

Em resposta, o Irã anunciou que iria progressivamente deixar de cumprir suas obrigações no acordo até que os outros países signatários agissem para minimizar os efeitos das sanções. Na semana passada, os iranianossuperaram o limite permitido de estoque de urânio enriquecido , de 300kg e, na segunda-feira, anunciaram que estavam enriquecendo urânio a 4,5%, acima dos 3,67% previstos no pacto.

O país persa disse ainda que poderá elevar a taxa de enriquecimento a 20%, como fazia antes do acordo. Ainda assim, ficará bem distante dos 90% necessários para a produção de uma bomba atômica.

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