Artigo

Eu fritei hambúrger

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24

Não se comenta outra coisa depois que Eduardo Bolsonaro, deputado carioca, apontou como um de seus atributos para ser embaixador do Brasil, nos USA, o fato de um dia ter fritado hambúrguer por lá. “Eu fritei hambúrguer, portanto mereço a honraria”.

Ora, tal fala não era para ter merecido contestação da mídia. As pessoas precisam entender que, em pleno século XXI, as credenciais para ser um embaixador mudaram muito por conta do processo evolutivo. Ao criticarem o presidente, esquecem, por exemplo, de que o hambúrguer fritado pelo rapaz pode ter sido saboroso, com um sabor americanizado pouco comum por aqui. Afinal de contas, não é todo dia que um pai come um hambúrguer fritado pelo próprio filho e, mais ainda, que este seja digno de ser comido.

Essa profusão de contestações tornou urgente para os estrategistas do Planalto, o anúncio dos novos pré-requisitos a serem exigidos para alguém que se pretenda ser embaixadora partir de agora. A saber:

1.Que saiba fritar Hambúrguer.

Ao contrário do que dizem os contestadores, fritar hambúrguer, é sim, um pré-requisito essencial para um futuro embaixador dos USA. Responda depressa Que é mais importante para a vida prática de um embaixador em terra de gringo? Saber fritar um hambúrguer ou conhecer a Teoria da Relatividade? Ora, deixemos de ser hipócritas. Certos conhecimentos deixaram de ser fundamentais para o exercício profissional de um embaixador na vida moderna.

Embaixadores, como se sabe, têm vida noturna intensa, já que frequentemente saem para baladas e participam de surubas chiques. (Ocultas, é claro). Vai que numa dessas demandas terminem a noite num local imprevisto, doidos de fome. Quem salvará a situação fritando um hambúrguer?

2.Que saiba falar inglês elementar, e que tenha morado nos USA.

Longe de imposições curriculares arcaicas um embaixador de hoje não precisa possuir proficiência em inglês, capaz de traduzir, por exemplo, o Ulisses, de James Joyce. Ao contrario, só carece, de uma vivência norte-americana que o torne capaz de ter apreendido um inglês gestual, minimamente suficiente para ser entendido por todo tipo de gente que frequenta as embaixadas.

3.Que seja amigo de família do presidente dos USA.

O que se passa a exigir de um futuro embaixador é que tenha tido contato com os familiares do presidente americano, relativizando-se o grau de amizade. Não precisa ter sido amigo de infância, jogado futebol, ou compartilhado punhetas com o rapaz no mesmo banheiro. Basta que tenha gritado um dia “Oi, my friend!” para o filho do presidente americano, mesmo que este não tenha escutado.

4.Que seja filho do presidente do Brasil.

Este último predicado, sim, é fundamental e sine qua non. Afinal, não existe até hoje a mais remota possibilidade de alguém fazer um curso para ser filho de presidente e diplomar-se nisso.

Há de se reconhecer o esforço realizado para ser filho de um presidente, especialmente no caso brasileiro (Aguentar Bolsonaro, há de se convir, não é tarefa fácil para qualquer infância que se preze).

Enfim, esse quarto item é um ofício que se aprende por dedicação própria não nos bancos de uma escola, mas nos bancos comuns dos idos da juventude. Geralmente para pegar a mesada.

José Ewerton Neto

Autor de O ABC bem humorado de São Luís

E-mail: ewerton.neto@jotmail.com

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