Tensão

Violações do acordo nuclear pelo Irã está preocupando a UE

Governo iraniano exige medidas de países europeus para aliviar impacto das sanções americanas; China diz que restrições dos EUA são ''bullying''; o Irã passou, ontem, a enriquecer o metal a mais de 4,5%, ultrapassando os 3,67% estabelecidos pelo acordo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
Behrouz Kamalvandi, porta-voz da Organização Iraniana de Energia Atômica, confirma enriquecimento de urânio
Behrouz Kamalvandi, porta-voz da Organização Iraniana de Energia Atômica, confirma enriquecimento de urânio (AFP)

GENEBRA - O Irã anunciou na manhã de ontem, 8, que, como havia alertado desde a semana passada, aumentou o grau de enriquecimento de urânio para além do limite estabelecido pelo acordo nuclear de 2015. Em resposta, o porta-voz da União Europeia disse que o bloco está "extremamente preocupado" e fez um apelo para que o país persa reverta quaisquer violações do acordo de 2015.

Segundo informações da agência de notícias Isna que citam o porta-voz da Organização Iraniana de Energia Atômica, Behrouz Kamalvandi, o Irã passou, ontem, a enriquecer o metal a mais de 4,5%, ultrapassando os 3,67% estabelecidos pelo acordo, patamar adequado para o desenvolvimento de atividades não militares, como a geração de energia. A Agência Internacional de Energia Atômica confirmou que o limite foi superado, mas não especificou o grau.

O país também ameaçou reativar centrífugas nucleares e aumentar o grau de enriquecimento de urânio para até 20%, nível que praticava antes do tratado nuclear. Ainda assim, Teerã continuaria distante de uma bomba nuclear, o grande temor americano, artefatos que geralmente precisam de urânio enriquecido a mais de 90%.

De acordo com Teerã, as medidas são uma resposta à " falta de ação " de França, Alemanha e Reino Unido diante das sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos depois de abandonarem o tratado, em 2017. As sanções afetam principalmente o setor petrolífero, maior fonte de renda do governo. Em abril do ano passado, os iranianos exportavam2,5 milhões de barris de petróleo diariamente. Em junho, o valor caiu para 300 mil barris diários.

" Posse da bola"

Um representante da Chancelaria alemã disse que o Irã está com a "posse da bola" e deve ser persuadido a respeitar o tratado. O governo chinês, que, junto com a Rússia, também é signatária do acordo, adotou um tom dissonante, culpando os EUA pelo acirramento das tensões e chamando as sanções americanas de "bullying".

"Os americanos não só se retiraram unilateralmente do acordo, mas também criaram mais e mais obstáculos ao Irã e outros países para implementar o tratado por meio de sanções unilaterais e extraterritoriais. — Já está provado que o bullying unilateral se tornou um "tumor" que só piora e está criando mais problemas e crises em escala global.

Apesar das sanções, o Irã cumpriu todos suas obrigações no acordo atésemana passada , quando superou o limite permitido de urânio levemente enriquecido estocado localmente, de 300 kg . O chanceler, Javad Zarif, rejeitou as acusações de que teria violado o acordo, dizendo que o seu governo tem o direito de suspender as obrigações , uma vez que os demais signatários não estão cumprindo os seus termos.

'Precedente perigoso'

Outro foco de tensões com o Irã foi o confisco da embarcação Grace 1 , apreendida por forças britânicas no Estreito de Gibraltar na semana passada. Segundo o Reino Unido, o navio foi interceptado porque estaria levando petróleo iraniano para a Síria , violando as sanções aplicadas pela União Europeia contra Damasco.

Apesar de bloco europeu ter sanções que impedem a venda de petróleo à Síria desde 2011, a medida só vale para países do bloco, não sendo extensiva ao Irã, por exemplo. Nesta segunda-feira, o chanceler iraniano Mohammad Javad Zarif, afirmou em seu Twitter que a captura do navio abre "um precedente perigoso que deve acabar agora".

"O Irã não é um membro da União Europeia e também não está sujeito a nenhum embargo de petróleo pelos europeus. Na última vez que eu chequei, a UE era contra a extraterritorialidade. A captura ilegal que os britânicos fizeram de um navio que carregava petróleo iraniano em nome do Time B (nome utilizado para se referir aos americanos e seus aliados) é pirataria, pura e simples. Isso cria um precedente perigoso e deve acabar agora", tuitou.

Na semana passada, o chanceler espanhol, Josep Borrel, já afirmava que a apreensão do navio estava mal explicada, e sugerira que ela havia sido feita pelos britânicos a pedido dos Estados Unidos.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.