Crime

Não ao racismo no futebol!

O zagueiro do Sampaio Corrêa, Odair Lucas, foi xingado de "macaco" por um torcedor do Botafogo-PB, na vitória do time maranhense, na Paraíba, por 2 x 1, ocorrida sábado, pela Série C

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
Odair Lucas sofreu crime de injuria racial após a partida
Odair Lucas sofreu crime de injuria racial após a partida (odar h)

São Luís - Em mais uma caso de racismo no futebol brasileiro, o zagueiro do Sampaio Corrêa, Odair Lucas, foi xingado de "macaco"por um torcedor do Botafogo-PB, na vitória do time maranhense, em jogo realizado na Paraíba, por 2 x 1, sábado (6), pela Série C do Campeonato Brasileiro. A diretoria do Tricolor divulgou nota de repúdio por meio de suas redes sociais, na manhã de domingo (7). Os dirigentes do Belo também emitiram nota de repúdio.

De acordo com a nota do Sampaio Corrêa, Odair Lucas sofreu crime de injúria racial após a partida. “Viemos através desta repudiar o que aconteceu ontem [sábado] com o zagueiro Odair Lucas, que foi chamado de ‘macaco’ por um torcedor do Botafogo-PB. Temos certeza de que a maioria da torcida do Botafogo não aprova este fato. Só que não podemos ficar calados, não é apenas um xingamento qualquer ao fim do jogo, é um crime cometido contra um ser humano. NÃO AO RACISMO”, diz a nota.

Odair Lucas foi titular do Sampaio Corrêa contra o Botafogo (PB), formando dupla com Paulo Sérgio na partida que fez com que o Sampaio voltasse ao G-4. O jogador não se manifestou sobre o episódio.

O Botafogo disse que ficou sabendo do fato pela divulgação do Sampaio Corrêa e que lamenta o ocorrido.

Nota do Botafogo-PB

“O Botafogo Futebol Clube vem a público repudiar veementemente quaisquer ofensas racistas que tenham sido proferidas a partir da arquibancada do Almeidão na noite de sábado (6). O clube tomou conhecimento do ocorrido a partir das redes sociais que um jogador do Sampaio Corrêa, Odair Lucas, afirmou ter sido agredido com ofensas racistas por um torcedor do Botafogo.

“O clube reitera que tal atitude vai frontalmente de encontro aos valores defendidos pelo Botafogo, tais como o respeito e a diversidade nas arquibancadas do Almeidão ou de qualquer estádio. São valores inegociáveis para todos que fazem o clube e que devem refletir na postura dos nossos torcedores.

“O relato da ofensa pegou a todos que fazem o clube de surpresa. Passamos por situações muito mais adversas no Almeidão e em nenhum momento flagramos ou fomos informados por jogadores adversários de ofensas racistas terem partido de algum torcedor do Botafogo em nossa história recente.

“Somos do estado em que metade da nossa população é negra, somos nordestinos e sabemos que preconceito e discriminação não cabem mais na nossa sociedade. O Botafogo externa toda solidariedade ao atleta Odair Lucas.
“O Botafogo somos todos nós, sem exclusão.”

Não ao racismo!

O grande número de casos de racismo que aconteceram no Brasil de 2014 até agora abre espaço para dois pontos polêmicos: quem punir e como punir. A legislação esportiva dá margem para punições rígidas, mas o texto é dúbio em uma questão central: até onde penalizar os clubes aos quais estão ligados os agentes das manifestações racistas? Geralmente, as penas englobam multas e perdas de mando de campo.

Paralelo à discussão sobre as penas, existe um ambiente que dificulta a exposição desses gestos: o temor de represálias em casos de denúncias, a timidez dos clubes no combate ao preconceito e a permissividade do meio esportivo a gestos que em outras esferas são mais condenados, como se chamar alguém de “macaco” em um campo de futebol fosse diferente de fazê-lo em um restaurante, por exemplo.

O parágrafo primeiro do artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva abre a possibilidade de um clube perder pontos ou até ser excluído de uma competição em casos de racismo. Mas há uma ressalva: se a discriminação for “praticada simultaneamente por considerável número de pessoas”. É aí que mora a primeira questão: quantas pessoas são necessárias para se definir a ideia de “considerável número”?

Ninguém sabe. O que o texto implica é que manifestações individuais e manifestações coletivas de racismo devem ter punições diferentes. O extremo da lei, com perda de pontos e exclusão, costumava ficar longe da pauta.

O presidente do Sampaio Corrêa, Sérgio Frota, disse ter ficado surpreso com o caso, mas afirmou que não sabe se vai representar contra o Botafogo (PB). “Acho um absurdo em pleno século XXI as pessoas ainda medirem o caráter de uma pessoa pela cor da pele ou opção sexual. É lamentável o que ocorreu. Com relação a punir o clube, acho que não vou denunciar, porque o presidente do Botafogo (PB) não tem culpa da atitude racista de um torcedor. Nós já fomos punidos com perda de dois mandos de campo por causa de um torcedor que atirou uma garrafa em campo. Só quem perde é o clube”, explicou. Porém, se o juiz relatar na súmula o ato de racismo contra Odair Lucas o Botafogo (PB) poderá ser punido com multa e perda de mando de campo.

A vitória sobre o Botafogo (PB) e o retorno ao G4 deixaram o dirigente do Sampaio mais confiante. Ele espera poder contar mais com o apoio da torcida. “Foi um grande jogo, com uma postura diferente em campo. Quebramos a invencibilidade do Botafogo em casa, um clube que tem a folha salarial quatro vezes maior do que a nossa, e ainda conta com apoio da iniciativa pública e privada. Espero que essa vitória motive o nosso torcedor, e que ele compareça em peso para nos ajudar nessa caminhada. Será que a torcida finalmente vai ao Castelão apoiar nosso time? Eu espero que sim”, declarou.

Sérgio Frota cita os desafios que a equipe terá para conquistar o acesso, e reforça a necessidade de todo apoio daqui pra frente. “Fizemos os ajustes que tínhamos que fazer, mudando comissão técnica, reformulando o elenco e trazendo jogadores de referência, como o Rodrigo Andrade, o Ferreira, Lucas Hulk. Agora, o nosso maior desafio é financeiro, e por isso que insisto: o apoio do torcedor é fundamental para voltarmos à Série B. Se a torcida assim quiser, também, que abrace o time e lote o Castelão, a partir do próximo jogo”, finalizou.


O Sampaio Corrêa voltará a campo no domingo, 14, quando receberá o Globo (RN), na briga contra a zona de rebaixamento, no Estádio Castelão, às 17h.

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