Impasse

Irã ameaça apreender petroleiro britânico caso sua embarcação não seja liberada em Gibraltar

Segundo governo do Reino Unido, investigação no navio busca determinar natureza da carga e seu destino final

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
Navio Grace 1, que transportava petróleo iraniano, na costa de Gibraltar
Navio Grace 1, que transportava petróleo iraniano, na costa de Gibraltar (AFP)

LONDRES e TEERÃ — O governo iraniano ameaçou apreender um navio petroleiro britânico caso sua embarcação confiscada na quinta-feira no Estreito de Gibraltar , um enclave britânico na Espanha, na entrada do mar Mediterrâneo, não seja liberada.

"Se o Reino Unido não liberar o petroleiro iraniano, é o dever das autoridades apreender um navio petroleiro britânico", tuitou Mohsen Rezai, general da Guarda Revolucionária do Irã e vice-presidente do Conselho de Discernimento do regime, órgão encarregado de mediar as diferenças entre o Parlamento e o Conselho de Guardiões e de aconselhar o líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei. "A República Islâmica do Irã, em sua história de 40 anos, nunca deu início a hostilidades em qualquer batalha, mas também não hesitou em responder a provocações."

Segundo o governo britânico, o Grace 1 , que tem bandeira panamenha e é administrado por uma empresa de Cingapura, foi interceptado em águas territoriais do Reino Unido e estaria levando petróleo para a Síria , o que violaria as sanções aplicadas pela União Europeia contra Damasco.

O porta-voz da Chancelaria iraniana, Abbas Mousavi, confirmou que a embarcação transportava petróleo bruto originário do país persa e chamou a medida de “ destrutiva ”, expressando sua “ forte objeção à captura ilegal e inaceitável do navio ”. O embaixador britânico em Teerã foi chamado para dar explicações sobre o incidente.

Um porta-voz de Gibraltar disse nesta sexta-feira que os 28 tripulantes do petroleiro não são suspeitos, mas que estão sendo interrogados como testemunhas. Eles são majoritariamente indianos, com alguns paquistaneses e ucranianos. O objetivo da investigação seria determinar a natureza da carga e seu destino final. Policiais e funcionários da alfândega continuam a bordo, mas a Marinha britânica não está mais no navio.

Já o governo da Espanha, que não reconhece as águas na costa de Gibraltar como britânicas, questiona a versão dada por Londres. Segundo o chanceler espanhol, Josep Borrell, a ação ocorreu a pedido dos EUA .

"Estamos estudando as circunstâncias em que se produziu o incidente, mas foi um pedido que fizeram os EUA ao Reino Unido", disse Borrell. "Estamos vendo de que forma isso afeta a nossa soberania, uma vez que ele aconteceu em águas cuja soberania entendemos que seja da Espanha".

Impasse diplomático

Para o analista Matthew Oresman, sócio de uma empresa que aconselha empresas sobre a aplicação de sanções, não há dúvidas que a ação foi coordenada, em algum nível, com os EUA e mesmo a Otan.

O Grace 1 deixou a região do Golfo Pérsico e seguiu em direção à Síria por uma rota mais longa, pela costa da África. Os documentos mostram que a embarcação foi carregada no porto iraquiano de Basra , no sul do país, mas dados de navegação sugerem que ela tenha sido abastecida em portos iranianos.

As sanções impedindo a venda de petróleo à Síria estão em vigor desde 2011 , mas esta é a primeira vez que uma embarcação com destino ao país é interceptada na região do Mediterrâneo.

Desde abril do ano passado, quando os EUA deixaram o acordo internacional que estabelece limites ao programa nuclear iraniano, o Irã voltou a ser alvo de sanções americanas. Em maio, estas sanções foram ampliadas, praticamente impedindo que o país venda petróleo pelos meios oficiais. A medida derrubou as exportações, principal fonte de renda do país. Em abril do ano passado, os iranianos exportavam 2,5 milhões de barris de petróleo diariamente. Em junho, o valor caiu para300 mil barris diários.

Em resposta, o Irã anunciou que iria deixar de cumprir suas obrigações no acordo, até que os outros países signatários (Rússia, China, França Alemanha, Reino Unido, além da União Europeia) ajam para minimizar os efeitos das sanções. Na segunda-feira, os iranianos superaram o limite permitido para o estoque de material nuclear no país, de 300kg. O presidente Hassan Rouhani já afirmou que, se nada for feito até domingo, o Irã vai passar a enriquecer urânio acima dos 3,67% permitidos pelo acordo .

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