Tolerância zero

China chama protestos em Hong Kong de ''desafio escancarado''

Pequim pede que manifestantes que invadiram e depredaram Parlamento sejam responsabilizados criminalmente; comunicado instou o Executivo de Hong Kong a "restabelecer a ordem social o mais rápido possível"

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
Mensagens de protestos deixadas por manifestantes nas paredes da sede do governo em Hong Kong
Mensagens de protestos deixadas por manifestantes nas paredes da sede do governo em Hong Kong (Reuters)

PEQUIM e HONG KONG — A China condenou ontem, 2, os protestos violentos ocorridos na véspera em Hong Kong , que chamou de um "desafio escancarado" à forma de governo estabelecida no território desde sua devolução a Pequim há 22 anos. Horas mais cedo, a polícia lançara gás lacrimogêneo para dispersar centenas de manifestantes que haviam invadido e saqueado a sede do Parlamento local.

O Escritório para Assuntos de Hong Kong e Macau da China pediu que o governo do território investigue a "responsabilidade criminal" dos responsáveis por "atos violentos", que chamou de "extremistas radicais". O grupo que invadiu o Legislativo de Hong Kong fazia parte de uma multidão maior, predominantemente pacífica, que realizava mais um protesto contra uma proposta de legislação que permitiria a extradição de pessoas para a China continental.

A tramitação do projeto foi suspensa há duas semanas pela chefe do Executivo local, Carrie Lam, o que não acalmou os ânimos da oposição, que exige seu arquivamento definitivo e a renúncia de Lam. Na segunda-feira, ela disse que não voltará a pôr o projeto em votação.

"Violando gravemente a lei, este ato atropela o Estado de Direito em Hong Kong, enfraquece a ordem social e os interesses fundamentais de Hong Kong, e é um desafio escancarado às bases de Um país, dois sistemas", diz um comunicado do Escritório para Assuntos de Hong Kong, referindo-se à fórmula pela qual a cidade é governada desde 1997, e pela qual manteve a autonomia administrativa e jurídica.

O comunicado instou o Executivo de Hong Kong a "restabelecer a ordem social o mais rápido possível". "O 1º de julho foi um dia feliz para pessoas de todo tipo em Hong Kong que comemoraram seu regresso à pátria. Mas alguns extremistas radicais usaram sua oposição a um projeto de lei como desculpa para irromper no edifício do Legislativo de maneira extremamente violenta. Nós condenamos esse ato", acrescentou.

O jornal Global Times, publicação em inglês ligada ao Partido Comunista, pediu "tolerância zero" após a violência em Hong Kong. Diferentemente do que vinha ocorrendo desde o ínicio dos protestos, quando a notícia era ignorada pelos meios de comunicação oficiais da China continental e censurada nas redes sociais, a mídia chinesa deu destaque à invasão do Parlamento. O China Daily publicou em sua página na internet três textos sobre o incidente, dando destaque às entidades que o condenaram.

Apesar do tom da reação chinesa, analistas ouvidos pelo New York Times disseram que é improvável que Pequim tome medidas mais drásticas, como a intervenção com tropas, e que deixará as providências práticas para o governo do território.

Lei de extradição

Desde que o projeto da lei de extradição começou a tramitar no Legislativo, em fevereiro, Lam negou que a medida fosse limitar a independência do Judiciário local. Segundo o projeto, um pedido de extradição feito pela China seria examinado pelos tribunais de Hong Kong, mas a palavra final caberia ao chefe do Executivo.

As autoridades locais argumentam que salvaguardas para garantir os direitos humanos e procedimentos justos foram estabelecidos, incluindo a proteção contra a aplicação da pena de morte e o veto a extradições sob acusações políticas. Seus opositores, contudo, afirmam que os governantes se sentiriam pressionados a apoiar um pedido de extradição feito pela China, já que são escolhidos por uma comissão de maioria favorável a Pequim.

Os tumultos de segunda-feira deixaram um rastro de guarda-chuvas, garrafas e outros objetos nos arredores do Parlamento de Hong Kong. A polícia limpou as ruas perto do centro financeiro da cidade, a fim de permitir que os negócios voltassem à rotina. Manifestantes destruíram computadores e pintaram com tinta de spray slogans anti-extradição em escritórios do governo.

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