China chama protestos em Hong Kong de ''desafio escancarado''
Pequim pede que manifestantes que invadiram e depredaram Parlamento sejam responsabilizados criminalmente; comunicado instou o Executivo de Hong Kong a "restabelecer a ordem social o mais rápido possível"
PEQUIM e HONG KONG — A China condenou ontem, 2, os protestos violentos ocorridos na véspera em Hong Kong , que chamou de um "desafio escancarado" à forma de governo estabelecida no território desde sua devolução a Pequim há 22 anos. Horas mais cedo, a polícia lançara gás lacrimogêneo para dispersar centenas de manifestantes que haviam invadido e saqueado a sede do Parlamento local.
O Escritório para Assuntos de Hong Kong e Macau da China pediu que o governo do território investigue a "responsabilidade criminal" dos responsáveis por "atos violentos", que chamou de "extremistas radicais". O grupo que invadiu o Legislativo de Hong Kong fazia parte de uma multidão maior, predominantemente pacífica, que realizava mais um protesto contra uma proposta de legislação que permitiria a extradição de pessoas para a China continental.
A tramitação do projeto foi suspensa há duas semanas pela chefe do Executivo local, Carrie Lam, o que não acalmou os ânimos da oposição, que exige seu arquivamento definitivo e a renúncia de Lam. Na segunda-feira, ela disse que não voltará a pôr o projeto em votação.
"Violando gravemente a lei, este ato atropela o Estado de Direito em Hong Kong, enfraquece a ordem social e os interesses fundamentais de Hong Kong, e é um desafio escancarado às bases de Um país, dois sistemas", diz um comunicado do Escritório para Assuntos de Hong Kong, referindo-se à fórmula pela qual a cidade é governada desde 1997, e pela qual manteve a autonomia administrativa e jurídica.
O comunicado instou o Executivo de Hong Kong a "restabelecer a ordem social o mais rápido possível". "O 1º de julho foi um dia feliz para pessoas de todo tipo em Hong Kong que comemoraram seu regresso à pátria. Mas alguns extremistas radicais usaram sua oposição a um projeto de lei como desculpa para irromper no edifício do Legislativo de maneira extremamente violenta. Nós condenamos esse ato", acrescentou.
O jornal Global Times, publicação em inglês ligada ao Partido Comunista, pediu "tolerância zero" após a violência em Hong Kong. Diferentemente do que vinha ocorrendo desde o ínicio dos protestos, quando a notícia era ignorada pelos meios de comunicação oficiais da China continental e censurada nas redes sociais, a mídia chinesa deu destaque à invasão do Parlamento. O China Daily publicou em sua página na internet três textos sobre o incidente, dando destaque às entidades que o condenaram.
Apesar do tom da reação chinesa, analistas ouvidos pelo New York Times disseram que é improvável que Pequim tome medidas mais drásticas, como a intervenção com tropas, e que deixará as providências práticas para o governo do território.
Lei de extradição
Desde que o projeto da lei de extradição começou a tramitar no Legislativo, em fevereiro, Lam negou que a medida fosse limitar a independência do Judiciário local. Segundo o projeto, um pedido de extradição feito pela China seria examinado pelos tribunais de Hong Kong, mas a palavra final caberia ao chefe do Executivo.
As autoridades locais argumentam que salvaguardas para garantir os direitos humanos e procedimentos justos foram estabelecidos, incluindo a proteção contra a aplicação da pena de morte e o veto a extradições sob acusações políticas. Seus opositores, contudo, afirmam que os governantes se sentiriam pressionados a apoiar um pedido de extradição feito pela China, já que são escolhidos por uma comissão de maioria favorável a Pequim.
Os tumultos de segunda-feira deixaram um rastro de guarda-chuvas, garrafas e outros objetos nos arredores do Parlamento de Hong Kong. A polícia limpou as ruas perto do centro financeiro da cidade, a fim de permitir que os negócios voltassem à rotina. Manifestantes destruíram computadores e pintaram com tinta de spray slogans anti-extradição em escritórios do governo.
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