Reunião de cúpula

Trump ataca países aliados ao chegar ao Japão para o G-20

Antes de desembarcar em Osaka, o presidente americano criticou o Japão, a Alemanha e a Índia; ele reclamou que, de acordo com cláusulas de tratados preexistentes, se os EUA fossem atacados, o Japão apenas "assistiria em uma televisão da Sony"

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
Presidente dos Estados |Unidos, Donald Trump desembarca em Osaka para a reunião do G-20
Presidente dos Estados |Unidos, Donald Trump desembarca em Osaka para a reunião do G-20 (AFP)

OSAKA, Japão - Ao chegar ao Japão ontem, 27, para a reunião do G-20 , Donald Trump repetiu o comportamento que exibiu em sua última viagem internacional: atacou os aliados dos Estados Unidos , incluindo seu país anfitrião, pouco antes de conversarem sobre questões fundamentais, como segurança e comércio.

Antes e durante sua viagem para a reunião de cúpula das 20 maiores economias do mundo, Trump criticou o Japão, a Alemanha e a Índia. Ele reclamou que, de acordo com cláusulas de tratados preexistentes, se os Estados Unidos fossem atacados, o Japão apenas "assistiria em uma televisão da Sony". O líder americano também acusou a Alemanha de se aproveitar dos EUA e repreendeu a Índia por aumentar as tarifas a produtos americanos.

A escolha dos alvos parece ter sido estratégica, levando em conta a agenda do presidente para esta sexta-feira. Trump deverá ter uma reunião individual com o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, anfitrião do G-20, seguida por um encontro conjunto com Abe e Narendra Modi, premier indiano. Logo após, o presidente americano conversará exclusivamente com Modi e, por último, com a chanceler alemã Angela Merkel.

Trump, por outro lado, não disse nada negativo sobre Vladimir Putin, o quarto líder que encontrará hoje, 28, suspeito de conduzir uma campanha sistemática para interferir nas eleições americanas de 2016. Recentemente, dois cidadãos americanos foram presos na Rússia, sob acusações consideradas falsas por críticos do Kremlin.

O presidente americano também não fez críticas ao líder com quem tomará café da manhã de sábado, 29, o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman. Na semana passada, a ONU disse ter " provas confiáveis " de que Bin Salman está envolvido no assassinato e esquartejamento do jornalista dissidente Jamal Khashoggi, que morava nos Estados Unidos.

Ao reservar seus ataques aos aliados dos Estados Unidos, o presidente repetiu o comportamento exibido durante sua visita ao Reino Unido, no início do mês. Na ocasião, quando um repórter mencionou uma crítica que Meghan Markle fez a Trump durante as eleições de 2016, ele disse que não sabia que a duquesa de Sussex era " desagradável ". Ele também chamou o prefeito de Londres, Sadiq Khan, de " fracassado " e o acusou de não administrar bem a capital britânica.

Críticas em série

Em ataques mais recentes, o presidente americano criticou o acordo de defesa mútua que os Estados Unidos têm com o Japão — uma peça fundamental da relação bilateral entre os dois países, que data do fim da Segunda Guerra Mundial. Após notícias divulgadas pela Bloomberg de que Washington teria cogitado sair do tratado durante conversas privadas, Trump comentou o assunto durante uma entrevista na quarta-feira, mesmo sem ter sido perguntado.

"Nós temos um tratado com o Japão", o presidente disse à Fox News. "Se o Japão for atacado, nós vamos lutar a Terceira Guerra Mundial. Nós vamos entrar e protegê-los, vamos lutar com nossas vidas e com nossos recursos. Vamos lutar a qualquer custo, certo? Mas se nós formos atacados, o Japão não precisa nos auxiliar de maneira nenhuma. Eles poderão assistir ao ataque em uma televisão da Sony".

Os Estados Unidos assinaram o acordo com o Japão em 1951, após impor uma nova Constituição ao país. O documento proíbe os japoneses de terem um Exército ofensivo, que tenha capacidade além da autodefesa. Pelo tratado, os americanos garantiram o direito de manter soldados no Japão, onde mantêm bases militares. Em troca, os Estados Unidos prometeram defender o país asiático em caso de ataque.

Em Tóquio, Yoshihide Suga, porta-voz do governo japonês, rejeitou as acusações de Trump de que o tratado é injusto. Durante entrevista coletiva, ele disse que "as obrigações dos Estados Unidos e do Japão" são "balanceadas entre os dois países".

Após criticar o acordo com o Japão, Trump repetiu seus ataques à Alemanha:

"Nós bancamos perto de 100% dos custos da Otan", disse o presidente. "As pessoas não sabem disso. Nós pagamos aproximadamente tudo porque a Alemanha não arca com aquilo que deveria pagar e, dos 28 países, sete estão em dia".

Como tem feito desde que chegou ao poder, Trump descaracterizou a maneira como a Otan realmente funciona e deu um número falso sobre a contribuição americana para a aliança militar. O grupo tem orçamento para cobrir custos civis e militares e os Estados Unidos são responsáveis por apenas 22% do total, segundo fórmulas baseadas na renda dos países-membros. Nenhum dos participantes está com suas contribuições atrasadas.

Trump, na realidade, se referia a um compromisso estabelecido pelos integrantes da Otan para que cada país invista 2% de sua renda em suas próprias forças armadas até 2024. O presidente não estava completamente enganado quando disse que apenas sete países atingiram essa meta até o momento — os Estados Unidos, com 3,4%, a Grécia, a Estônia, o Reino Unido, a Romênia, a Polônia e a Letônia. A Alemanha destina apenas 1,4% de seu Orçamento à defesa, mas nem Merkel ou qualquer outro líder são obrigados a pagar pelas forças militares de qualquer país que não o seu.

Coletivamente, as despesas estimadas em defesa de todos os países da Otan chegam a US$ 1 trilhão, de acordo com uma atualização divulgada nesta semana. Os gastos de defesa dos Estados Unidos representam 70% do total do grupo — e não 100%— e mesmo esta conta não se restringe unicamente à defesa da Europa, incluindo despesas com forças militares americanas no Pacífico e no Oriente Médio.

Premier indiano

O ataque de Trump ao premier indiano não foi focado em questões de segurança, mas em outro tópico que agrada ao presidente: tarifas.

"Eu espero com ansiedade para conversar com o primeiro-ministro Modi sobre o fato de que a Índia, há anos, impõe tarifas muito altas aos Estados Unidos, recentemente as aumentando ainda mais", o presidente americano tuitou do Air Force One, enquanto sobrevoava o Oceano Pacífico. "Isso é inaceitável e as tarifas devem ser retiradas!"

O que Trump não disse em seu tuíte é que a Índia aumentou as tarifas em 28 categorias de produtos exportados para os Estados Unidos porque a Casa Branca decidiu aumentar as taxas sobre a importação de alumínio e ferro indianos. Em maio, o presidente americano também revogou um status especial concedido ao país asiático que permitia isenções tarifárias de até US$ 5,6 bilhões nos produtos importados pelos EUA.

Logo após pousar em Osaka, um jantar com o primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, estava programado na agenda de Trump. Em contraste com seus comentários referentes aos outros líderes mundiais, o líder americano defendeu Morrison e a política linha-dura que seu governo tem adotado em relação a refugiados e solicitantes de asilo. Em um tuíte, Trump postou quatro imagens com frases como "De jeito nenhum" e "Vocês não farão da Austrália sua casa".

"Estes panfletos mostram a posição australiana contra a imigração ilegal", disse Trump. "Muito pode ser aprendido!"

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