Artigo

Jogo de mulher

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24

As melhores notícias do mundo dos esportes este ano foram a realização da Copa do Mundo de futebol feminino na França e o imenso interesse despertado pela competição no Brasil. Claro, as transmissões das partidas pelas redes de televisão, nos canais abertos e nos pagos, contribuíram muito com o sucesso da competição aqui e no mundo todo.

Acompanhei toda a trajetória de vitórias do Brasil no jogo masculino. Em 1958, quando eu tinha dez anos de idade, vencemos a primeira Copa. De lá até aqui, fomos os vencedores 5 vezes, mais do que qualquer outro país, vice 2 vezes, 3º lugar 2 vezes e 4º, duas vezes. Ficamos, portanto, 11 vezes entre os 4 primeiros, nas 20 disputadas até agora. Se acrescentarmos os 4 quintos lugares, chegamos a um número fantástico: 15 vezes entre os 5 primeiros em 20 edições do torneio. Participamos de todas elas, a única seleção a fazê-lo. Já na de 1938, vencida pela Itália, chegamos ao final em 3º lugar e tivemos o artilheiro da competição, Leônidas da Silva, seguramente um dos melhores jogadores de futebol do Brasil em todos os tempos e inventor da bicicleta. Ainda hoje, existe um chocolate, Diamante Negro, assim chamado em sua homenagem, pois dessa forma Leônidas era conhecido.

Apresento esses dados, com o objetivo de mostrar o enorme potencial do futebol feminino. Se os homens fizeram, as mulheres também o farão. Nossa equipe já pode ser considerada do grupo de elite. Afinal, em 7 Copas, entre 1991 e 2015, ficamos em 2º lugar em 2007 e 3º em 1999. Os bichos-papões, porém, atendem pelos nomes Estado Unidos, campeões em 1991, 1999 e 2015, e Alemanha, campeã em 2003 e 2007.

Temos uma condição necessária, embora não suficiente, favorável ao esporte. É o tamanho da população. Todas as potências do futebol - Brasil, Argentina, Alemanha, Itália e França - têm populações grandes e, também, uma segunda condição necessária: milhares, ou milhões de praticantes. Da quantidade, acaba saindo a qualidade, na forma dos grandes craques: os leônidas, helenos de freitas, pelés, romários, ronaldos, neymares. Aqui no Brasil, precisamos, portanto, massificar a prática do esporte entre as mulheres e criar um campeonato profissional nacional atrativo para o torcedor. Surgirão mais martas, cristianes e formigas.

O jogo delas é exemplar em vários aspectos. Nele não se vê aquelas quedas cinematográficas tão característica dos homens. Estes, ao receberem as faltas mais inofensivas, saem rolando no campo. Me dão a impressão de pretenderem ir em direção ao vestiário, tomar um banho quente e correr para a balada. Os gritos, quando os zagueiros adversários tocam suas frágeis pernas, me me levam a pensar que sofreram múltiplas fraturas. Se não veem ao menos um cartão amarelo nas mãos do juiz, se levantam, capengam por um ou dois passos e pronto. Já estão recuperados para o fim da batalha. O empurra-empurra, quando da cobrança de escanteios não existe entre as mulheres. Elas não tentam enganar o juiz.

Nenhuma dessas fraudes masculinas se vê na atuação delas. Nem mesmo aquelas rodinhas, surgidas instantaneamente como do nada, de jogadores em volta do juiz, quando uma falta é marcada e de onde são gritadas indignadas reclamações.

Esse comportamento me leva a concluir que futebol é jogo de mulher. Elas são mais educadas, mais honestas na disputa, mais concentradas, e, esteticamente, mais agradáveis de ver.


Lino Raposo Moreira

PhD, economista, membro da Academia Maranhense de Letras


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